EXPERIÊNCIAS ELETRÔNICAS
PUBLICAÇÃO
sábado, 15 de janeiro de 2000
Nelson Sato
De Londrina
A experiência engatinha. Aos poucos, a mistura da tradição musical brasileira com as vertentes eletrônicas internacionais abandona o exotismo e ganha um contorno digerível para o público.
É o que se ouve nos cinco CDs inaugurais do Sambaloco Records, sub-selo da gravadora Trama dirigido pelo DJ Bruno E e voltado para a produção nacional. O pacote traz os títulos Sambaloco Compilation 1 (vários), Progressive 1 Underground Compilation (vários), É Música (Ram Science), Discurso (Bruno E) e Sarau (XRS Land).
Todos os DJs e produtores reunidos são figurinhas carimbadas no circuito das casas noturnas das capitais. Mas ainda não decolaram fora do meio. Dessa primeira fornada de lançamentos, sobressai o trabalho de Xerxes de Oliveira, DJ paulistano que aqui se apresenta sob o projeto XRS Land. Sarau, seu álbum de estréia no selo, casa drumnbass com harmonias bossa-novísticas.
Inclui inclusive uma citação ao clássico Samba de Uma Nota Só, de Newton Mendonça e Tom Jobim. Quase todas as faixas surpreendem, seja pelas texturas ou pelos achados na escolha dos samples. Xerxes é o capeta. Acaba de inventar a bossanbass.
Menos estimulante, mas também criativo nas composições, Bruno E combina ritmos nordestinos com batidas quebradas e timbres distorcidos em Discurso. Passeia pelo hip-hop em Pilantra, rock em Mr. Pharmacist e ethereal music em Diamond Larmes (faixa bônus de Vladimir Safatle na voz de Fabiana Lian). Mas é no diálogo com vocais repentistas e sonoridades regionais que o álbum inova. Bruno E reúne samples da Banda de Pífaros de Caruaru, Quinteto Violado, grupo Zambo e Beijar-Flor e Treme-Treme.
Desses últimos, empresta a Embolada das Meninas para jogar Odete, Marinete, Rosinete e Berenice numa avalanche de batidas nervosas. A faixa vale a aquisição do disco. Completando a trinca de álbuns-solo, o já consagrado DJ e produtor Ramilson Maia debuta no selo a bordo do Ram Science, um de seus inúmeros projetos.
Em É Música!, acena para o techno ortodoxo. Aqui, o bumbo reto soa monótono na maioria das faixas. O DJ, festejado aqui e ali pelos colunistas especializados, parece empalidecer diante das experimentações dos colegas. Na comparação, seu disco é o menos ousado do pacote. Já entre as duas coletâneas, a Sambaloco Compilation é a que sai-se melhor com destaque para o big beat promovido pelo DJ Muchacho Alves em Calipso, a fusão de jazz e drumnbass costurada pelo Drumagick em Metromorfose e a versão trip-hop do clássico As Rosas Não Falam (de Pixinguinha) urdida pelo projeto Itamaraty.
Além dos CDs, estão sendo lançados quatro singles em vinil, dirigidos a DJs para serem tocados e remixados nas pistas. O próximo lançamento é o trabalho do DJ paulistano Patife. Devagar, ainda na moita, a música eletrônica pulsa.Um pacote de cinco CDs inaugura o Sambaloco, sub-selo da gravadora Trama voltado para música eletrônica nacional
ReproduçãoReproduçãoXerxes de Oliveira (XRS Land): harmonias de bossa nova com batidas de drumnbassReproduçãoSarauReproduçãoSambaloco CompilationReproduçãoProgressive 1 Underground CompilationReproduçãoÉ Música!, de Ram ScienceReproduçãoDiscurso, de Bruno E