Estreia o filme 'Robô Selvagem', pronto para o Oscar
Nos cinemas de Londrina, o filme é uma obra-prima visual que não é somente divertida, mas comovente e reflexiva
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 09 de outubro de 2024
Nos cinemas de Londrina, o filme é uma obra-prima visual que não é somente divertida, mas comovente e reflexiva
Carlos Eduardo Lourenço Jorge/ Especial para a FOLHA

Baseada em série de best-sellers escritos por Peter Brown, a adaptação de “Robô Selvagem” foi escrita e dirigida por Chris Sanders, e tem absolutamente todos os ingredientes para ser o grande hit da temporada, e para todas as idades. “The Wild Robot” é centrado em uma robô que, depois de uma acidente de jornada, fica presa em uma ilha deserta (mas habitada por enorme e impagável fauna) e se transforma em guardiã de um jovem ganso órfão.
Os filmes de Sanders (“Lilo & Stich”, “Como Treinar seu Dragão” , “Os Croods”, “O Chamado da Floresta”) são marcados pelo idealismo de imaginar um mundo de harmonia e conexão entre espécies, colidindo com a realidade de sua dureza e crueldade, e o espaço intermediário onde o cineasta localiza esse anseio. Agora, na agitação de “Robô Selvagem” em um futuro próximo, o desejo de Sanders de descobrir significado e cuidado mútuo entre os seres parece ainda mais urgente.
A história começa com um robô – unidade Rozzum 7134 (ou Roz, como passa a ser conhecida – indo parar em uma ilha coberta de florestas habitadas apenas por animais selvagens, governados por instinto. A máquina, artificialmente inteligente, não consegue processar a ideia de que não precisa fazer nada num ambiente que funciona muito bem nos seus próprios termos, sem a intromissão de uma entidade corporativa destinada a ver todos os seres vivos como potenciais clientes.Sanders arranca piadas inteligentes deste cenário, mesmo depois de o robô ter digerido e aprendido todas as línguas dos animais e ainda não encontrar nenhuma tarefa a ser concluída e nenhum cliente para satisfazer. A maioria dos animais, compreensivelmente, vê esta criatura estranha como uma possível ameaça, mas ela está apenas tentando fazer o seu trabalho e cumprir o seu propósito.
Ao ser espancada na floresta por outros animais e tentando manter a sua própria sobrevivência, Roz acidentalmente esbarra em um ninho de ganso, quebrando irremediavelmente todos os ovos. Menos um. Vendo que ainda há vida lá dentro e agindo de acordo com sua programação robótica para não causar nenhum dano deliberado a nenhum ser vivo, ela o mantém fora do alcance de predadores,
principalmente da travessa raposa Fink , com quem faz amizade. E quando a casca começa a rachar, a primeira coisa que o pequenino lá dentro vê é a cabeça bulbosa gigante de Roz, fazendo com que o gansinho tenha uma impressão maternal da robô. E, sobrenaturalmente, a linha entre um robô que descobre um cliente-alvo para quem executar tarefas, e um ser vivo com quem se relacionar e proteger profundamente torna-se irrevogavelmente nebulosa.

DISCURSO SOBRE A PATERNIDADE
Enquanto Roz e o ganso órfão trabalham para completar a tarefa de prepará-lo para migrar para o outono, eles são vistos como aberrações da natureza, com a crescente marginalidade do ganso agravada pelo fato que ele sempre seria o “gansinho feio” de sua família, independentemente da presença de Roz na ilha. Se ela não tivesse começado a cuidar dele, ele morreria de qualquer maneira. Simplesmente não ajuda o fato de ele ser um intelectual agora, falando na mesma sintaxe computacional seca de sua mãe adotiva.
Os pontos mais fortes do filme residem em seu discurso ironicamente simples sobre a paternidade, que ele, filme, vê como uma combinação de instinto (contextualizado como “programação”), improvisação e conexão profunda. E, como diz Roz, descrevendo o que ela pensa quando vê a tarefa em suas mãos, uma “obrigação esmagadora”. E embora a antropomorfização da inteligência artificial seja um território bem conhecido, “The Wild Robot” está ligado aos conceitos de paternidade e muito mais, de maneiras que parecem consistentemente frescas e pulsam com a vida. Não é apenas um filme sobre um pai cujo papel foi atribuído a eles, nem apenas um filme
sobre um pária social em busca de pertencimento, nem somente um filme sobre a natureza da autoconsciência e da negociação entre natureza e criação. É uma união poderosa dos três, remendada com um espírito amoroso e independente.
O idealismo de Sanders por um mundo onde um certo tipo de selvageria possa ser domesticado é certamente uma aspiração, e seu conjunto de criaturas da floresta é todo desenhado com amor, especialmente quando fornece conselhos aos pais.
O filme tem três momentos bem definidos como dramaturgia: o primeiro vai deixar a o espectador sem palavras, o segundo vai amolecer (sem derreter...) seu coração e o terceiro deixará o folêgo em suspenso com sua ação, seus inspiradores atos de sacrifício e um desfecho um pouquinho úmido, mas glorioso.

