A mudança de um ano para outro sempre gera uma certa expectativa, sem contar nos planos para o futuro, com a gente sempre buscando deixar as más energias no ano que passou e tentando trazer boas energias para o ano que se inicia. Pensando nisso, a FOLHA conversou com a doutora em psicologia Cláudia Yaísa Gonçalves da Silva, pela USP (Universidade de São Paulo) e autora dos livros "Esperança e Fases da Vida", escrito em parceria com Ivonise Fernandes da Motta, e "Esperança e Contextos de Sáude", ambos publicados pela editora Ideias e Letras.

Qual a importância da positividade na virada do ano?

Mais importante do que pensamentos positivos, vale mantermos uma atitude positiva perante a vida. O final do ano é uma época em que as pessoas procuram reavaliar as suas vidas, escolhas e buscam traçar metas para o ano que terá início. É uma boa oportunidade para renovar o sentimento de esperança, refletindo o que vale a pena na vida e sobre o que faz sentido na nossa existência, apesar das dificuldades.

O que significa esperança?

A esperança é o sentimento que nos move em direção ao futuro, a acreditar que o que está por vir pode ser diferente e melhor do que vivemos hoje. Trata-se da capacidade de confiar e acreditar que podemos ser agentes na construção e na transformação de mudanças, a partir do gesto e da ação. Ou seja, não é um esperar passivo, mas sim nos colocarmos como sujeitos ativos em relação à vida.

Há alguma conclusão no seu estudo sobre a esperança?

Sim. Fizemos um estudo com adolescentes que se encontravam em proteção social residindo em um SAICA (Serviço de Acolhimento para Crianças e Adolescentes). Vimos que, apesar das situações de violências e negligências que as adolescentes vivenciaram, a esperança lá habitava e era resgatada a partir de alguns fatores, como: apoio social, convivência comunitária, frequência à escola, vínculos afetivos com os educadores da instituição e possibilidade de terem uma madrinha ou padrinho afetivo. Estes foram alguns fatores moderadores de esperança que identificamos na pesquisa. Entendemos que a sensação de apoio, segurança, confiança e pertencimento nas relações interpessoais, facilitam a manutenção da esperança.

Cláudia Yaísa Gonçalves da Silva: Ter esperança não é viver sem problemas, mas encontrar saídas em meio às limitações que são impostas"
Cláudia Yaísa Gonçalves da Silva: Ter esperança não é viver sem problemas, mas encontrar saídas em meio às limitações que são impostas" | Foto: Thais Rosa/ Divulgação

Por que algumas pessoas têm esperança e outras não?

Entendemos que o nível de esperança é variável. A esperança tem relação com as experiências que temos com o mundo, também com a influência que recebemos por parte do ambiente que crescemos, das pessoas que foram nossas referências de cuidado no meio familiar e da qualidade das nossas relações. Então, é fato que as condições sociais, ambientais e econômicas possuem impacto no nível de esperança. O que muitas vezes observamos atualmente é uma esperança descolada da realidade possível, um pouco idealizada e passiva. Por isso, algumas pessoas se frustram, esperam alcançar algo excepcional, porém esquecem que a vida possui adversidades e que precisamos aprender a ponderar o que é possível dentro do contexto vivido. Ter esperança não é viver sem problemas, mas encontrar saídas em meio às limitações que são impostas.

Qual a importância da esperança na nossa vida?

A esperança é uma força que nos impulsiona a seguir em frente, mesmo em meio às situações difíceis e aos desafios da vida. Ao nos posicionarmos de modo esperançoso frente à realidade, temos a possibilidade de encontrar caminhos para o enfrentamento dos problemas. A capacidade de preservarmos a esperança nos ajuda a enfrentarmos os desafios e planejarmos ações no sentido de uma mudança. Portanto, é um fator protetivo em saúde mental, porque está associada à resiliência, ao bem-estar e às expectativas positivas quanto ao futuro.

Você tem alguma dica para começar o ano com mais esperança?

Aproveite o início do ano para reavivar o que realmente tem valor na sua vida. Antes de se comparar com outras pessoas, lembre-se e valorize a sua história, o percurso que você trilhou e pense no que você pode colocar em prática neste novo ano para ser melhor. Faça metas possíveis dentro da realidade que você se encontra, alinhando as expectativas. Assim você poderá celebrar cada degrau alcançado.

* Supervisão: Célia Musilli/ Editora

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