Escritora indígena Eliane Potiguara está em Londrina
Pioneira na literatura indígena no Brasil discute ancestralidade e luta pelos direitos dos povos originários no Sesc Mulheres no Cadeião
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 06 de março de 2025
Pioneira na literatura indígena no Brasil discute ancestralidade e luta pelos direitos dos povos originários no Sesc Mulheres no Cadeião
Pamela Destacio/ Especial para a FOLHA

O Sesc Londrina Cadeião recebe nesta sexta-feira (7) a escritora, poeta e ativista Eliane Potiguara, pioneira na literatura indígena brasileira, para o bate-papo "Mulheres Originárias." O encontro acontece das 19h às 21h e será mediado pela artista e produtora cultural londrinense Juuara Juareza.
A atividade integra a 5ª edição do projeto "Sesc Mulheres no Cadeião", que celebra o protagonismo feminino na construção sociocultural do Brasil neste mês de março. O evento é gratuito e aberto ao público, com a sugestão de doação de um item de higiene feminina para campanha solidária da instituição.
Com uma agenda repleta de palestras, debates, bate-papos, oficinas e apresentações artísticas, o "Sesc Mulheres" começou na quinta-feira (6) e segue até o dia 14.
A programação aborda temas contemporâneos sob a perspectiva de mulheres que atuam no setor cultural brasileiro, a fim de promover reflexões sobre arte, sociedade e diversidade.
LUTA PELOS POVOS INDÍGENAS
Nascida no Rio de Janeiro em 1950, Eliane Lima dos Santos é uma das maiores vozes da literatura indígena no Brasil e uma incansável defensora dos direitos dos povos originários.
Sob o pseudônimo Eliane Potiguara, em referência à sua ancestralidade, ela construiu uma carreira com importantes destaques, marcada pela escrita, educação e militância.
Formada em Letras e Educação pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), dedicou-se desde cedo à causa indígena. Em 1988, fundou o GRUMIN (Grupo Mulher – Educação Indígena), a primeira organização voltada para a educação e o fortalecimento das mulheres originárias no Brasil. Ao longo de sua trajetória, participou de diversas lutas e movimentos internacionais, sendo também uma das fundadoras do ECMIA (Enlace Continental de Mujeres Indígenas de las Americas) e umas das 52 brasileiras indicadas ao projeto “Mil Mulheres para o Prêmio Nobel da Paz”.
Em 1990, foi a primeira mulher indígena a apresentar uma petição na ONU (Organização das Nações Unidas) durante o NCAI (Congresso Nacional dos Indígenas Americanos), no Novo México (EUA), e fez parte do comitê que elaborou a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, em Genebra, na Suíça.
Seu reconhecimento também inclui o título de Cavaleiro da Ordem ao Mérito Cultural, concedido pelo governo brasileiro em 2014, e o título de Doutora Honoris Causa pela UFRJ em 2021, tornando-se a primeira mulher indígena a receber essa distinção no Brasil.

LITERATURA COMO RESISTÊNCIA
Autora de dez livros, Eliane Potiguara se destacou na literatura com a publicação de "Metade Cara, Metade Máscara", em 2004, pela Grumin Edições. Ela é considerada a primeira escritora indígena do Brasil, com escritos marcados por poesias e narrativas que retratam a história, os desafios e a resistência dos povos originários.
“Meus textos foram e são ecos dos sussurros das ancestrais, das avós, mães, tias que tiveram que calar para não serem mortas diante da neocolonização dos últimos séculos de dor para nós”, conta Potiguara, que encontrou na própria família, apesar das dificuldades, a inspiração necessária para abrir caminhos para outras vozes originárias. “Meu compromisso é difundir a literatura e a criação literária para as mulheres indígenas, para que elas possam escrever suas próprias experiências”, afirma.
Além de sua produção literária, ela segue participando ativamente de seminários, feiras literárias e palestras, sendo uma das figuras mais influentes na luta pela visibilidade, educação e inserção da mulher indígena nos diversos setores da sociedade.
Para a FOLHA, Potiguara compartilha seu sentimento sobre a oportunidade de estar em Londrina, pela primeira vez, para participar de um evento que celebra o Dia Internacional da Mulher, a convite do Sesc. “É uma honra estar aqui. É aprender também. Como escritora e ativista, busco contribuir com o meu país pelos direitos humanos de todas as mulheres brasileiras e do planeta”, conclui.
SERVIÇO
Bate-papo “Mulheres Originárias”, com Eliane Potiguara e mediação de Juuara Juareza
Quando: nesta sexta-feira (7), das 19h às 21h
Onde: Sala de Espetáculos do Sesc Londrina Cadeião (R. Sergipe, 52 - Centro)
Quanto: gratuito; contribua com a doação de um item de higiene feminina para a campanha
solidária da instituição.

