Célia Musilli
De Londrina
Mais de meio século depois da colonização do Norte do Paraná, a garra dos pioneiros que não tinham medo de nada serve de argumento para um filme que deverá mesclar história, aventura e romance. Domingos Pellegrini assinou esta semana o contrato de cessão de direitos autorais para que o livro ‘‘Terra-Vermelha’’ seja adaptado para o cinema. Os direitos foram vendidos por R$ 50 mil, sendo que 20 por cento do valor serão investidos na produção da fita, o que transforma o escritor num quotista do empreendimento, com participação nos lucros da bilheteria.
Antes de assinar o contrato, Domingos Pellegrini tinha recebido outras duas propostas para transformar o livro em filme, mas não teve pressa. Para ele, mais do que faturar com os direitos autorais, importa a divulgação da obra. ‘‘O livro chegar às telas é um grande marketing - diz - desde que a adaptação seja bem feita’’.
Ele ainda não sabe quem irá dirigir o épico que conta a história da construção de Londrina a partir das reminiscências de José, personagem-chave junto com Tiana de uma epopéia baseada em fatos reais. De acordo com o contrato, Pellegrini deverá autorizar a indicação de um nome para dirigir o filme. Ele citou Walter Salles e Ruy Guerra como cineastas de sua preferência.
Num exercício de imaginação, o escritor situou alguns trechos do livro como pontos que podem ser realçados pela linguagem cinematográfica. Entre eles, a travessia de balsa do rio Tibagi pelos desbravadores; o concurso de cortadores de cana - que acirra a disputa entre moradores de Capivari e Rafard, duas comunidades rivais - e a passeata das prostitutas em Londrina já nos anos 70 quando, à força, as autoridades mudaram o local da zona de meretrício.
Imagens fortes, sem dúvida, de um romance que exigiu fôlego para ser escrito - o livro tem 512 páginas - e que deve dar trabalho para ser adaptado sem grandes perdas para, no máximo, três horas de projeção. Pellegrini não esconde sua preferência por uma fita enxuta, com cerca de duas horas.
Ele ainda lembra que o romance é todo estruturado em rituais e celebrações - de nascimento, namoro, casamento, morte - além de remeter à união de pessoas que lutam para sobreviver em condições adversas da natureza e enfrentam situações difíceis na política e na economia. ‘‘Qualquer um destes eixos - explica - pode funcionar bem no cinema.’’
Para fazer José, herói da narrativa que aparece como um tipo de personalidade forte e extremamente protetor, o escritor sugere alguém como Carlos Alberto Riccelli. No papel de Tiana, na sua fase madura, ele imagina Sônia Braga ‘‘a típica morena brasileira, que tem tudo a ver com a minha personagem’’.
Quanto às locações, ele não dúvidas. O filme deve ser produzido no Norte do Paraná com um distrito rural de Londrina servindo de cidade cenográfica, com as casas de madeira ainda em pé e outras de palmito que podem ser construídas. Além disso, a terra vermelha existe em poucas regiões do Brasil e está presente aqui, como um recurso vivo da paisagem que permeia toda a narrativa. Com estes elementos, a epópeia deve aderir às telas de maneira convincente e absoluta, como o barro nas botas dos pioneiros que não tinham medo de nada.

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