Divulgação‘‘Traffic’’:filme de Steven Soderbergh é impregnado de amargo realismo




Traffic – Não deve levar, mas é o melhor entre os cinco candidatos ao Oscar máximo que será entregue no dia 25. É uma visão épica do tráfico de drogas, longe de qualquer discurso maniqueísta. Steven Soderbergh fez um grande filme, impregnado de amargo realismo, lúcido, sem ideologias, longe da América triunfante, em sintonia com nossa época. Em três relatos sobre as rotas da droga, uma lição de ótimo cinema. ••••
Billy Ellitot – Mais um bom flagrante das diferenças que sevem ser respeitadas num meio dominado por estereópicos culturais. O garoto Billy, filho de áspero mineiro em greve, treina box mas gosta mesmo é de dançar. Animado pela professora e disposto a enfrentar a família em crise, Billy cresce para seu ideal. Com emoção e humor, o filme do estreante Stephen Daldry renova o gênero da comédia social à inglesa, flertando com sucessos recentes como ‘‘Ou Tudo ou Nada’’. •••
O Observador – Desde já Keanu Reeves é candidado a pior ator do ano como o serial killer que mata garotas em Chicago, para desespero do ex-agente do FBI, James Spader. Cópia rudimentar de ‘‘Os Sete Crimes Capitais’’, o filme está na linha de frente estúpido e inútil a que se assiste com consternação. A direção é a primeira do videoclipeiro Joe Charbanic. •
Dançando no Escuro – Bem menos dogmático, Lars von Trier acabou levando a Palma de Ouro em Cannes-2000 com este tecnomelodrama sobre operária tcheca cega e idealista (Bjork) que caminha para a tragédia. Há momentos sublimes nas homenagens a musicais hollywoodianos, mas há banalidades que só mesmo um presidente de júri como Luc Besson poderia avalizar. •••
Os Reis do Iê-Iê-Iê – Refrescante, inovadora, hilária, esta comédia realizada há 36 anos ainda tem muito a ensinar a estilistas de ocasião. O filme contas as peripécias de John, Paul, George e Ringo, aliás os Beatles, durante um dia e meio enquanto fogem dos fãs enlouquecidos e tentam aparecer ao vivo num programa televisivo. O diretor Richar Lester combinou surrealismo, cinema-verdade, imrãos Marx, Fellini, Godard e Buster Keaton. O resultado, embalado pela música do quarteto, é um dos filmes mais inventivos dos anos 60. ••••
O Tigre e o Dragão – Artes marciais com neurônios da ponta da espada. Se fazia falta uma evidência mais contundente do talento multifacetado do diretor Ang Lee (‘‘Razão e Sensibilidade’’, ‘‘Tormenta no Gelo’’, ‘‘O Banquete de Casamento’’, ‘‘Comer, Beber, Viver’’), este seu novo filme o confirma não só como diretor em constante evolução como um dos artistas que melhor souberam conjugar e potencializar estéticas, temáticas e sistemas de produção tão diferentes como os de Hollywood e os do cinema asiático. ••••


Divulgação‘‘Poucas e Boas’’:obra de Woody Allen transita entre a suavidade e a melancolia








Poucas e Boas – Na linha ‘‘investigativa’’ de ‘‘Zelig’’, Woody Allen – aqui somente na direção – demonstra boa forma nesta comédia com intercorrências dramáticas. Cinebiografia fictícia do guitarrista Emmet (Sean Penn), que vive à sombra de seu ídolo, o mago da guitarra Django Reinhardt. O filme é bem como seu título original (‘‘Sweet and Lowdown’’), suave e melancólico. •••
Do que as Mulheres Gostam – Ao contrário do que o título sugere, esta comédia simpática e elegante se preocupa menos com os desejos femininos do que com a dificuldade que têm certos homens de assumir a masculinidade. Machista a princípio, travestido no decorrer da trama, Mel Gibson trava sutil batalha na guerra dos sexos e dos papéis sexuais. Perde, é claro, mas se diverte estando do outro lado da trincheira. •••
Hannibal – Dez anos fazem diferença, como não? Se ‘‘O Silêncio dos Inocentes’’ era emblemático de uma América no divã, esta continuação chega com interesse reduzido. O que realmente faz falta é a ligação entre a agente Clarice, do FBI, e o dr. Lecter. Jualianne Moore substitui Jodie Foster sem maiores problemas, e Anthony Hopkins não está apenas uma década mais velho mas muitos quilos mais gordo. Ainda assim, o personagem se mantém intrigante pela carga de dualidade entre Bem e Mal. Na balança, pesa bem mais o lado negro. ••
O Exorcista – A quintessência da demonologia cinematográfica. Continua imbatível este diabo que se instala no sótão da casa de atriz Ellen Burstyn, assumindo e literalmente infernizando o corpo adolescente da filha Linda Blair. Vinte e seis anos depois da estréia, a versão que chega agora aos cinemas foi totalmente remasterizada e ganhou de volta 11 minutos considerados de primeira necessidade pelo diretor William Friedkin. Um embate arrepiante e antológico, nas orações e nos braços, entre Satã e monsenhor Max von Sidow. ••••
Chocolate – Não fosse pelas cinco indicações da Academia de Hollywood, a estréia desta simpática e bem narrada fábula sobre a comédia humana, na melhor tradição do cinema clássico francês, talvez caísse num fim de semana em março, quem sabe abril. Mulher misteriosa chega a uma pequena cidade francesa e abre loja para vender chocolates que ela mesma faz. Conquista a população mas atrai a ira do poderoso local. Espécie de conto de fadas na linha gastronômica, privilegiando diversão e reflexão. A ‘‘forasteira’’ Juliette Binoche deve perder o Oscar para Julia Roberts, mas o prêmio mais justo seria para a francesa. •••
Duelo de Titãs – Se você acha que já viu todos os lugares-comuns, não deixe de conferir esta coletânea, baseada em fatos reais ocorridos há 30 anos no sul dos Estados Unidos. Denzel Washington é contratado para treinar os Titãs, time de futebol americano de cidade tipicamente racista. O ex-treinador e outros jogadores brancos são obrigados a aturar Washington. Mas apesar da tensão acabam se unindo para a vitória. A idéia era ser politicamente corrreto, mas o filme resulta ideologicamente confuso e esteticamente nulo. •
Limite Vertical – O filme é um teste para os batimentos cardíacos do espectador, tantas são frequentes as vertigens causadas por uma bateria de efeitos digitalizados. Equipe de montanhistas fica presa no temível K2. Outra equipe tenta o resgate, apesar do mau tempo e das dificuldades. Em meio às peripécias regadas a nitroglicerina, um conflito familiar entre irmão que sacrificou o pai e irmã que foi salva no sacrifício, em outra montanha. Previsibilidade é o que não falta. Recomenda-se assistir entre as refeições. ••
Náufrago – Embora hesitante e insatisfatório no desenlace, esta história do acerto de contas entre civilizado e civilização numa ilha deserta tem hora e meia de grande e generoso cinema. Como são 144 minutos de extensão, o saldo é até muito positivo. Aos 45 anos, Tom Hanks prova uma vez mais que é ator cinematográfico por excelência. Sua solitária intimidade com a câmera o coloca entre os melhores de uma geração que não tem lá muitos eleitos. •••
A Fuga das Galinhas – O melhor presente que o exibidor poderia oferecer para encerrar ano, século e milênio. Animação à moda antiga, com personagens moldados em silicone e látex. Lideradas pela valente Ginger, galinhas tentam fugir de granja para não virar recheio de torta. Bela homenagem às mulheres, à liberdade e a clássicos do cinema, como ‘‘Inferno 17’’ e ‘‘Fugindo do Inferno’’. Arte e diversão em perfeita harmonia. •••••
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