Divulgação‘‘Hannibal’’:depois de dez anos, Anthony Hopkins volta a dar vida ao intrigante personagem









Hannibal – Dez anos fazem diferença, como não? Se ‘‘O Silêncio dos Inocentes’’ era emblemático de uma América no divã, esta continuação chega com interesse reduzido. O que realmente faz falta é a ligação entre a agente Clarice, do FBI, e o dr. Lecter. Jualianne Moore substitui Jodie Foster sem maiores problemas, e Anthony Hopkins não está apenas uma década mais velho mas muitos quilos mais gordo. Ainda assim, o personagem se mantém intrigante pela carga de dualidade entre Bem e Mal. Na balança, pesa bem mais o lado negro. ••
O Tigre e o Dragão - Artes marciais com neurônios da ponta da espada. Se fazia falta uma evidência mais contundente do talento multifacetado do diretor Ang Lee (‘‘Razão e Sensibilidade’’, ‘‘Tormenta no Gelo’’, ‘‘O Banquete de Casamento’’, ‘‘Comer, Beber, Viver’’), este seu novo filme o confirma não só como diretor em constante evolução como um dos artistas que melhor souberam conjugar e potencializar estéticas, temáticas e sistemas de produção tão diferentes como os de Hollywood e os do cinema asiático. ••••



Divulgação‘‘O Exorcista’’:clássico retorna às telas, agora com acréscimos de cenas inéditas





O Exorcista - A quintessência da demonologia cinematográfica. Continua imbatível este diabo que se instala no sótão da casa de atriz Ellen Burstyn, assumindo e literalmente infernizando o corpo adolescente da filha Linda Blair. Vinte e seis anos depois da estréia, a versão que chega agora aos cinemas foi totalmente remasterizada e ganhou de volta 11 minutos considerados de primeira necessidade pelo diretor William Friedkin. Um embate arrepiante e antológico, nas orações e nos braços, entre Satã e monsenhor Max von Sidwow. ••••
Chocolate – Não fosse pelas cinco indicações da Academia de Hollywood, a estréia desta simpática e bem narrada fábula sobre a comédia humana, na melhor tradição do cinema clássico francês, talvez caísse num fim de semana em março, quem sabe abril. Mulher misteriosa chega à uma pequena cidade francesa e abre loja para vender chocolates que ela mesma faz. Conquista a população mas atrai a ira do poderoso local. Espécie de conto de fadas na linha gastronômica, privilegiando diversão e reflexão. A ‘‘forasteira’’ Juliette Binoche deve perder o Oscar para Julia Roberts, mas o prêmio mais justo seria para a francesa. •••
Contos Proibidos do Marquês de Sade – O diretor Philip Kaufman, calejado no inventário existencial de personagens de filmes anteriores (‘‘A Insustentável Leveza do Ser’’, ‘‘Henry e June’’) conseguiu aqui a fórmula, se não ideal, pelo menos a possível, para o equilíbrio entre as coisas do corpo (sexo e perversões ‘‘sádicas’’) e do espírito (a luta desesperada pela liberdade de expressão). Cinebiografia bem aceitável sobre os últimos dias do controvertido aristocrata. Há possibilidade de Oscar. •••
Duelo de Titãs – Se você acha que já viu todos os lugares-comuns, não deixe de conferir esta coletânea, baseada em fatos reais ocorridos há 30 anos no sul dos Estados Unidos. Denzel Washington é contratado para treinar os Titãs, time de futebol americano de cidade tipicamente racista. O ex-treinador e outros jogadores brancos são obrigados a aturar Washington. Mas apesar da tensão acabam se unindo para a vitória. A idéia era ser politicamente corrreto, mas o filme resulta ideologicamente confuso e esteticamente nulo. •
Limite Vertical – O filme é um teste para os batimentos cardíacos do espectador, tantas são frequentes as vertigens causadas por uma bateria de efeitos digitalizados. Equipe de montanhistas fica presa no temível K2. Outra equipe tenta o resgate, apesar do mau tempo e das dificuldades. Em meio às peripécias regadas a nitroglicerina, um conflito familiar entre irmão que sacrificou o pai e irmã que foi salva no sacrifício, em outra montanha. Previsibilidade é o que não falta. Recomenda-se assistir entre as refeições. ••
A Bruxa de Blair 2 - O Livro das Sombras – Lá vão eles de novo, estes jovens curiosos e suas câmeras maravilhosas em busca da mesma bruxa de Maryland que dizimou uma equipe de estudantes de cinema enquanto faziam vídeo-documento sobre estranhos crimes ocorridos na região. Limitado somente a causar efeito sobre adolescentes, o filme deixa de lado a pretensão de ser original e instigante como o primeiro e sai em busca de banalidade e dólares. ••
Entrando Numa Fria – Comédia simpática e frequentemente engraçada sobre enfermeiro apaixonado que tenta pedir a mão da namorada durante fim de semana na casa dos pais dela. De Niro como pai da noiva e ex-agente da CIA rouba a metade das cenas. A outra metade quem leva é Ben Stiller, que a partir de agora deve dividir com Jim Carrey o legado do humor no cinema americano. O diretor Jay Roach surpreende, depois dos descartáveis Austin Powers. •••








O 6º Dia – O velho republicano Schwarzy parece não estar mesmo em seus melhores dias. Depois de brigar feio com o diabo em ‘‘O Fim dos Dias’’, agora entra em sério atrito consigo mesmo, isto é, com seu clone. Que aliás não é uma ovelhinha Dolly qualquer, mas alguém a serviço de um malvado industrial da área biológica, cheio de maquinações. O roteiro bem poderia ousar um pouquinho e flertar com a questão existencial (o acerto de contas do homem consigo mesmo), mas acaba caindo na trivialidade das correrias e dos efeitos especiais. ••
Náufrago – Embora hesitante e insatisfatório no desenlace, esta história do acerto de contas entre civilizado e civilização numa ilha deserta tem hora e meia de grande e generoso cinema. Como são 144 minutos de extensão, o saldo é até muito positivo. Aos 45 anos, Tom Hanks prova uma vez mais que é ator cinematográfico por excelência. Sua solitária intimidade com a câmera o coloca entre os melhores de uma geração que não tem lá muitos eleitos. •••
Gladiador – A força de 12 indicações ao Oscar - filme, ator, direção, etc, avaliza a reprise deste drama histórico. A volta por cima de Ridley Scott (‘‘Alien’’, ‘‘Thelma e Louise’’), ultimamente meio em baixa. No tempo dos Césares, uma história sobre poder, ódio, traição, amor, amizade, sublimação, morte. E sangue, muito sangue nas admiráveis sequências de lutas entre gladiadores no Coliseu, templo do pão e circo. Belo revival de um sub-gênero de ação que marcou época nos anos 50 e 60. •••
Erin Brockovich, Uma Mulher de Talento – Também com a alavanca de cinco nominações ao Oscar, inclusive de melhor atriz, retorna às salas esta história baseada em fatos reais. Julia Roberts é a combativa mulher do título, lutando por uma justa causa ambiental contra inimigos poderosos. A atriz vem ganhando respeito cada vez maior da crítica com papeis em que é mais exigida por diretores talentosos, caso de Steven Soderbergh, também candidato. Atenção para o coadjuvante Albert Finney, outro que pode levar a estatueta. •••
Corpo Fechado – Mais um filme fora do comum assinado por M. Night Shyamalan. Na trilha sobrenatural aberta por ‘‘O Sexto Sentido’’, uma das virtudes notáveis do filme está na decisão radical de abraçar o sofrimento como forma lucida e piedosa de edificar idéias e atingir o conhecimento. Na história de opostos – o super-homem inquebrável e o vulnerável homem de vidro – algumas possibilidades interessantes para extrair lições de vida. •••
A Fuga das Galinhas – O melhor presente que o exibidor poderia oferecer para encerrar ano, século e milênio. Animação à moda antiga, com personagens moldados em silicone e látex. Lideradas pela valente Ginger, galinhas tentam fugir de granja para não virar recheio de torta. Bela homenagem às mulheres, à liberdade e a clássicos do cinema, como ‘‘Inferno 17’’ e ‘‘Fugindo do Inferno’’. Arte e diversão em perfeita harmonia. •••••
Cotação • (fraco) •• (razoável) ••• (bom) •••• (ótimo) ••••• (hors concours)