Maio de 2024. Os prejuízos oriundos das enchentes no Rio Grande do Sul não podem ser avaliados em sua totalidade até o momento. Nem emocionais, nem os materiais. O rastro de destruição em municípios inteiros causa consternação e requer atitude.

De modo consciente, o acontecimento passou a integrar a rotina de alunos de escolas municipais quando, por meio da iniciativa de pais, alunos e professores, seguem ativas as campanhas direcionadas às crianças vítimas das chuvas - e que perderam não apenas o material escolar. Algumas perderam a família, a casa, o animal de estimação e tudo que a elas representava segurança e identidade.

Na prática, desde as primeiras chuvas e notícias de desabrigados, o sentimento de solidariedade tocou os londrinenses de modo que as doações se multiplicaram a cada dia. Cobertores, roupas de cama, fardos de água mineral, alimentos para as pessoas e ração para os pets, colchões, produtos de higiene e limpeza compuseram as entregas.

Cientes de que as necessidades prosseguem e há muito trabalho pela frente, as crianças se colocaram no lugar das vítimas. Por meio de cartas, brinquedos e roupas, atuam como voluntárias nesse movimento de em prol do outro que passa por apuros.

Imagem ilustrativa da imagem Escolas municipais se mobilizam com doações para o Rio Grande do Sul

Do ponto de vista da diretora da Escola Municipal Maestro Andrea Nuzzi, Mercia Maria Cardoso Tavares da Silva, a comunidade escolar se manifestou logo no início das chuvas e a escola chegou a ser ponto de coleta. "Entre mantimentos, água e cobertores, a carta de uma mãe continha uma mensagem de conforto às vítimas.

Nesse momento, alunos da E.M Maestro Andrea Nuzzi dedicam-se a fazer kits escolares aos estudantes riograndenses. "Não podemos mensurar o sofrimento que estão passando e, ao refletir sobre isso e agir, estamos promovendo a educação desses pequenos cidadãos", afirma a diretora. A unidade tem como coordenadora pedagógica Louana Secy Rodrigues de Castro.

Lições de respeito ao próximo, empatia, solidariedade e bondade motivam os alunos da rede municipal de Londrina a fazer suas doações. "Por meio de uma atividade pedagógica também conscientizamos os alunos em relação os cuidados com o ambiente, à proteção de nossos rios e para que lancem os olhos para os outros também, não limitando-se apenas ao que é individual", ratifica a diretora.

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Mais de 378 mil alunos impactados

No total, 461 municípios foram afetados pelas chuvas no RS, sendo que 78.165 pessoas estão desabrigadas e 540.192 ficaram desalojadas. Conforme o governo do Rio Grande do Sul, 82.666 pessoas foram resgatadas. As aulas foram suspensas nas 2.338 escolas da rede estadual e mais de 378 mil alunos foram impactados.

Mais de 1.058 escolas afetadas, 552 danificadas e 89 servindo de abrigo. A tragédia tem sido comparada ao furacão Katrina, que em 2005 destruiu a região metropolitana de Nova Orleans, na Lousiana (EUA), atingiu outros quatro estados norte-americanos e causou mais de mil mortes.

Diante desses fatos, o que está acontecendo nas vidas das pessoas não deixou alheios também os alunos da Escola Municipal Claudia Rizzi, que fica no jardim Parati.

Ações de solidariedade também integram as tarefas de algumas turmas- sem que isso coloque em segundo plano os conteúdos. Para as coordenadoras pedagógicas Paula Nogueira Tanferri e Josiane Rodrigues Barbosa Vioto, práticas como essa são indissociáveis da formação.

E ganham o apoio da diretora, Rosinéia Maria Marques. Os jornais serviram de suporte para a pesquisa dos alunos. "Trouxemos o contexto porque é uma informação sobre a realidade e um fato tão atual como esse e com tantos reflexos não poderia ficar fora da sala de aula", explica Paula Nogueira Tanferri.

Infelizmente, muitas crianças da E.M Claudia Rizzi já viveram situação semelhante por conta das chuvas em Londrina e isso fortaleceu a vontade de ajudar e fazer algo pelas vítimas.

Esperança: a chuva vai passar

Alunos da professora Kelly Regina Inacio Favaro de Souza fizeram cartas que serão enviadas para as crianças do Rio Grande do Sul. A leitura do livro "E a Chuva", da psicóloga clínica Sabrina Führ serviu de referência para a criação das mensagens.

A obra, dedicada aos gauchinhos pela escritora, demonstra que uma simples chuva pode se tornar perigosa. De livre cópia e distribuição, é sugerida para pais, professores e até voluntários em abrigos.

Os sentimentos de tristeza e solidariedade são trabalhados, assim como a esperança, que não deve ser perdida. Afinal de contas, a chuva vai passar. Dessa forma, o livro também coloca em foco a frustração e as perspectivas. Em poucas páginas, a narrativa fala sobre as enchentes, seus danos e as várias emoções que podem surgir.

O livro termina mostrando que paralelamente à catástrofe, há esperança e humanidade, apontando para a rede de solidariedade que foi mobilizada no Brasil para ajudar as vítimas das enchentes.

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Um brinquedo, uma roupa e uma carta

Ainda que a chuva passe e a água abaixe, pessoas precisam de pessoas, Sem deixar a peteca cair, a Escola Municipal Norman Prochet segue com uma ação tão inspiradora como necessária. Vale ressaltar que, embora o volume de doações seja relevante, as necessidades irão perdurar por longo prazo, pois a chuva levou tudo.

Despertar a caridade, a solidariedade e generosidade das crianças é a proposta das gestoras da unidade, que tem como diretora Margarida Cândida Silva Lopes, auxiliar de direção, Maria Amélia Pereira Ferreira e as coordenadoras pedagógicas Gisele Martins Lopes, Glaucimara de Arruda Simon e Sandra Souza Parra. Com ânimo, a proposta de um pacotinho de amor é direcionada às crianças que estão em abrigos.

A sugestão é que o kit contenha: um brinquedo, uma roupa de frio e um par de meias. Para selar o sentimento de empatia, uma carta. "Sabemos que muitas famílias já estão ajudando e por diferentes caminhos. Mas com a colaboração de todos, podemos ainda espalhar amor em momento tão difícil", reflete a a direção.

A iniciativa das cartas partiu das professoras Rosana e Samanta. "O marido de Samanta, Rafael, as fez chegar ao Rio Grande do Sul por meio de uma amiga e então decidimos entender a ideia a mais alunos daqui e, consequentemente, a mais crianças afetadas pela chuva", explica a coordenadora Gisele Martins Lopes.

Jordy com a mãe Edna Duarte
Jordy com a mãe Edna Duarte | Foto: Arquivo Pessoal

Ex-aluno da rede dá exemplo

Ex-aluno da rede municipal, Jordy Guimarães Rosa, 25 anos, segue como voluntário no Rio Grande do Sul. Estudante do último ano de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, o londrinense optou por permanecer em Porto Alegre para fazer o seu papel social.

Sua mãe, a professora aposentada Edna Guimarães Duarte explica que estudou em escola pública a vida toda. "Primeiro na Escola Municipal Miguel Bespalhok e depois no Colégio Estadual Hugo Simas. Jordy pretende fazer especialização em Psiquiatria e por isso se interessou em colaborar. Os desabrigados chegavam molhados e em pânico", relata.

A mãe de Jordy conta que ele é reservado. "Não sente orgulho e nem quer aparecer, mas eu me sinto emocionada com a postura dele em momento tão difícil. "Estive lá em outubro do ano passado. Meu marido se chama João Duarte Costa, é motorista da TCGL", divide.