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Folha 2 5m de leitura

Entre o prêmio e o tapa: a noite do Oscar surreal

O tema do Oscar deste ano era "Movie Lovers Unite", mas para Chris Rock e Will Smith, a noite foi mais dramática do que a Academia planejou

ATUALIZAÇÃO
29 de março de 2022

Carlos Eduardo Lourenço Jorge/ Especial para Folha
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem Entre o prêmio e o tapa: a noite do Oscar surreal

Naquilo que certamente está sendo o momento mais comentado da cerimônia, Smith, o favorito nominado e então já quase melhor ator por "Rei Richard", deu um tapa (o som foi cortado no momento) no comediante no palco, para a estupefação e confusão do público ao vivo e para milhões que seguiam a transmissão pela tevê. A agressão foi em resposta a uma piada que Rock fez sobre a mulher do Smith, Jada Pinkett Smith.

Até a confusão, os indicados e apresentadores pareciam empolgados com o reencontro, com a distância social posta de lado, e a energia e vibração tomando conta do espetáculo. Certamente não era assim que os produtores do queriam colocar os filmes de volta ao centro da conversa cultural.

Mas na verdade aquele tapa foi também para sacudir a audiência e lembrar que, por mais que incidentes semelhantes ocorram ou que os tempos pandêmicos estejam mais próximos do fim, o Oscar permanece estático em forma e conteúdo (principalmente) como quase sempre esteve – não importa o grau de sofisticação hig tech que mostre no

palco. Avanços e conquistas vêm ocorrendo recentemente, sem ú reparando injustiças sociais e proporcionando aquelas inclusões mais do que tardias e necessárias.

Mas...

VALOR INCLUSIVO

O simpático/empático e familiar vencedor CODA, acrônico do inglês Children Of Deaf Adults, é filme com evidente e bem sucedido valor inclusivo: mas enquanto Cinema, “academicamente” falando, não pode ser perfilado a duas obras como “Ataque dos Cães” e especialmente “Drive My Car”.

CODA: apesar do valor inclusivo, filme não pode ser perfilado a obras como "Ataque dos Cães" e, principalmente, "Drive my Car"
 

“Coda” levou um Oscar absolutamente merecido (Troy Kotsur, o melhor coadjuvante), mas levou ainda o de roteiro adaptado (de um filme francês...), uma aberração quando se está diante (a Academia, sempre ela) da majestade do roteiro que Ryusuke Hamagushi e Takamasa Oe escreveram para “Drive My Car”.

Esta edição terminou por volta de uma hora da manhã, pelo menos hora e meia menos que as edições até 2020. Avanço significativo, com ganho de tempo precioso espantando a letargia, a modorra, o mais do mesmo.

Computando os lucros da noite, alguns agradecimentos preciosos, como os de Ariana De Bose, queer e latina, dupla

conquista como coadjuvante em “Amor Sublime Amor”, e Jessica Chastain, sóbria na medida ao falar de solidão, suicidio e e da absurda nova lei que censura a diversidade sexual e de gênero que neste momento os republicanos querem impor na Flórida.

E durante o evento, pouco a pouco cumpriu-se o prometido. “Duna” levou um punhado de estatuetas, seis ao todo, merecidas pela especificidade técnica da bela ficção científica dirigida pelo esquecido Denis Villeneuve. Dois momentos de genuina emoção: Francis Ford Coppola, ladeado pelos escudeiros Al Pacino e Robert De Niro, homenageados pela passagem do cinquentenário de “The Godfarfher”. E uma semi-entrevada Liza Minneli, homenageada pelos 50 anos de “Cabaret” e anunciando o principal Oscar da noite, pela mão de Lady Gaga.

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