A dica preciosa para o final de semana é assistir ao filme "Paixão Segundo G.H." que traz para as telas um dos livros mais complexos e inspiradores de Clarice Lispector.
Para quem não se conforma com diversão restrita à música sertaneja na cidade, ir ao cinema neste sábado pode ser uma "salvação estética".
Protagonizado por Maria Fernanda Cândido no papel da escultora protagonista do livro, o filme dirigido por Luiz Fernando Carvalho consegue o que era considerado uma façanha: transformar em cinema uma obra que traz na literatura a linguagem profunda de um monólogo complexo e lírico que transborda para pontos de inflexão filosófica.



Das delícias aos abismos interiores, o livro que faz da linguagem um sujeito, traz as possibilidades do "ser" humano, na acepção do termo, como herói de uma paixão ou uma via crucis pelo melhor e o pior da existência experimentada pela personagem. Da arte à angústia, do gozo ao nojo, tudo é possível no espaço de um apartamento onde a personagem vislumbra o inferno e o paraíso de existir e pulsar com a vida sem limites. A obra também aponta para questões sociais e da condição da mulher.
O romance conhecido pelo passagem crucial e nauseante da personagem "comer uma barata" pode provocar diversas reações, no cinema o espectador é arrebatado pela interpretação de Maria Fernanda Cândido mergulhada no climax de uma experiência existencialista.

Imagem ilustrativa da imagem Entre o encanto e o assombro, um livro de Clarice Lispector no cinema
| Foto: Divulgação


A barata ou as baratas do filme foram cuidadosamente selecionadas com a ajuda do Instituto Butantã, de São Paulo, que deve ter levado em conta a adaptação da espécie elevada a uma condição artística.
Comer ou não a barata é o núcleo de tensão em torno do qual se constrói a ação e o desenrolar do enredo. A encenação do drama transborda muitas vezes para o teatro, mas é a composição cinematográfica que transporta o espectador para os mundos e fundos da existência, num exercício de linguagem que é pura beleza ou pavor.
Consta que uma espectadora de São Paulo passou mal ao assistir ao filme a ponto de vomitar. Mas é preciso dizer que, muito além da náusea, o filme é uma revelação como toda obra de Clarice Lispector que resplandece sob a direção de Luiz Fernando Carvalho e a interpretação de Maria Fernanda Cândido.
"A Paixão Segundo G.H." está em cartaz neste sábado (13) no Cine Villa Rica, às 17h15, e terá mais uma sessão na quarta-feira (17), às 19h. Pode ser que continue em cartaz - claro que isso também depende do público - mas é melhor não se arriscar a perder o assombro que é assistir a este filme em tempos de fatalidades sertanejas. Trata-se da salvação pelo cinema.