Ribeirão Preto - Se participar do Big Brother Brasil antes rendia, quando muito, convites para festas com cachês mínimos e o espaço menos nobre das colunas de fofoca, com as redes sociais a história mudou, principalmente para as celebridades. Embora às vezes saiam canceladas, elas têm suas carreiras alavancadas pelo programa. É que a crise de imagem, aquela que rende até ameaças de morte, não costuma prejudicar o bolso de ninguém.

Tadeu Schmidt comanda o BBB22 que conta com celebridades como Jade Picon, Brunna Gonçalves e a cantora sertaneja paranaense Naiara Azevedo
Tadeu Schmidt comanda o BBB22 que conta com celebridades como Jade Picon, Brunna Gonçalves e a cantora sertaneja paranaense Naiara Azevedo | Foto: João Cotta/ Globo

A maioria dos famosos que participaram do BBB desde o ano retrasado, quando Boninho passou a convidá-los, ganharam milhões de seguidores nas redes sociais, o que lhes rende ações publicitárias tão lucrativas quanto um trabalho na TV. Mesmo entre os poucos que viram os números caírem, caso de Karol Conká, eliminada com 99,17% de rejeição, o prejuízo tem sido contornável a longo prazo.

O sertanejo Rodolffo, da dupla com Israel, sabe bem disso. Mesmo acusado de homofobia e racismo, ele viu sua quantidade de seguidores no Instagram crescer de 1,3 milhão para 5,1 milhões. O cachê de seus shows também triplicou, impulsionado pelo sucesso de "Batom de Cereja", que viralizou no programa e se tornou a música mais ouvida do ano no Spotify, além da quinta mais tocada nas rádios, de acordo com a Crowley, que registra as cifras do setor.

Foi uma mistura de planejamento e sorte, diz Rodrigo Byça, o empresário da dupla. Já era planejado lançar o single na primeira semana do programa, para que Rodolffo aproveitasse o espaço na TV Globo para promover o lançamento. Quando virou líder, ele pediu que tocassem a música na próxima festa.

O pedido foi atendido, mas quem a fez viralizar foram dois brothers que nem sequer eram seus aliados, João e Camilla de Lucas. Despretensiosamente, a dupla criou uma coreografia que foi reproduzida pelos outros participantes e, do lado de fora da casa, por milhões de usuários do TikTok, a rede social que atingiu seu ápice na pandemia com vídeos curtos de dancinhas e desafios.

Manu Gavassi é um dos maiores casos de sucesso entre as celebridades que participaram do BBB. Ela tinha recusado o convite de Boninho, mas voltou atrás quando seu empresário, Felipe Simas, a convenceu de que era sua chance de mostrar ao Brasil o rosto por trás dos hits teen lançados na década passada.

Ela, então, gravou 130 vídeos para publicar enquanto estivesse na casa. Os temas variavam de sororidade, palavra cuja busca no Google aumentou em 250% à época, a cartas abertas a Selton Mello e à Sandy, que as responderam e impulsionaram a imagem de Gavassi.

Com a estratégia cartesiana, a sister foi à final do jogo, triplicou sua quantidade de seguidores no Instagram e chegou à quarta posição do ranking da Billboard que mede o engajamento de artistas nas redes sociais mundo afora, quebrando o recorde brasileiro, que pertencia a Anitta.

CANCELADA

Acusada de violência psicológica pelos espectadores e pelos brothers, Karol Conká foi a única que viu os números despencarem. Perdeu 400 mil seguidores no Instagram e contratos em festivais de música.

Um ano depois, no entanto, ela não só recuperou a perda na rede social como conquistou mais 100 mil seguidores. A rapper também ganhou uma série documental no Globoplay sobre sua participação no BBB, manteve o programa que apresentava no GNT e se prepara para lançar um álbum em fevereiro.

A recuperação não demorou. Um mês após o fim do BBB, Conká emplacou "Dilúvio", single em que reflete sobre seu cancelamento, entre as 50 canções mais ouvidas do país em todas as plataformas de streaming.

Mas o trauma, diz ela, não foi leve. "Desenvolvi síndrome do pânico e fiquei seis meses sem sair de casa", lembra. É para evitar isso que algumas celebridades recorrem a coachs de influenciadores como preparação para o BBB. Gis de Oliveira, jornalista com especialização em relações públicas que trabalha desde 2002 preparando os brothers.

Faz parte da preparação fazer o famoso reviver traumas e encontrar pontos fracos para antecipar os conflitos que vão surgir no programa. "Enquanto um anônimo pode pular do trampolim mais alto, por não ter nada a perder, uma celebridade precisa ter cuidado para não perder o que já conquistou", Oliveira explica.

Ocorre que, enquanto uns têm até seis meses para se preparar, outros têm poucas semanas. Convidada 20 dias antes do confinamento, Pocah aprendeu até linguagem corporal, mas não foi suficiente para evitar rusgas com outros participantes. "Jogaram baixíssimo para me atingir e atacaram muito minha filha. São mensagens que eu nunca gostaria de ter visto", diz ela.

Ainda assim, a cantora conquistou 2 milhões de seguidores no Instagram e triplicou seu número de reproduções no streaming. Agora, ela se prepara para lançar nos próximos meses seu primeiro álbum. "Independentemente de ser ruim, hate é stream", diz seu empresário, Marco Salomão. "Significa que tem gente ouvindo, vendo, fazendo crescer."

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