Em múltiplos papéis, mulheres enaltecem a versão maternal
Certas do papel social na formação dos filhos, mulheres driblam desafios da maternidade contemporânea com amor
PUBLICAÇÃO
sábado, 10 de maio de 2025
Certas do papel social na formação dos filhos, mulheres driblam desafios da maternidade contemporânea com amor
Walkiria Vieira
A pluralidade de funções desempenhas pelas mulheres contemporâneas não é novidade. Conciliar diferentes obrigações é algo comum a mulheres de diferentes origens e posições no mercado de trabalho em várias partes do mundo.
Aquelas que também são mães e celebram a data comemorativa neste domingo, reconhecem seu valor perante à formação de seus filhos e as as responsabilidades sobre criar bons cidadãos para o mundo.
Em sua jornada, experimentam as aflições de cada etapa de convivência e cuidados - que não se encerra na vida adulta. Um laço permanente e feito de afeto, com angústias e um amor sem medida. Nesta edição, resgatamos algumas mães e suas trajetórias.
A comerciante aposentada Romilda Vieira, 57 anos, sabe o sentido mais profundo da maternidade. A criação de seus filhos Renan, 35 anos e Renê, 32 anos deram frutos dos quais se alegra em compartilhar. A honestidade, o respeito ao próximo e integridade são enumerados por ela.
Viúva há sete anos, cede créditos ao seu falecido esposo, Silvano, com quem dividiu a educação dos meninos. "Eles foram criados no mercado nos vendo trabalhar e embora pudéssemos dar seguimento ao negócio de família, tiveram a liberdade de escolher suas profissões. Renan é farmacêutico, Renê é empresário em Goiânia e ele estará em Londrina para o Dia das Mães", alegra-se.

Além da atuação voluntária para a Liga das Mães vinculada à Schoenstatt, Vieira dedica grande parte de seu tempo para as netas Betina, 14 anos e Lara, 6. "Para cada filho eu represento um alicerce e eles reconhecem. São muito gratos e eu me sinto feliz por poder me dedicar a eles e à formação de suas famílias", sorri.
SEMENTES DE CORAGEM
Mãe de Bruna de 37 anos, Victor, 30 e Alexandre, 26, a servidora pública Patrícia Bernardi Peres tem 54 anos e imensa satisfação ao narrar a sua trajetória como mãe. Ela considera que há histórias que devem ser contadas porque guardam sementes de coragem, fé e transformação.
“No início dos anos 80, aos 17 anos, tornei-me mãe. Numa época em que ser mãe solteira era um escândalo e uma vergonha para a família, eu escolhi o amor, escolhi minha filha. Naqueles tempos, o silêncio da sociedade era opressor e o que mais se escutava eram julgamentos disfarçados de conselhos. Quantas meninas, para manter a imagem de moça de família, optaram por não seguir com a gestação. Triste, mas real. Casar virgem era uma condição e engravidar solteira era quase uma sentença social", relata.
A notícia da gravidez abalou tudo ao seu redor: os pais, irmãos e amizades. Patrícia recorda que as mães de algumas amigas não queriam mais que as filhas estivessem com ela. "Eu era o exemplo do que não se devia ser”. O pai de Bruna optou por não permanecer com elas durante a gravidez e quando a filha tinha um ano, tentaram recomeçar, mas sem sucesso.
Entre recordações estão a de uma amiga que organizou um chá de bebê. A avó materna foi quem fez casaquinhos de lã e a paterna disse com serenidade ao pai de Patrícia: “Ela não foi a primeira e não será a última.” Assim, as pequenas demonstrações de afeto se tornavam gigantescas para ela.
Após o nascimento da Bruna, viveu um dos momentos mais marcantes. Com o bebê no colo, dentro de um banheiro público, chorou, abraçou Bruna e gritou com a alma: “Um dia você vai ter orgulho de mim". Esse grito virou promessa. Virou força. Conciliou os estudos da faculdade de Administração, fez estágio e conheceu o seu marido Adriano - quando Bruna tinha quatro anos. Foi quando sua vida deixou de ser apenas sobrevivência. "Era sobre construir uma família com amor, respeito e união".
Em 2025, completam 33 anos de parceria realizados. "Somos pais de três filhos: Bruna, nossa joia; Victor, nosso guerreiro e Alexandre, nosso estudioso. A missão da minha vida sempre foi essa: construir uma família onde a união fosse alicerce e os irmãos se protegessem e se admirassem".
E acrescenta: "Transformei minha maior dor em missão e sempre repito que o nosso passado não define o nosso futuro. Lembre-se que o problema de hoje pode ser a força da sua virada. Nunca subestime o poder de uma mulher - uma mãe - que ama, acredita e decide recomeçar", ensina.
AUTOCOMPAIXÃO, PERMITA-SE
Em sua rotina profissional, a psicóloga com formação em Terapia Cognitivo Comportamental, Mariana Precinotto Maschetti, estuda e trata inúmeras questões relacionadas ao universo materno.

De modo distinto, reconhece quão ampla é a jornada da figura feminina - repleta de amor, desafios e superações. A exaustão, o orgulho e as dúvidas integram as aflições de muitas delas, em meio a uma demanda que inclui ser filha, esposa, gestora do lar, estudante e profissional.
"Nas últimas décadas, as mulheres acumulam funções em suas jornadas duplas, triplas e, mesmo nos momentos difíceis seguem em frente, pois precisam dar conta de tudo com leveza, de modo paradoxal", observa.
Maschetti aponta que as mulheres, tantas vezes chamadas de fortes por sua natureza, na grande maioria das vezes são obrigadas a serem fortes sem que tenham tido outra alternativa. Nesse contexto, se antes o papel de ser mãe era colocado como o centro da identidade de uma mulher que vinha acompanhado de expectativas rígidas e sacrifícios, hoje, além desses, ela também carrega o peso da autonomia, do desempenho e da produtividade", pontua.
Em todo esse processo, a psicóloga analisa que uma característica comum a todos elas é autococompaixão. "Mães constantemente desejam fazer tudo bem em razão do amor a seus filhos e querem deixar um legado. Isso pode vir acompanhado de culpa e exaustão. A autocompaixão pode ser libertadora para essas mulheres como um lembrete de que é preciso cuidar de quem cuida, sem que isso precise significar amar menos os filhos", expõe a psicóloga.
CORAÇÃO DE MÃE
Na 24ª semana de gestação de seu primogênito Gael, a cientista e especialista em desenvolvimento humano, Marisa Rowinski descobriu que ele tinha uma grave cardiopatia congênita chamada transposição dos grandes vasos da base e recebeu dos médicos "a notícia de que" a condição era incompatível com a vida.

Nos meses seguintes da gestação, ela foi se preparando física, emocional e espiritualmente para um parto normal e quando Gael nasceu, Rowinski o teve por 20 segundos nos braços. "Tempo para, literalmente, lamber a minha cria e sussurrar ao seu ouvido: Seja forte, meu amor. Tudo vai ficar bem. O meu coração continua batendo junto ao seu, não se preocupe. Enquanto os médicos estiverem consertando o seu coraçãozinho, o meu baterá por nós dois aqui do lado de fora também. Vamos vencer", relatou em uma publicação.
Com o coração na mão, narra que Gael foi direto para a UTI, onde recebeu os primeiros medicamentos preparatórios para a cirurgia. Horas depois, conheceu o filho na UTI e decidiu apoiar mães em situação semelhante a sua por entender que não dá para se preparar para ser mãe de UTI - local que compara a uma montanha russa de emoções.
Gael foi o primeiro bebê cardiopata a nascer de parto natural em uma gestação já com o diagnóstico da doença. Saiu do hospital após oito dias. "Quando saímos, prometi ajudar com a minha experiência outras mães e é exatamente isso que faço. Conversamos por telefone até o bebê nascer, visito na UTI e, às vezes, ganho uma amiga para a vida.”

