O amor é um tema que sempre seduziu o ser humano desde a origem da vida. Continua a ser um dos grandes mistérios eternos da existência. Ainda não estamos próximos de uma resposta – apenas sabemos, e vagamente, sobre aquilo que não tem sentido nem nunca terá, como cantou o outro poeta, Chico. Sentimos coisas que não conseguimos explicar e que por vezes escapam ao senso comum, razão pela qual culturalmente (o amor) foi e continuará a ser fonte inesgotável de inspiração para inúmeras manifestações artísticas, como a literatura, a pintura, a música e, claro, o cinema.

E qual é o sem sentido dos apaixonados?

O segundo longa-metragem do diretor brasiliense René Sampaio, “Eduardo e Mônica”, é vagamente baseado na balada de amor de mesmo nome do poeta cult Renato Russo, lançada em 1986, “minha homenagem a Bob Dylan”, disse o autor na época).

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A estreia nacional de Eduardo e Mônica

Dois apaixonados cujas diferenças superam em muito suas semelhanças, mas tentam tudo o que podem para conseguir. Situado na Brasília na década de 1980, Eduardo (Gabriel Leone) é um estudante de 16 anos que quer ser engenheiro civil, adora novela das oito e mora com o avô carinhoso e reacionário (Otávio Augusto).

Mônica (Alice Braga) , em seus vinte e tantos anos, é uma residente em curso de medicina, ativista política e artista plástica de meio período que bebe muito e anda de moto. Certa noite eles se encontram e, depois de algumas aventuras, decidem começar a namorar.

Enquanto a atração inicial e o prazer da companhia um do outro são inebriantes, as dificuldades e os conflitos da vida começam a surgir entre eles.

Mônica é free spirit, e espera conseguir um emprego em clínica no Rio de Janeiro; enquanto Eduardo sabe (?) que quer ser engenheiro, e sua personalidade e interesses ainda estão se formando. Meio aos trancos e barrancos, a relação vai sobrevivendo, e o amor se aprofunda. É evidente o magnetismo que esta atração entre os opostos causa no espectador – memo aquele mais calejado pela infindável lista de ‘love stories’ contadas pelo cinema.

Leone e Braga têm uma química a toda prova: em nenhum momento coloca-se em dúvida o amor deles, ou a dor que vem com esse amor, em vários momentos. E eles sabem como evitar as armadilhas dos clichês ou estereótipos.

Eduardo com certeza (e bem) oferece indícios daquela bravura de adolescente e falta de autoconsciência, mas ele é alguém gentil e atencioso. Mônica pode ser uma rebelde, mas ela entende e assume suas responsabilidades. Mas certas pontes podem ser muito difíceis de atravessar: o avô “bolsonarista” de Eduardo apoia o governo obscuro, o que causa raiva em Mônica. E os amigos de Mônica a incentivam a seguir seus sonhos de ir para o Rio, o que irrita Eduardo.

O filme de René Sampaio tem sempre um charme amável, e o drama romântico parece agradavelmente familiar ao espectador, o que não significa que você tem que necessariamente estar com a letra da música de Russo na cabeça. “Eduardo e Mônica” é bela celebração do amor e da vida, não importa as diferenças entre as pessoas. Esta parece uma síntese pertinente e harmoniosa para o discurso do filme. Mas a palavra final fica com o poeta, no fecho de sua música:

“Quem um dia irá dizer que não existe razão

Nas coisas feitas pelo coração

E quem me irá dizer que não existe razão”

"Eduardo e Mônica" interpretados por Gabriel Leone e Alice Braga: química cinematográfica para celebrar um amor que virou música nos anos 80
"Eduardo e Mônica" interpretados por Gabriel Leone e Alice Braga: química cinematográfica para celebrar um amor que virou música nos anos 80 | Foto: Divulgação

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