Ecos da áfrica na arte nacional
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quinta-feira, 20 de abril de 2000
Por Maria Hirszman
São Paulo, 21 (AE) - Não se pode falar em arte brasileira sem considerar a profunda influência da áfrica sobre a cultura nacional. Com o intuito de mostrar como são grandes os ecos da tradição africana no País, a arte negra tornou-se tema de dois dos 13 módulos da Mostra do Redescobrimento. Enquanto o segmento "Negro de Corpo e Alma explora o aspecto social da presença do negro no País, a mostra intitulada Arte Afro-Brasileira" faz uma análise estética da questão.
São 74 obras divididas em dois grandes blocos. Há um primeiro grupo de trabalhos extremamente raros e valiosos, cedidos por coleções européias. É a primeira vez que um conjunto de peças africanas de tamanha qualidade histórica e estética vem ao Brasil.
Em seguida estão os ecos dessa cultura ancestral na arte brasileira do século 20, mais precisamente após a década de 40. Isso porque antes dessa data as expressões artísticas ligadas ao imaginário africano eram proibidas por lei. "No momento em que essa arte deixa de ser clandestina, ela ganha uma forte visualidade", explicam os curadores responsáveis pelo segmento brasileiro do módulo, Kabengele Munanga e Marta Heloísa Leuba Salum. Sua intenção não é mostrar um panorama reducionista da arte afro-brasileira, nem partir de uma visão contaminada pela biologia.
Representando os pilares dessa arte afro-brasileira foram selecionados nove artistas, com estilos e pesquisas bastante distintos, mas que têm em comum a preocupação em explorar o imaginário afetivo e a herança visual de seus antepassados. Rosana Paulino, por exemplo, transferiu para centenas de saquinhos de pano as fotografias de seus antepassados, criando assim espécies de patuás da memória.
Já Emanoel Araújo apresenta uma instalação de esculturas em madeira feitas em 1991 e intituladas "Templo de Oxalá". Esse título também dá nome a um trabalho de Rubem Valentim, também presente na mostra.