Ecologia sonora
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 14 de maio de 1999
Ranulfo Pedreiro
O aquecimento da Terra está aumentando, as diferenças entre os povos se acirram em conflitos bélicos, os oceanos estão repletos de poluição e o homem parece confinado a padecer no caos provocado por suas ações, que podem resultar na destruição do planeta. Todo esse discurso de ecologista feroz passa ao largo do CD Greenpeace Brasil Volume 1, que a Organização Não-Governamental está lançando no País em parceria com a gravadora MCD, de World Music.
Ao contrário de letras e composições radicalmente engajadas, o Greenpeace optou por um disco que reúne talentos brasileiros, africanos, caribenhos e italianos com um repertório capaz de agradar até oposicionistas convictos das manobras da Organização. Ao fugir do discurso usual, a ONG acerta com boas opções musicais, exaltando os valores que prega.
A coletânea foi desenvolvida com uma temática que aborda o cotidiano do homem, seus sentimentos e expressões culturais, demarcando um universo onde a natureza tem voz ativa. Nesse sentido, o CD tomou uma abrangência que alcançou estrangeiros, principalmente africanos.
O disco abre com o Coral da Família Alcântara intepretando uma congada. A força do canto dos descendentes de escravos angolanos ganha amplitude no canto coletivo de domínio público Candongueiro. A qualidade se mantém com a violonista Badi Assad em Ai Que saudades dOcê, de Vital Farias.
Arquivo FolhaDisco do Greenpeace reúne talentos brasileiros, africanos, caribenhos e italianosOutro bom momento conta com a participação de Nicolas Menheim, cantor senegalês, em Aicha, com o grupo Africado. O instrumentista Eduardo Agni também se destaca ao violão com Berimbauhaus, de inspiração afro, gravada com exclusividade para o disco. Entre os mais conhecidos do grande público estão Zeca Baleiro com Mamãe Oxum, Chico César com Duas Margens e Chico Science & Nação Zumbi em Rios Pontes & Overdrives.
O angolano Waldemar Bastos aparece com uma faixa intimista, realçada pelo violão e acompanhamento vocal. A letra narra as consequências da guerra civil em seu país. No sentido oposto, está o grupo Te Vaka, tribo polinésia que exalta as belezas da ilha num coro de crianças.
Numa mistura de percussão brasileira, incluindo berimbaus e vasos, o Alaire ressalta características do flamenco em Por Batuquerias, com bom resultado. Os italianos do Acricantus fecham o álbum com Amatevi, composição com vocalises e recursos eletrônicos.
A preocupação ecológica também incide sobre a embalagem, feita em papel sem cloro e ausência de metais pesados na tinta. Todos os intérpretes cederam seus trabalhos gratuitamente ao Greenpeace. O disco pode ser encomendado pelo telefone (011) 257-9744.