O 14º Encontro de Contadores de Histórias de Londrina (ECOH) recebeu 116 inscrições de artistas e grupos de nove estados brasileiros. O prazo para participação no edital terminou em 30 de abril. A curadoria agora avalia as propostas e vai divulgar o resultado da seleção até o dia 31 de maio. As inscrições vieram de Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A seleção leva em conta critérios como diversidade, qualidade artística e custo-benefício. As atividades escolhidas farão parte de uma programação descentralizada, com apresentações em espaços culturais, escolas, bibliotecas e praças de Londrina.

O festival será realizado em agosto e carrega, neste ano, uma dimensão simbólica profunda. A idealizadora do ECOH, a jornalista e pesquisadora Claudia Silva, faleceu no dia 30 de abril, aos 54 anos. Desde a criação do evento, em 2011, ela conduziu com sensibilidade e dedicação um projeto que se tornou referência na arte da narrativa oral no Brasil.

Com uma trajetória dedicada à valorização da literatura e à formação de leitores, a jornalista e produtora cultural Claudia Silva construiu uma trajetória ímpar - capaz de inspirar educadores, despertar o interesse pela temática, bem como ampliar a admiração pelo seu trabalho.

Entre tantas pessoas próximas e amigas, a jornalista Christina Mattos, reconhece a importância de Silva no cenário da literatura de Londrina e discorre com detalhes sobre sua jornada. Filha de Elizabeth Camargo da Silva e João Bosco da Silva, nasceu em Lorena, São Paulo, em 15 de março de 1971, mas logo a família se mudou para a capital, onde ela e os irmãos, José e Paula, cresceram. Mais tarde, já na adolescência de Claudia, a família veio viver em Londrina. O pai abriu uma academia e depois foi dar aula na UEL, no curso de Educação Física. A mãe criou a Livraria Lido, que marcou época na cidade, oferecendo um catálogo de extrema qualidade literária e livros técnicos de segunda mão, além de promover encontros culturais.

Apaixonada por literatura e narrativa oral, Claudinha (como era chamada pelos amigos) formou-se em Jornalismo pela UEL. Foi convidada a desenvolver o projeto do primeiro ECOH – Encontro de Contadores de Histórias, em 2011, pelo professor do Departamento de Educação da UEL, Rovilson José da Silva, então diretor da Biblioteca Pública de Londrina, e Regina Reis, funcionária da Secretaria Municipal de Cultura. "Cláudia construiu uma geração que recebeu nas escolas muitos espetáculos com contadores de histórias. E isso não tem como a gente dimensionar a influência do ECOH na formação desses alunos. É algo algo imaterial, extremamente importante que vai fundo na formação de cada menina, de cada menino de Londrina nesses últimos anos", pontua Silva.

Iniciado em 2018, o ECOH Circulação é fruto do amadurecimento da equipe do ECOH Londrina e de contadores da região. Já passou por Bela Vista do Paraíso, Ibiporã, Jaguapitã, Pitangueiras, Prado Ferreira, Primeiro de Maio, Sertaneja e Uraí. As praças das cidades se transformam em palcos de leitura, contação de histórias e brincadeiras tradicionais. Oficinas também são oferecidas a professores e interessados.

Desde que Claudia entrou numa fase mais delicada da doença, o Coletivo ECOH se reorganizou para manter o projeto vivo. No dia de sua morte, inclusive, a programação prevista para Jaguapitã — o 8º município da 2ª edição do ECOH Circulação — foi mantida, em sua homenagem.

TRABALHO QUE CONTINUA

Daniele Fioruci, Curadora e Coordenadora Pedagógica", destaca que o Encontro de Contadores de Histórias, o ECOH — nunca havia ressoado de forma tão simbólica, tão real. A Cláudia não deixou apenas um projeto, ela deixou um eco. Um espaço que vibra, que reverbera. Não tem como esse eco não continuar. Ele foi plantado desde o começo, com muito cuidado, com muita força. E agora, olhando para esse início, eu vejo: o que fica é uma semente que germinou em muitas pessoas."

O também curador do ECOH Giuliano Tierno compreende que a produtora cultural juntou sua paixão por contar histórias como jornalista ao que de melhor sabia fazer: promover encontros, criar vínculos, juntar gente de diferentes territórios e modos de ver, sentir, pensar para conversar, para produzir belezas. “Claudia é (é assim que quero me referir a ela, porque continua e continuará sempre presente) uma das mais importantes produtoras culturais na área de Contação de Histórias do país."

Coordenadora de Produção do ECOH, Fernanda Nasser salienta o valor desse trabalho. "Finalizamos o ECOH Circulação, encerrando a última Praça de Histórias e Brincadeiras no dia seguinte à sua partida. Mantivemos o evento como homenagem. Foi muito emocionante. E seguimos com pedacinhos dela ecoando com a gente. Tenho comigo o livro que ela me emprestou: A Última Criança na Natureza. Ainda não li. Mas vou guardar com carinho". (com assessoria)

SERVIÇO

Mais informações:

ecoh.art.br

https://www.instagram.com/ecohpr/

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