Dragões e humanos: a paz difícil, mas não impossível
Estreia em todos os multiplex em Londrina um belo filme: Como Treinar Seu Dragão", para diversão e reflexão no feriado e fim de semana
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 18 de junho de 2025
Estreia em todos os multiplex em Londrina um belo filme: Como Treinar Seu Dragão", para diversão e reflexão no feriado e fim de semana
Carlos Eduardo Lourenço Jorge/ Especial para a FOLHA

“Como Treinar o Seu Dragão”, aquela primeira versão animada de 2010, obra adaptada do romance homônimo da britânica Cressida Cowell, deu início à franquia de maior bilheteria da DreamWorks desde a saga “Shrek” (2001). O filme foi um verdadeiro oásis em termos de animação americana. A história da descoberta mútua entre um jovem viking, Soluço, e um dragão que ele adota como animal de estimação, batizado de Banguela, possuía uma complexidade, um charme e uma riqueza simbólica que no século XXI desapareceram do cenário cinematográfico global, invadido pela repetição mecânica e pela banalidade, Disney à frente.
Surgiu como o único e válido horizonte criativo dentro de uma visão de mundo que privilegia o marketing para idiotas sobre qualquer dinâmica intrínseca das histórias.
PERSONAGENS EM CARNE E OSSO
Quinze anos depois, o canadense Dean DeBlois, mesmo codiretor (com Chris Sanders) daquela brilhante animação, reafirma, agora com os personagens em carne e osso, o mesmo discurso eloquente e reconta a história do enclave da ilha de Berk, onde uma população viking vive permanentemente em conflito com uma população de dragões. Defendendo uma perspectiva humanística de compreensão mútua quando amor pela vida e bem-estar geral são compartilhados, o filme constrói um mundo perfeitamente coerente com drama e muita imaginação, agregando com o necessário equilíbrio temas sempre presentes como amizade, coexistência entre pessoas diferentes, paternidade, belicismo, idiossincrasia masculina, o nada presunçoso empoderamento feminino, o inevitável conflito intergeracional, a coisificação da natureza e o papel crucial do medo e da paranoia na troca social. Porque o alienígena demonizado tende a justificar cada ciclo de violência.
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OVELHA NEGRA
O adolescente Soluço é interpretado por Mason Thames e retorna como assistente do ferreiro de Berk. Ele é filho do líder da ilha, Stoico, o Imenso (um Gerard Butler ótimo, responsável pela anatomia do personagem, além de ter dublado a voz nos pioneiros Dragões animados, 1, 2, 3 e 4, todos bons filmes). O jovem é a ovelha negra da turma, alvo de ridículo e desprezo, pois todos os vikings são exímios caçadores de dragões, a "praga" do lugar, e o protagonista não consegue evitar o bullying pela falta de jeito de sua condição de fracote hesitante. No entanto, ele consegue capturar um exemplar da raça menos conhecida e mais temida de dragão, o Fúria da Noite, e aos poucos descobre que o medo daquele indivíduo é maior do que o terror dos humanos enfurecidos que perseguem e matam animais devido à estúpida cegueira habitual.

GRANDE HISTÓRIA DE AVENTURA
“Como Treinar o seu Dragão” tem inúmeras virtudes e as faz muito visíveis, compreensíveis e necessárias. Tem a graça (também no sentido espiritual do termo) das grandes histórias de aventura e também alcança o feito prodigioso de elevar a gigantesca exibição de efeitos visuais e sonoros (ao final, fiquem até o ultimo crédito para ouvir a trilha musical de John Powell) a uma escala humana de altíssimo nível. Além do foco natural no entretenimento familiar, o filme pode e deve ser visto como uma rigorosa, precisa alegoria pacifista especialmente nesses tempos ensandecidos de fanatismo e guerra.

