Zoe é uma criança bastante inquieta e curiosa, com a imaginação fértil, algumas vezes ignorada pelos pais. Assim como tantas outras meninas e meninos. Em um momento de raiva, ela vai parar no universo de Quidam, que representa as figuras solitárias, distraídas, anônimas. Gente despercebida no cotidiano, que passa do ordinário ao extraordinário por meio do espetáculo circense moderno do Cirque du Soleil.

''Quidam'', que, a exemplo de ''Saltimbanco'' e ''Alegría'' também passa pelo Brasil, fica em cartaz em Curitiba entre hoje e o dia 13 de dezembro. O diretor artístico do espetáculo, Sean Mckeown, bateu um papo com a FOLHA e explicou um pouco como serão as apresentações por aqui.

Qual é a maior diferença entre ''Quidam'' e os outros espetáculos do Cirque du Soleil?

Acho que a principal diferença é que neste temos uma grande quantidade de pessoas, 52 personagens diferentes no palco. Isso nos dá uma possibilidade cênica maior, inclusive de uma forma que eles interajam melhor entre si.

Neste espetáculo também são usados mais ferramentas eletrônicas e efeitos visuais. Como trabalham com isso?

É espetacular, estamos em turnê já faz um tempo e essa experiência nos ajuda. Temos um teleférico que traz bastante da ação para o palco. Isso nos permite fazer mais coisas pelo ar, se comparado com os outros dois shows anteriores. Este nosso palco é mais minimalista e ao mesmo tempo muito rico, de uma forma quase surreal, porque estamos representando objetos irreais e pessoas reais e irreais, em situações reais e irreais.

De onde veio a ideia para a criação dos conceitos de arte e design deste show?

A criação foi feita por Franco Dragone (diretor) em Nova York e nós só terminamos o trabalho. Certa vez, ao andar pelas ruas, ele percebeu como as pessoas andam distraídas, sem qualquer conexão umas com as outras. Então disse que seria legal criar algo no show que pudesse dizer ''vamos nos conectar uns com os outros, vamos dizer 'olá', vamos dizer 'obrigado', vamos reconhecer as pessoas que estão em nossas vidas diariamente mas que passam despercebidas''. Existem tantas pessoas anônimas que nos ajudam diariamente, como o motorista de trem ou de ônibus, o taxista, quem quer que seja. Essa é a principal mensagem do show. Então, ele procurou uma maneira de transmitir essa mensagem de uma forma divertida. Ele criou a personagem Zoe, uma criança de 12 anos, para que essa mensagem pudesse ser apresentada por meio dos olhos de alguém inocente. Ela vive em um mundo de faz-de-contas, de grande imaginação, que, com um bela estrutura e um elenco talentoso, faz com que tudo pareça possível.

Como vocês fazem para recriar todos esses elementos em lugares tão diferentes, com detalhes específicos como o clima, por exemplo?

Sabe daquela música ''Leve o clima para onde quer que vá?'' (risos). Então, fazemos de nossas tendas uma espécie de bolha. Apesar dos impactos que temos do lado de fora, como o tempo quente que faz hoje, conseguimos manter a voltagem da eletricidade e a temperatura do lado de dentro. Desse ponto de vista, a estrutura é um tanto quanto única.

Qual é o momento que as pessoas mais gostam em ''Quidam''?

Uau, isso é como perguntar qual é seu filho favorito, muito difícil de responder. Há muitos momentos especiais no show. Acho que o número final é único, que se chama ''Banquine''. Envolve pura força física, uma resistência dinâmica entre a energia masculina e feminina. É uma apresentação rara no mundo. Para mim um dos melhores momentos é quando as pessoas que trabalharam duro no espetáculo aparecem com as máscaras e então se revelam, sem as perucas. Esse é um momento muito especial porque traz à tona o próprio show, esse senso de anonimato e ao mesmo tempo individualidade.