Vivendo em Barcelona como diplomata brasileiro, João Cabral de Melo Neto (1920-1999) ficou impactado com a notícia de que no final da década de 1940 a expectativa de vida no Recife era de apenas 28 anos, menor do que na Índia onde se vivia, em média, 29. O choque causado por essa informação serviu de impulso para que o escritor pernambucano escrevesse “Cão Sem Plumas”. Publicado em 1950, o poema que fala da pobreza da população ribeirinha, do descaso das elites e da vida no mangue marca a entrada de Recife na obra do autor celebrado como um dos maiores nomes da literatura brasileira de todos os tempos.

O poema “O Cão Sem Plumas” serviu de inspiração para o espetáculo de dança homônimo que a Companhia de Dança Deborah Colker apresenta em Londrina nesta quinta-feira (25), às 20h30, no Teatro Ouro Verde. “O espetáculo é sobre coisas inconcebíveis, que não deveriam ser permitidas. É contra a ignorância humana. Destruir a natureza, as crianças, o que é cheio de vida”, diz Deborah sobre a montagem que estreou em 2017 e foi contemplada no ano passado com um dos mais importantes prêmios da dança mundial, o “Prix Benois de la Danse” na categoria coreografia.

Companhia de Dança Deborah  Colker evoca o mangue e os movimentos dos caranguejos em “Cão Sem Plumas”; espetáculo mescla regionalismo e tecnologia
Companhia de Dança Deborah Colker evoca o mangue e os movimentos dos caranguejos em “Cão Sem Plumas”; espetáculo mescla regionalismo e tecnologia | Foto: Divulgação

Para mergulhar no universo descrito por João Cabral de Melo Neto, Deborah Colker e integrantes de sua companhia viajaram durante 24 dias do limite entre sertão e agreste até Recife. Durante a viagem que aconteceu em 2016 a coreógrafa produziu um filme em parceria com o cineasta pernambucano Cláudio Assis – diretor de longas-metragens como "Amarelo Manga", "Febre do Rato" e "Big Jato." A jornada também foi registrada pelo fotógrafo Cafi, nascido em Pernambuco. As imagens captadas na expedição são projetadas no fundo do palco do espetáculo.

Em cena, 14 bailarinos se cobrem de lama, alusão às paisagens que o poema descreve, e seus passos evocam os caranguejos. O animal que vive no mangue está nas ideias do geógrafo Josué de Castro (1908-1973), autor de "Geografia da Fome e Homens e Caranguejos", e do cantor e compositor Chico Science (1966-1997), principal nome do mangue beat. O movimento mescla regional e universal, tradição e tecnologia.

Para construir um bicho-homem, conceito que é base de toda a coreografia, a artista não se baseou apenas em manifestações que são fortes em Pernambuco, como maracatu e coco. Também se valeu de samba, jongo, kuduro e outras danças populares. “Minha história é uma história de misturas”, afirma a coreógrafa.

A trilha sonora original do espetáculo é assinada por dois pernambucanos: Jorge Dü Peixe, da banda Nação Zumbi e um dos expoentes do movimento mangue beat, e Lirinha (cantor do Cordel do Fogo Encantado, poeta e ator). Além do carioca Berna Ceppas, que acompanha Deborah desde o trabalho de estreia, "Vulcão" (1994). Outros antigos parceiros estão na cenografia e direção de arte (Gringo Cardia) e na iluminação (Jorginho de Carvalho). Os figurinos são de Claudia Kopke. A direção executiva é de João Elias, fundador da companhia.

Tendo a Petrobras como mantenedora desde 1995, a Companhia de Dança Deborah Colker se firmou como fenômeno pop em "Velox" (1995), Rota (1997) e "Casa" (1999). Os espetáculos "Nó" (2005), "Cruel" (2008), "Tatyana" (2011) e "Belle" (2014) trataram de temas existenciais, como os afetos. Em "Cão Sem Plumas" Deborah reúne aspectos de toda a sua carreira. “Cabem a elegância do clássico, a lama das raízes e o olhar contemporâneo. O nome disso é João Cabral”, diz ela. A montagem que estreou em 2017 já passou por mais de 30 cidades brasileiras e foi apresentada para um público de cerca de 150 mil pessoas, além de ter sido levada aos Estados Unidos, França e Argentina.

Reconhecida internacionalmente, Deborah recebeu em 2001 o Laurence Olivier Award na categoria Oustanding Achievement in Dance (realização mais notável em dança no mundo). Em 2009, criou um espetáculo para o Cirque du Soleil: "Ovo." Em 2016, foi a diretora de movimento da cerimônia de abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro.

Serviço:

Espetáculo “O Cão Sem Plumas”, com a Companhia de Dança Déborah Colker

Quando – Quinta-feira (25), às 20h30

Onde - Cine Teatro Ouro Verde (Rua Maranhão, 85)

Quanto – Plateia e Balcão: R$ 100; Preço Popular: R$ 75,00, conforme disponibilidade e com quantidade de ingressos limitada*

Pontos de Venda - www.diskingressos.com.br

*Descontos: Cartão Petrobras e Força de Trabalho: 50% na compra de até 2 ingressos; Cartão BV Nacional, Internacional, Gold e Platinum: 20% na compra de até 2 ingressos; Cartão Fidelidade Disk Ingressos: 50% na compra de até 2 ingressos; Estudantes e idosos: 50% de desconto