Algumas sagas funcionaram muito bem para os responsáveis ​​​​pela Pixar: os quatro episódios de “Toy Story” são magníficos, assim como os dois de “Os Incríveis”. Outros nem tanto: os três filmes “Carros” e agora esta sequência de “Divertida Mente”. Esta segunda parte é divertida, mas falta a harmonia da primeira e não há muitas piadas ou situações cómicas memoráveis. A fórmula foi adicionar mais elementos aos que já funcionaram lá em 2015.

“Adicionar” foi a palavra de ordem: o filme confunde sofisticação com acumulação e perde completamente o desenvolvimento de situações que permitem que essas emoções constituam uma parte significativa dos dramas púberes de Riley.

Se em “Divertida Mente” a pequena Riley tinha o caos na cabeça devido à rivalidade entre Alegria e Tristeza, à qual se somavam Raiva, Medo e Nojo, agora que Riley entra na adolescência outras quatro emoções próprias aparecem em cena nesta idade: Tédio (chamado languidamente em francês de Ennui), Vergonha, Inveja e, sobretudo, Ansiedade. O conflito é servido pelo alarme da puberdade e aparece mediado por um antagonismo clássico: a Alegria é a heroína e a Ansiedade a vilã.

Divertida Mente 2' Riley entra na adolescência e passa a viver outras quatro emoções próprias da idade, Tédio, Vergonha, Inveja e Ansiedade
Divertida Mente 2' Riley entra na adolescência e passa a viver outras quatro emoções próprias da idade, Tédio, Vergonha, Inveja e Ansiedade | Foto: Divulgação

Há bons momentos – a descida do rio da consciência em cima de um brócolis, a presença feliz de um desenho animado, o chamado brainstorming, a avalanche de lembranças ruins presas em bolas e a aparição fugaz da velha que representa Nostalgia – mas o tom é bem menos original e

bem mais carregado de sentimentalismo.

NOVAS EMOÇÕES

Em determinado momento do filme, a estrela de “Divertida Mente 2”, que não é outra senão Ansiedade, afirma que, aos treze anos, a vida de Riley exige emoções mais sofisticadas do que o quinteto que orquestrou a construção de sua identidade quando menina. Os núcleos primários de Alegria, Tristeza, Medo, Nojo e Raiva somam-se àquele que deveriam ser emoções mais complexas, como Ansiedade, Vergonha, Inveja e

Tédio. É impressionante que, diferentemente do original, a sequela não levante a importância desses efeitos no tsunami emocional da adolescência.

Com “Divertida Mente 2”, a Pixar parece ter fechado o círculo de uma mudança de rumo em sua filosofia editorial. Não é de estranhar que o tenha feito com a sequela daquele que é provavelmente o último grande filme da fábrica, ou o último que ousou abordar um dos seus temas preferidos – o que sentimos quando deixamos a infância para trás – a partir do risco conceitual que iluminou seus melhores títulos, de “Ratatouille” aos “Toy Story”. Se filmes como “Red”, “Lightyear” ou “Elemental” anunciavam que os anos dourados da Pixar já eram coisa do passado, “Divertida Mente”

certifica esse deserto criativo apelando aos cortes e cortes mais estereotipados, mecânicos e rotineiros, estratégias de colagem e despersonalização das segundas partes preparadas nos escritórios dos principais executivos de um estúdio de Hollywood. É o tipo de sequência que uma IA poderia assinar. A Pixar não já não faz mais a diferença.

* Leia na edição de quinta-feira (27) entrevista com a psicóloga Mariana Precinotto Maschetti sobre o filme "Divertida Mente 2"

* Confira a programação de cinema no site da FOLHA