A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aborda a variação linguística considerando a língua como um fenômeno histórico, cultural, social, variável e heterogêneo. Também considera que as variedades linguísticas são formas de expressão identidárias, pessoais e coletivas.

Em consonância com a normativa que define as aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo da educação básica, a rede municipal de ensino de Londrina reconhece essa realidade e atua de modo distinto.

Na prática, o aluno aprende a identificar características regionais, urbanas e rurais da fala, reconhece a variação linguística como manifestação de formas de pensar e expressar o mundo, assim como as variedades da língua falada, o conceito de norma-padrão e o de preconceito linguístico.

Integrante da Gerência de Identidade da Secretária Municipal de Educação, Eliane Condoti ratifica a relevância deste trabalho. " As variações linguísticas são apresentadas como adaptações da norma culta conforme a cultura do local ou conforme a influência de outras línguas (resultantes das interações com povos indígenas ou com grupos imigrantes). A variação linguística deve ser tratada como um modo diferente de falar a mesma palavra que conhecemos pela norma culta, mas não como modo 'errado' de falar".

Nessa perspectiva, os estudantes evoluem com a capacidade de perceber diálogos em textos narrativos, observando o efeito de sentido de verbos de enunciação e ficam aptos a produzir textos em diferentes gêneros, considerando a variedade linguística apropriada ao contexto.

A LÍNGUA DA GENTE

Recém-publicada, a obra a Língua da Gente (Editora UEL, 2025), de Silvia Helena de Freitas Ruiz com ilustrações de Pamela L. Cuer, vem ao encontro da abordagem. A ideia de produzir o livro foi para facilitar a abordagem da temática em sala de aula, afirma a autora.

No cotidiano escolar, Ruiz observa que os alunos frequentemente se deparam com variações linguísticas - seja no convívio com colegas oriundos de diferentes regiões, seja na leitura de textos literários e informativos que trazem marcas de diferentes usos da língua. "Essas diferenças costumam provocar reações curiosas e bem-humoradas: muitos riem, fazem perguntas sobre o significado de certas palavras e compartilham expressões típicas de suas famílias, como “lá na casa da minha avó se fala assim...”.

Imagem ilustrativa da imagem Diversidade linguística é tema de estudo na rede municipal

A educadora compreende que esse tipo de troca espontânea transforma a sala de aula em um espaço vivo de descoberta, promovendo não apenas o enriquecimento lexical, mas também o desenvolvimento de uma postura acolhedora e respeitosa diante da diversidade linguística que compõe a identidade cultural do País.

Outro aspecto relevante sobre o assunto é o fato de o conhecimento das variedades linguísticas constituir uma forma concreta e eficaz de ampliar o repertório cultural das crianças. "A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reconhece e valoriza a pluralidade linguística como um patrimônio cultural que deve ser respeitado e explorado pedagogicamente", destaca Ruiz.

Assim, quando os alunos compreendem que não existe uma única forma “correta” de falar, mas sim diferentes maneiras de usar a língua em função do contexto, da região e da situação comunicativa, desenvolvem não apenas um vocabulário mais amplo, mas também atitudes de empatia, respeito e valorização da diversidade cultural e linguística presente no país. "Trata-se de um aprendizado que extrapola a linguagem e contribui para a formação de cidadãos mais sensíveis à multiplicidade que constitui o Brasil", expõe.

A autora lembra que preconceito linguístico, infelizmente, ainda é uma prática recorrente em nossa sociedade e pode ser percebido já na infância, muitas vezes de forma velada ou reproduzido sem consciência crítica. "Nesse sentido, o trabalho pedagógico que valoriza a diversidade linguística torna-se fundamental", sentencia.

Dessa forma, ao abordar as variações da língua com sensibilidade e reflexão, a escola contribui para a formação de crianças mais conscientes, críticas e respeitosas. "Compreender que falar diferente não significa falar errado é um passo essencial no enfrentamento do preconceito linguístico, promovendo uma educação mais inclusiva, democrática e culturalmente situada", ratifica a autora.

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DETETIVES DAS PALAVRAS

Ruiz revela que a Secretaria Municipal de Educação apresentou a obra para os alunos e a dinâmica tem sido bastante proveitosa. "A sala de aula é mesmo um lugar onde a linguagem mostra toda sua graça e movimento. Depois da leitura do livro, os alunos começam a virar verdadeiros 'detetives das palavras', atentos a cada termo que pode ter um significado diferente dependendo de onde se fala", recorda.

A educadora reflete que na prática, os momentos de integração mostram o quanto a língua é viva, cheia de histórias, sotaques e sentidos. "É como se cada palavra tivesse uma mala nas costas, carregando os lugares por onde já passou - e, ao ser dita, abrisse a mala para espalhar memórias, afetos e significados pelo ar da sala de aula."

Do ponto de vista da coordenadora pedagógica da Escola Municipal Professor Carlos Zewe Coimbra, Sarah Iensue Viani, obras que abordam a variação linguística, como o livro em destaque evidenciam o fenômeno que são as diversas manifestações faladas ou escritas dos usuários de uma mesma língua.

"Explorar a variação linguística é importante para as crianças, pois ajuda a entender que a língua portuguesa não é uma única forma, mas sim um conjunto de variedades que refletem a diversidade cultural e social e isso contribui para uma maior compreensão da língua como um processo vivo e em constante transformação", explica.

Viani compreende que ao aprender sobre as variações linguísticas, as crianças entendem que a língua está em constante evolução e que existem diferentes formas de se expressar, dependendo da situação e do interlocutor. "Isso contribui para uma comunicação mais eficaz e para uma maior capacidade de adaptar a linguagem a diferentes situações.

Coordenadora pedagógica da Escola Municipal Maestro Andréa Nuzzi, Louana Secy Rodrigues de Castro atua na rede municipal há 26 anos. A experiência na Educação Infantil até a EJA, conferem a ela autoridade sobre a abordagem. "Nós nos deparamos com a diversidade constantemente e os indivíduos envolvidos no processo ensino-aprendizagem precisam compreender e ser compreendidos de forma eficaz, trazendo segurança a todos os envolvidos, promovendo de forma igualitária a aprendizagem com equidade.

Castro compreende que obra valoriza os alunos, seus contextos, suas famílias e sua linguagem. '"A comunicação deve respeitar a variações linguísticas. Há inúmeras situações no contexto escolar e os professores devem estar preparados para essa realidade."

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