Discriminação à cor da pele
93% dos livros publicados no Brasil são de autores brancos; apenas 5,5% dos profissionais que aparecem nas telas são negros
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sábado, 13 de junho de 2020
93% dos livros publicados no Brasil são de autores brancos; apenas 5,5% dos profissionais que aparecem nas telas são negros
Marcos Roman Grupo Folha
Luta milenar de ativistas negros em busca de igualdade social volta ao centro dos debates após caso fatal de racismo que movimentou os Estados Unidos e ganhou o mundo
A morte de George Floyd, afro-americano de 46 anos que foi vítima da truculência de um policial branco, reacendeu debates sobre o racismo em todo o mundo. O caso que aconteceu nos Estados Unidos no dia 25 de maio trouxe à tona a luta de movimentos negros em busca de igualdade de direitos. As manifestações que levaram milhares de pessoas às ruas de várias cidades americanas e tomaram conta das redes sociais também tiveram reflexo no Brasil. Ativistas negros tiveram papel de destaque em marchas antifascistas que aconteceu no último domingo (7) em vários municípios brasileiros.
George Floyd morreu asfixiado depois que um policial pressionou por nove minutos o joelho sobre o seu pescoço durante uma abordagem policial. O caso provocou as maiores mobilizações nos Estados Unidos desde o assassinato de Martin Luther King JR. em 1968. No Brasil, a luta dos ativistas tem sido fundamentada por diversas estatísticas. O Atlas da Violência, estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostrou no ano passado que 75,5% das vítimas de homicídio no País são negras.

Embora 56,1% da população brasileira se autodeclarem de cor preta ou parda, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE. a representatividade dos negros na área cultural é imensamente baixa quando comparada a dos brancos. Na literatura, por exemplo, um estudo recente apontou que 93% dos escritores com livros publicados no Brasil são brancos.
Na televisão, somente 5,5% de apresentadores e profissionais que aparecem nas telas são negros. O número de atores negros em novelas brasileiras corresponde a apenas 8% do elenco. Em 2018, a União de Negros pela Igualdade (Unegro Brasil) ajuizou uma ação civil pública contra a Rede Globo denunciando a emissora por práticas racistas e discriminatórias na novela “Segundo Sol”. Isso porque apesar do roteiro do folhetim se passar em Salvador, cidade onde mais de 80% da população é negra, o elenco da trama era formado apenas por atores brancos.
Psicólogos e educadores avaliam que a falta de representatividade negra na média pode ocasionar problemas na formação de identidade, principalmente durante a infância. O fato de a criança não se sentir representada na televisão, nos livros, revistas e propagandas pode acabar gerando um sentimento de inferioridade e resultar em baixa-autoestima.
A discriminação racial pode ser considerada como um paradoxo se for levado em conta a grande contribuição que os afrodescendentes trouxeram para a cultura nacional. Na área musical, podemos citar a introdução do reggae, do samba, do rap, do hip hop, e do funk, além do maracatu e da congada. Na culinária, foram responsáveis pela popularização de inúmeros pratos de matrizes africanas entre os brasileiros, incluindo o vatapá, o acarajé, o bobó, a galinha de cabidela, o angu, o cuscuz e a famosa feijoada.
Leia mais sobre o assunto nesta edição da Folha 2.

