DISCOS
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O Som Nosso A Sony Music está relançando álbuns significativos de grupos que aproximavam samba, soul e funk na década de 70. A leva acompanha a onda de interesse que o sambalanço ou samba-rock vem despertando nacionalmente. É bom ouvir o Som Nosso de Cada Dia depois de tantos anos longe dos toca-discos. A década de 70 possui uma discografia farta de MPB, mas grupos com tendências mais pop simplesmente desapareceram de catálogo. O Som Nosso, em faixas como ‘‘Pra Swingar’’ (Pedrinho/Pedrão), soa contundente, com trejeitos hippies. Já em ‘‘Levante a Cabeça’’ (Pedrão) o som se aproxima da MPB, enquanto ‘‘Montanhas’’ flerta com o progressivo. O sotaque brasileiro não é tão presente como hoje, os referenciais são estrangeiros e a fusão de ritmos menos presente. Não é um disco atual, mas um bom álbum de época, já na beira da avalanche da discoteca no Brasil. O trabalho de masterização foi bem-feito e a capa respeitada como reprodução da original.

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Vicente Barreto Esta coletânea lançada pela Dabliú reúne faixas dos três álbuns do cantor, compositor e violonista Vicente Barreto: ‘‘Ano Bom’’, ‘‘Mão Direita’’ e o recente ‘‘E A Turma Chegando para Dançar’’. São três momentos específicos. ‘‘Ano Bom’’ é a estréia em disco. ‘‘Mão Direita’’ é uma afirmação da carreira destacando o preciosismo instrumental. ‘‘E a Turma Chegando para Dançar’’ se aproxima do pop, com utilização de recursos eletrônicos e produção de Jairzinho Oliveira, Wilson Simoninha e Daniel Carlomagno. A coletânea aponta bons momentos, como as políticas ‘‘Cisma’’ (parceria com Costa Netto) e ‘‘Diolinda’’ (com Chico César), que abordam o trabalhador rural e a reforma agrária (em metáforas); ou o humor inteligente de ‘‘Hein?’’ (com Tom Zé). As composições de Vicente Barreto se apóiam, independente de parcerias ou arranjos, no cancioneiro nordestino. Para quem ainda não conhece sua obra, ‘‘O Melhor de Vicente Barreto’’ é uma boa oportunidade.

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Bambu O selo CPC-Umes lançou ‘‘Diga Aonde Vai’’, segundo álbum do grupo Bambu, que traz uma formação inusitada: gaita (José Staneck), contrabaixo (Ricardo Medeiros), harpa (Cristina Braga) e voz (Barbara Lau), acompanhados pelo excelente Robertinho Silva (percussão). Após uma boa estréia em disco de 1999, o grupo enfrenta o desafio da continuidade. O interessante é que, por causa da formação, alguns instrumentos assumem funções de outros: a harpa às vezes arranja como piano, a gaita ajuda na harmonia como o teclado – que também aparece tocado por Medeiros. Enfim, por causa da formação pouco usual, o grupo se vale de recursos para cobrir alguns buracos, com bons resultados. A tônica é MPB com alguma acentuação pop. Entre os destaques estão músicas de pegada mais incisiva, mais rítmica, como ‘‘Resgate’’ (Leila Maria), ‘‘A Ponte’’ (Lenine/Lula Queiroga) e ‘‘Canário do Reino’’ (Gerson Abatt/A.C.Carvalho). Há também uma ótima versão de ‘‘Uirapuru’’ (Waldemar Henrique).

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Unscarabrown A banda Unscarabrown estreou em CD pela Rastropop Records, do Rio de Janeiro, misturando samba com soul e funk. O suingue ganha reforço, aqui e ali, de uma guitarra distorcida – contrapondo com o violão –, que vai dialogando com a harmonia em arranjos diversos. O baixo opta por fraseados bem demarcados e a letra acentua o ritmo vocal. Enfim, é uma estrutura construída para ser dançante. O grupo faz um pop descompromissado, que pode se encaixar nas programações de FM sem ser descartável. A maior parte das composições é de Wagner Costa (violão e voz), mas há regravações de Kiko Zambianchi (‘‘Alguém’’) e da dupla Ivan Lins e Vitor Martins (‘‘Cartomante’’, sucesso com Elis Regina). ‘‘Barraco’’ traz a participação de Maurício Negão – também ligado à Rastropop Records (www.rastropop.com.br). O som do Unscarabrown tem um pé nos anos 70, com influências na linha de Tim Maia, fundador da soul music brasileira, e Cassiano.

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Passoca Violeiro se aventurando pelo samba? É isso mesmo. ‘‘Passoca Canta Inéditos de Adoniran’’ não é nenhum contrasenso. Afinal, o samba de Adoniran e a viola caipira estão mais próximos do que se imagina – ambos têm origem rural. Aqui aparecem letras inéditas de Adoniran musicadas por nomes contemporâneos como Paulo Belinatti e o próprio Passoca. Parcerias póstumas geralmente provocam polêmicas. A vantagem neste CD é que, além de parceiros interessantes, Adoniran encontrou também intérpretes em instrumentistas como Nailor Proveta (clarinete), Maurício Carrilho (violão de sete cordas), Paulo Sérgio Santos (clarinete), Pedro Amorim (bandolim) e outros. Passoca aparece com a voz curta e afinada, e um bom humor característico. As letras foram cedidas por Juvenal Fernandes, a quem Adoniran entregou vários textos sem melodias. O disco é independente, mas pode ser encontrado no site da Som Livre (www.somlivre.com.br) ou pelos telefones (43) 342-1801 ou 326-3986.

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Pereira da Viola ‘‘Terra Boa’’ também é um álbum independente, gravado em 1994, e que se tornou raridade pela ausência de novas tiragens. Após muita briga com a antiga gravadora, Pereira da Viola conseguiu relançar o disco neste ano. A viola de Pereira carrega no bojo características mineiras, soando emboladas, cantigas, toadas, calangos e catiras. Pereira canta bem e, embora no disco não apareça, ele também toca rabeca. O músico é natural de São Julião, um distrito de Teófilo Otoni, onde recebeu influência dos cantos regionais. A carreira está ligada a outros violeiros da mesma geração, como Braz da Viola e Paulo Freire. Eles vêm trazendo uma renovação na forma de tocar a viola, aproximando-a de outras linguagens musicais. O próprio Pereira costuma tocar uma versão – que também não está no disco – do ‘‘Bolero’’, de Ravel, adaptada para a viola. O CD é um prato cheio para quem gosta de música com trejeitos caipiras. Os contatos podem ser feitos pelos telefones (16) 630-7971 ou 9961-7143.