Dicionário facilita a vida dos dekasseguis
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terça-feira, 17 de outubro de 2000
Francelino França De Londrina
No Brasil, segundo dados da Fundação Japão, existem mais de 17 mil pessoas aprendendo a língua japonesa, e mais de 250 mil dekasseguis morando no Japão, que necessitam de um aprendizado rápido e prático do idioma japonês. Até recentemente, no aprendizado da língua japonesa, podia-se contar apenas com minidicionários.
O dicionário mais completo foi editado em 1937 por Thomaz W. Otake, antes da reformulação ortográfica da língua portuguesa. Otake chegou ao Rio de Janeiro em 1890, morou por sete anos no País e editou pela primeira vez no Brasil um dicionário português-japonês, em meados de 1918. Na época, a obra foi utilizada pela leva de imigrantes japoneses que chegavam ao Brasil.
A Editora Melhoramentos lança agora, em parceria com a Aliança Cultural Brasil-Japão, de São Paulo, o Michaelis Dicionário Prático Português-Japonês, de médio porte. A pedido da Folha2, o tradutor público juramentado Miyoshi Egashira avaliou o novo dicionário. No Paraná, existem apenas dois profissionais habilitados que se responsabilizam pela tradução de documentos escolares, declaração de imposto de renda, documentos de casamento entre brasileiros e japoneses, entre outras traduções. Por isso, o dicionário é uma ferramenta de trabalho para Egashira.
O novo dicionário apresenta a tradução de mais de 30 mil verbetes nos três sistemas de escrita japonesa: o hiragana, o katakana e o kanji. Na avaliação do tradutor, o novo dicionário é bastante acessível para quem não conhece o idioma japonês, porque está romanizado. Além disso, o Michaelis se refere à língua brasileira, enquanto o Otake era da língua portuguesa. Outra observação verificada por Egashira se refere aos termos atualizados que foram incluídos, como mídia, computação e informática. Numa primeira folheada, no entanto, não localizou o verbete Mercosul, muito utilizado ultimamente.
Os dekasseguis que estão completamente absorvidos no trabalho no Japão podem tirar grande proveito do novo dicionário, apesar do pouco tempo para se dedicarem ao estudo da língua japonesa. Mesmo assim, muitos voltam do Japão com uma conversação coloquial satisfatória. Segundo Egashira, as diferenças gramaticais entre o japonês e o português são muitas. Mas ele destaca a inexistência de concordância no idioma japonês como a mais significativa.
De acordo com o tradutor, existem 2 mil ideogramas japoneses. Recentemente, foram abolidos os ideogramas complicados. Há três sistemas de escrita japonesa: hiragana, katakana e kanji. O hiragana é composto por 46 letras básicas e, por meio delas, podem-se grafar todos os sons da língua japonesa. O katakana, também composto por 46 letras básicas correspondentes ao hiragana, é utilizado principalmente para a transcrição de nome de pessoas, termos estrangeiros e onomatopéias. Já o kanji é um sistema que utiliza caracteres chineses, cada qual com significado próprio, porém apresentando mais de uma leitura.
O dicionário Michaelis apresenta o alfabeto latino pelo sistema Hepburn, adotado comumente pelos dicionários japoneses. Para facilitar tanto a leitura quanto a expressão oral do japonês, James Curtis Hepburn (1815-1911) criou um sistema que representa graficamente os sons do idioma japonês utilizando o alfabeto latino, de acordo com a pronúncia inglesa. O Dicionário Prático Português-Japonês tem 800 páginas e custa R$ 54,50.