Você conseguiria imaginar o Radiohead sem aquelas guitarras e sem os falsetes de Thom Yorke? Pois bem, a proeza foi alcançada pelo grupo em seu novo disco, que chegou às lojas do Brasil esta semana.
Proeza porque, apesar do improvável tratamento imposto às canções, o material soa a diamante raro. ‘‘Kid A’’ é o nome do disco. É o quarto álbum da banda, cujo prestígio subiu às nuvens depois do lançamento de ‘‘Ok Computer’’ há três anos.
‘‘Kid A’’ troca as camadas de riffs e os vocais angustiados por teclados climáticos (com primazia de um órgão de igreja) e programação eletrônica. Em ‘‘The National Anthem’’, o destaque do CD, o arranjo inclui uma seção de metais bêbados oscilando na fronteira do free jazz.
‘‘Motion Picture Soundtrack’’ convoca harpas. A exploração de timbres e texturas parece orientar a maioria das faixas. Foi um disco de parto sofrido. Toda a fase de criação de repertório e de sessões de gravação passou por turbulências, gerando atritos entre os integrantes a ponto de quase por a pique a até então intacta formação original.
O trabalho tem dividido opiniões. As publicações inglesas atiraram pedras. A Mojo chegou a defini-lo como ‘‘pavoroso’’. O público norte-americano, porém, está fazendo o disco evaporar das prateleiras. ‘‘Kid A’’ atingiu ontem o primeiro lugar da parada da Billboard desbancando artistas de pop e rap que dominavam a listagem.
O curioso é que o disco não seguiu as regras habituais do mercado dispensando edições de singles promocionais, entrevistas coletivas e outros babados. No caso, fique com os americanos e desdenhe os críticos britânicos. Ouça o disco e aproveite para ler a ótima reportagem que a revista Showbizz dedicou ao lançamento.