Dia do Leitor: leitura estimula criatividade e ajuda a prevenir doenças
Seja um livro, um panfleto ou uma bula de remédio, o importante é manter o hábito e a qualidade da leitura
PUBLICAÇÃO
sábado, 07 de janeiro de 2023
Seja um livro, um panfleto ou uma bula de remédio, o importante é manter o hábito e a qualidade da leitura
Jessica Sabbadini - Especial para a Folha

Você escolhe um livro na estante, senta em um lugar confortável e com boa iluminação, coloca a xícara de chá ao lado, lê o título, abre o livro e então um mundo totalmente novo se apresenta naquelas páginas.

Pode ser um romance noir, uma aventura ou fantasia, pode ser uma realidade semelhante ou um mundo distópico e completamente diferente. Seja qual for o gênero literário, o importante é ler.
Neste sábado (07) é comemorado o Dia do Leitor, que busca difundir e estimular o hábito da leitura entre os brasileiros.
O que dizem os especialistas
De acordo com a última pesquisa realizada pela Retratos da Leitura no Brasil, a média de leitura do brasileiro está abaixo dos cinco livros por ano. Além disso, dentre esse número, algumas das leituras não chegam a ser finalizadas.
Para o neurologista Rogério Pistori, o hábito de ler deve ser visto como um entretenimento, assim como o celular e o computador. Segundo ele, quando uma pessoa lê um livro que gosta, ela pode atingir o estado de flow, em que fica totalmente envolta pela leitura e com a concentração e atenção voltadas para aquela ação.
Pistori explica que a leitura também faz com que as conexões cerebrais aumentem por meio das sinapses, elevando a chamada reserva cerebral. “É como se fosse uma reserva contra possíveis danos cerebrais, como o Alzheimer, que é o tipo mais comum de demência”, lembra
Pessoas que lêem frequentemente têm menos chances de desenvolverem problemas neurológicos, afirma o médico. “O cérebro é como um músculo, então quanto mais você pratica, mais você consegue melhorar o desempenho e a força dele”, ressalta.
Segundo o especialista, a leitura também auxilia no controle das emoções, diminuindo o estresse e a irritabilidade. Pistori destaca que algumas habilidades, como a criatividade, estão ligadas à leitura. De acordo com ele, quanto mais assuntos diferentes uma pessoa passa a dominar por meio da leitura, mais conexões vão existir e, a partir daí, a criatividade se desenvolve.
O neurologista também esclarece que toda a leitura é válida, mas é importante que o leitor busque primeiro por assuntos de interesse, que vão fazer com que ele fique mais motivado e veja a leitura como parte da rotina.
“Mais importante do que o tempo que você passa lendo ou o quanto lê, é ter uma leitura de qualidade. É essencial olhar a capa do livro, ler o título, o resumo, sumário, todos esses detalhes antes de começar, de fato, a ler o conteúdo do livro”, aconselha.
Também de acordo com Pistori, outra técnica que o leitor pode adotar é fazer a leitura mais lenta de um trecho importante do livro, anotar, riscar e ler de novo, já que isso ajuda a melhorar a interpretação e o entendimento sobre o livro. “Leitura é prática. Quanto mais você lê, mais você aprende a ler”, frisa.
Com a popularização dos e-books, Rogério Pistori destaca que o leitor tende a se distrair e se estressar com mais facilidade com esse formato de leitura. “Eu falo por experiência própria, quando estou lendo no computador, eu percebo que fico mais estressado. Então, se possível, o ideal é que a leitura seja feita com livros físicos e que o celular, por exemplo, fique bem longe”, finaliza.
Uma amante dos livros
Letícia Bruno Dos Santos, 23 anos, é estudante de psicologia na (UEL) Universidade Estadual de Londrina e teve o primeiro contato com os livros ainda na infância. Ela conta que o pai costumava ler para ela e para o irmão todas as noites antes de irem dormir. “A gente tinha alguns livros, mas ele também imprimia outras histórias que achava na internet. Era muito legal”, relembra.

Com quatro anos, a estudante teve o primeiro contato com a leitura de forma independente. “Meu pai comprou um livro chamado ‘A Ema de Sorte’, que era bem infantil, com pouco texto e muita imagem. Eu pedia para ele ler quase todas as noites, até que ele começou a me ensinar a ler e a escrever algumas letras”, explica.
Quando entrou na escola, ela se destacou entre os colegas por já saber ler e escrever palavras e frases básicas. Com o tempo, a estudante foi avançando para leituras mais desafiadoras, como os livros "Quando Meu Pai Perdeu o Emprego"’ e ‘"Harry Potter e a Pedra Filosofal". “Fui lendo cada vez mais rápido, livros mais difíceis e não parei desde então”, conta.
Hoje, a estante exibe mais de mais de 100 livros, dos mais variados gêneros, tamanhos e histórias. “Eu gosto muito de mangás também, que são aquelas histórias em quadrinho japonesas”, afirma. Dos Santos conta que não tem um gênero preferido, mas tem uma afinidade com a fantasia mais madura, que foge da literatura infanto-juvenil.
Dentre os livros preferidos, destaca o italiano ‘A Solidão dos Números Primos' e a trilogia estadunidense ‘Métrica’. Por conta da rotina corrida, Letícia Bruno Dos Santos lê com menos frequência do que antes, mas não abandonou e nem planeja abandonar o hábito. “Tem mês que eu leio todo dia, mas daí fico outros dois sem conseguir terminar um livro. Só que eu nunca deixei a leitura de lado, tento sempre ler um capítulo ou algumas páginas todos os dias”, conta.
A estudante de psicologia afirma gostar da sensação de ter o livro físico nas mãos, mas com o preço dos exemplares subindo, optou por investir em um aparelho exclusivamente voltado à leitura. “É muito prático, você consegue levar para todo lado e dá pra fazer marcações, que é algo que eu não consigo fazer nos livros físicos”, admite.

Para ela, ler é um exercício de criatividade e de imaginação. “A infinidade de mundos, de histórias, de personagens e personalidades que a gente encontra quando lê é incrível. Ler é deixar a cabeça e a mente fluírem”, finaliza.
Como fazer a leitura virar um hábito
Como no exemplo de Letícia, que teve o pai como principal fonte de inspiração e incentivo para entrar no mundo da leitura, Fernanda Passarelli, psicopedagoga com especialização em neurociência, garante que os pais têm papel fundamental em transformar a leitura em um hábito para as crianças. Segundo ela, a leitura deve ser incentivada de um jeito prazeroso e divertido.
“A leitura pode e deve ser dividida e compartilhada entre pais e filhos”, explica. Como dica, a psicopedagoga cita que os pais podem inserir na rotina um momento de leitura, com conteúdos que sejam coerentes com a idade da criança. “Se a criança não sabe ler, ela pode ser estimulada a olhar as imagens enquanto os pais fazem a leitura. Eles devem perguntar sobre detalhes das imagens, levantar questões do tipo: ‘o que será que vem depois?’ ou ‘o que você acha que vai acontecer com o personagem?’”, explica.
Mas ela faz uma ressalva: “Não é coerente que o pai ou a mãe diga para a criança ler se ela nunca viu eles fazendo isso. Os pais são espelhos para as crianças”. De acordo com Fernanda Passarelli, como benefício direto desse hábito está a melhora no desempenho escolar, já que a leitura pode fazer com que a criança fique mais atenta, focada, seja mais criativa e com um vocabulário mais rico.
Para os bebês, os livros devem ser coloridos, com imagens, sons e texturas diferentes. “Ela descobre o mundo pelos sentidos e quanto mais novinha é a criança, mais ela vai explorar”, destaca. Já para os adolescentes, ela sugere que os pais questionem o gênero literário que eles mais gostam. “Busquem em livrarias ou sebos e façam, também, uma leitura compartilhada. Não importa a velocidade da leitura, o importante é curtir o momento em família”, finaliza.
Viajar sem sair de casa
Maria Luiza Perez é bibliotecária há 40 anos e é fascinada pelos livros e pelo ato de ler. Para ela, a leitura é algo normal. “Eu leio tudo que aparece na minha frente, é algo muito automático”, afirma.

Segundo a bibliotecária, uma das inúmeras vantagens da leitura é a melhora no raciocínio, vocabulário e na capacidade de interpretação. “Uma pessoa que cultiva esse hábito tende a ter mais criatividade e imaginação e a conseguir se comunicar com mais facilidade”, destaca.
Perez admite que gosta da sensação de viajar para diferentes países e culturas sem sair de casa. Mas, além dos livros, costuma ler comentários de pessoas sobre determinadas obras. “Às vezes a gente não teve a oportunidade de ler um livro ainda e acaba aprendendo muito com os comentários de outras pessoas. São interpretações e visões diferentes que nos ajudam a entender a história”, afirma.
Com anos de experiência em bibliotecas, Maria Luiza Perez selecionou alguns livros que todo mundo deveria ler em algum momento da vida. São obras de vários gêneros e para vários perfis de leitores.
Confira as sugestões a seguir:
Menina Bonita do Laço de Fita
Autora: Ana Maria Machado
Preço: R$ 49,90
A autora apresenta com delicadeza e sutileza uma menininha negra, com olhos de azeitona e cabelos de noite, que encanta os leitores e um coelho branco, que não se cansa de perguntar qual o segredo para ela ser tão pretinha. Entre respostas engraçadas da menina, o coelho logo entende que a cor vem da genética.
O livro aproveita a tradição oral, numa fala coloquial e familiar, para homenagear a beleza negra. É um ótimo momento para conversar com as crianças sobre racismo e preconceito.
O Pequeno Príncipe
Autor: Antoine de Saint-Exupéry
Preço: R$ 17,80
O livro é, ao mesmo tempo, uma fábula e uma parábola. A criação de Antoine é atemporal e atinge todas as faixas etárias. Nessa clássica história, um piloto cai com seu avião no deserto do Saara e encontra um pequeno príncipe, que o leva a uma jornada filosófica e poética através de planetas e, por trás de cada diálogo existem enormes lições de vida.
A Menina que Roubava Livros
Autor: Markus Zusak
Preço: R$ 36,99
Considerado um novo clássico, o livro aborda com realismo a vida vivida pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O livro conta a história da menina Liesel, que encontra conforto no mundo dos livros em meio a uma Alemanha nazista.
É uma história comovente, que mostra a maldade, a bondade, a crueldade e a coragem do ser humano.
Quarto de Despejo: diário de uma favelada
Autora: Carolina Maria de Jesus
Preço: R$ 47,15
O diário da catadora de papel Carolina Maria de Jesus deu origem a este livro, que relata o cotidiano triste e cruel da vida na favela. A autora morou com os três filhos na comunidade do Canindé, em São Paulo.
Carolina te prende com seu relato visceral e sensível das dificuldades da vida. Tudo isso é escrito com muita verdade e poesia.
O Castelo, A Metamorfose e O Processo
Autor: Franz Kafka
Preço: R$ 45,43
Franz Kafka, por seus escritos, muitos dos quais incompletos e publicados principalmente após a sua morte, é considerado um dos autores mais influentes da literatura ocidental e um dos maiores escritores de ficção do século XX. Os leitores precisam conhecer esses três títulos em que Kafka parece usar absurdos narrativos para denunciar a desumanização do homem frente à sociedade.
Comer, Rezar, Amar
Autora: Elizabeth Gilbert
Preço: R$ 29,90
Esse é um livro que todas as mulheres precisam ler e repassar a outras mulheres. O livro é um relato da jornalista Elizabeth Gilbert, que passou por três países (Itália, Índia e Indonésia) em um ano. Ela conta as percepções e experiências que teve nesse período, conhecendo culturas e pessoas diferentes. A escrita da autora é leve e, ao mesmo tempo, profunda, levando a muitas reflexões.

