Uma mãe suburbana em uma encruzilhada da vida busca se reinventar de maneira surpreendente – tornando-se uma capo mafiosa na Itália – em “Mafia Mamma”, comédia com alguma (pouca) astúcia que percorre um longo caminho apoiando-se no vigor da atuação meio na contramão de Toni Collette.

Pena que o filme da diretora Catherine Hardwicke não possa sustentar a virada de mesa de sua personagem-estrela, contentando-se com uma espécie de conto sobre um peixe fora d'água quando muito tolerável (com algo de tensão), no qual essa improvável heroína descobre que é a herdeira de um poderoso império mafioso e rapidamente se acostuma a uma rotina de tiroteios.

Meio sem muita noção, o filme satiriza o escapismo paternalista de “mulheres de certa idade”, personagens de dramas tipo “Comer, Rezar, Amar”, ao mesmo tempo em que reconhece o dilema que as mulheres podem enfrentar quando rotuladas como esposas e mães. Assim, meio aos trancos e barrancos, “Mafia Mamma” luta com esforço (sem bravura) para conciliar romance, ação, risos e alguma coisinha de reflexão.

Fora da energizante reviravolta de Collete, em performance entre recreativa e burlesca, “Mafia Mamma” percorre sua trajetória como se poderia imaginar: um roteiro e uma direção com quase nenhum arroubo de criatividade. Há uma premissa atraente e alguma química entre Toni Collette e sua co-estrela Monica Bellucci. No entanto, “Mafia Mamma” é assunto modesto e provavelmente não destinado a maiores bilheterias.

Kristin Balbano (Collette) mora em Los Angeles com o inepto marido Paul (Tim Daish), ainda mais desanimada porque seu filho único foi para a faculdade. Ela fica chocada ao saber que Paul está tendo um caso e viaja para a região italiana da Calábria, onde se conecta com sua família distante após a morte do avô. Kristin logo percebe, no entanto, que não foi apenas convocada para o funeral: era desejo do falecido que ela assumisse os negócios da família. O que Kristin não sabia que isto envolvia empreendimentos, digamos, à margem da lei. Com a ajuda de Bianca (Bellucci), sua consiglieri de confiança, a honesta Kristin aceita com relutância a função nova e assustadora de rainha da máfia.

Felizmente, as piadas não ridicularizam a obra-prima de Coppola (ainda que citada meia dúzia de vezes) como aqueles pastiches da Cosa Nostra de 20, 30 anos atrás, e que merecem dormir com os peixes, enfiados num pedestal de cimento. Nesta descafeinada comédia, cuja grande virtude é não ter vergonha de ser boba (entendam como quiserem) e que nunca tenta justificar sua premissa absurda, há duas ou três piadas que funcionam, e a ideia de ver Toni Collette em papel sumamente atípico não deixa de ser algo atraente.

Imagem ilustrativa da imagem Dia de “Mafia Mamma”
| Foto: Divulgação

Mas o resultado final é o de um corpo esquartejado. É uma história masculina em chave de empoderamento feminino? Em consequência, é uma história de lealdade entre mulheres? Há crimes violentos de verdade porque é preciso ser fiel à crueldade da Cosa Nostra? Há um romance incluído a fórceps no roteiro porque ao prólogo de fragilidade da protagonista interessam viagens de iniciação (como aquela idílica viagem à Toscana ?) e redescobertas interiores?

E quem não quiser comemorar o Dia das Mães assistindo essa disparatada paródia de mafiosos, pode ir à sala ao lado ver peripécias do quarteto feminino (Jane Fonda, Diane Keaton, Candice Bergen e Mary Steenburgen) em outra comédia, também na Itália, “Do Jeito Que Elas Querem 2”. E feliz Dia da Avó. Com todo o respeito.

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