São Paulo, 09 (AE) - Cantor, compositor, instrumentista, arranjador, folclorista, produtor, professor prático de cultura brasileira, Dércio Marques conseguiu a proeza de lançar cinco CDs em 1999. Cantigas de Abraçar, Espelho dágua e Canto Forte saíram antes; o primeiro é um álbum duplo, comemorativo dos 30 anos de carreira. No fim do ano, vieram aos aparelhos de tocar CD os Cantos da Mata Atlântica e as Folias do Brasill.
São obras admiráveis, como tudo o que Dércio fez, em qualquer das atividades a que se dedicou na profícua, riquíssima vida artística, desde a produção dos discos de Diana Pequeno e do cantador Elomar Figueira de Melo, nos anos 70, mesma época em que participou da equipe de pesquisas que realizou o mapeamento da música do Centro-Oeste e Sudeste para a gravadora Marcus Pereira.
Ultimamente, Dércio dedica-se, principalmente, ao recolhimento de canções interioranas, que tem gravado com corais infantis - é difícil disco de coral infantil ser bonito (os pais das crianças acham bonito). Os que Dércio faz são rigorosamente lindos.
Os últimos lançamentos dele não fogem à regra. Folias do Brasil é uma realização do Centro Marista de Cultura e do Banco Santos. Reúne 25 cantos de devoção a Jesus, cantados ou feitos para lembrar os que são cantados nas festas de Reis e do Divino em pontos diferentes do País.
"Abre a porta, oh, maninha/ Que a folia já vem/ Chame o povo/ Que é hora de cantar", canta Guru Martins, acompanhado por Dércio, à viola. Guru Martins é um dos autores identificados em Folias do Brasil. Pena que o disco não localize os autores nas regiões, bem como não localize os cantos de domínio público, que são maioria. Entre os autores identificados, estão Vital Farias (Canto da Lua Cheia), Elomar (Noite de Santos Reis), Levi Ramiro (Folia dos Duarte), Fernando Guimarães (Folia de Bem Querer), Antônio Madureira (parceiro de Ronaldo Brito e Assis Lima em Cantiga de Acalentar o Menino). Essa é uma turma do Nordeste.
Mas Folias do Brasil abre com a Saída dos Cavaleiros, do Divino de Buritis, Minas Gerais; de Minas, precisamente de Monte Belo, vem também a Retirada, domínio público, já final da festa. As melodias das festas de Reis e do Divino são construídas em tom maior e guardam aquela misteriosa qualidade evocativa que todos os grandes compositores perseguem: tem um quê de tristeza que o modo maior desaconselha, em princípio, e que em Folias do Brasil soa ainda mais eloquente quando os cantores são o maravilhoso Giovani Guimarães, o impagável canário Xangai, o emocionante Coral dos Trovadores do Vale, a Família Alcântara ou o coral de Trás-os-Montes, Portugal, de onde vêm as festas.
Os Cantos da Mata Atlântica são uma pastoral da terra brasileira. A preocupação ecológica é das principais de Dércio e da irmã dele Doroty Marques, co-produtora do disco, que conta com a participação de 500 crianças dos colégios Marista Arquidiocesano, Nossa Senhora da Glória e do Centro Social Irmão Justino (todos de São Paulo, capital) e Santista (de Santos).
A maior parte das músicas é de Luís Perequê (cujo CD-solo vai comentado abaixo), que pergunta, na primeira faixa: "Você já andou pelo mato/ Pisou em espinho/ Pegou carrapato/ Errou de caminho? / Não? Então vá/ Porque a minha cantiga te espera por lá." É emocionante. É o que nossos filhos deveriam estar ouvindo, pelo bem deles mesmos. O leitor não encontrará esses discos no comércio, naturalmente. Peça diretamente ao autor, pelos telefones (0--11) 485-1519 e 270-4248.