Convidada há muitos anos pelo diretor de teatro Fauzi Arap para protagonizar um espetáculo a partir de textos de Clarice Lispector, Denise Stoklos declinou da proposta. À época, a atriz e performer achava que a obra clariceana que a encantava desde a adolescência era um universo quase inatingível. Somente agora, aos 71 anos e depois de algumas décadas de uma trajetória artística reconhecida mundialmente, a artista decidiu aceitar o desafio.

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O resultado da empreitada poderá ser conferido pelo público londrinense neste domingo (9), às 20 horas, no Teatro Ouro Verde. Em sua primeira participação no Festival de Dança, a artista traz à cidade o espetáculo “Abjeto-Sujeito: Clarice Lispector por Denise Stoklos”. A montagem reúne o “teatro essencial” – linha cênica da qual é idealizadora – com a obra clariceana, permeado pela voz de Elis Regina, que surge entre uma cena e outra inspirando leituras corporais.

Com dramaturgia de Wellington Andrade e direção de Elias Andreato, “Abjeto-Sujeiro” é um encontro de manifestações artísticas sem amarras e sem redes de segurança, como convém a uma atriz que nunca fez do palco um lugar de teatralidades convencionais. Denise faz uma investigação radical a respeito de como o corpo, a voz e a emoção da intérprete expressam uma palavra literária empenhada em dizer o que a todo momento beira o indizível. É o que ocorre em suas leituras perculiares do conto "A quinta história"; nos romances "Água viva" e "A paixão segundo G.H.”; e na crônica “Vergonha de viver”, por exemplo. Canções interpretadas por Elis Regina, como “Meio-termo” e “Os argonautas”, pontuam de tempos em tempos o percurso que vai da negação à constituição do sujeito.

Denise Stoklos traz a obra clariceana para o teatro-essencial, permeando o espetáculo com a voz de Elis Regina
Denise Stoklos traz a obra clariceana para o teatro-essencial, permeando o espetáculo com a voz de Elis Regina | Foto: Leekyung Kim/ Divulgação

Em seus últimos trabalhos Stoklos tem estado mais porosa a materiais dramatúrgicos com os quais, pela via do exercício da imaginação e da consciência públicas, estabelece uma proveitosa interlocução, fazendo com que, por exemplo, Melville, Kafka, Cortázar, Thomas Bernhard, e agora Clarice Lispector, façam sentido para nós por meio de seu corpo e de sua voz. Não constituindo propriamente um espetáculo teatral, embora não lhe faltem as marcas da teatralidade que a performer vem desenvolvendo já há quase cinco décadas, “Abjeto-Sujeito: Clarice Lispector por Denise Stoklos” é uma espécie de recital retesado pelas cordas da tragédia e da comédia – como convém ao encontro de uma atriz de intensidade ímpar com uma escritora cuja linguagem é essencialmente dramática.

Serviço:

Abjeto-Sujeito: Clarice Lispector por Denise Stoklos (São Paulo - SP)

Quando – Domingo (9), às 20 horas

Onde - Teatro Ouro Verde (R. Maranhão, 85)

Quanto - R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada)

Pontos de venda - Plataforma Sympla e bilheteria do Teatro Ouro Verde, das 16 horas até o início do espetáculo

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