Curitiba, um grande palco
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sexta-feira, 21 de fevereiro de 1997
Zeca Corrêa Leite Sucursal de Curitiba
Cláudia RibeiroA atriz Guta Stresser leva a Curitiba o espetáculo O casamentoComo tradicionalmente acontece, a produção do Festival de Teatro de Curitiba deu por oficializado o evento com um almoço realizado no Aeroanta, anteontem. Em sua sexta edição, que vai acontecer de 13 a 23 de março, estão sendo esperados mais de 50 mil espectadores que assistirão a 22 espetáculos. Os bilhetes estão à venda no stand do FTC do Shopping Crystal Plaza, ao preço único de R$ 17,00, das 10 às 22 horas.
Metade dos cartazes do festival é inédita, como Reis do Iê-Iê-Iê, de Gerald Thomas; O Auto do Rico Avarento, de Ariano Suassuna, com direção de Romero de Andrade Lima; O Doente Imaginário, de Moliére, com o Grupo Galpão de Belo Horizonte; e Nora - Casa de Bonecas, de Ibsen, numa adaptação de Ingmar Bergman, direção de Felipe Hirsh. É a peça que representará o teatro paranaense.
Na outra metade da lista de atrações estão espetáculos significativos como Para Sempre, de Maria Adelaide Amaral; O Sonho, de Strindberg, com direção de Gabriel Villela; Tristão e Isolda, adaptação de uma lenda ancestral, que tem a direção de Enrique Diaz e Cesar Augusto; e Romeu e Julieta numa visão nordestina de Romero de Andrade Lima.
Os espaços da cidade são inteiramente ocupados nos onze dias em que dura o FTC. Do Guairão, no centro da cidade, à Ópera de Arame, no Pilarzinho, haverá cartazes para todos os gostos no final de março. Entra em cena o Memorial da Cidade, que será sede de encontros, debates e workshops, bem como os Faróis do Saber.
Ainda não estão definidos os programas, mas uma história musicada, escrita especialmente por Ziraldo, com Marco Nanini, o próprio Ziraldo e outros convidados deverá ser levada num dos Faróis.
Cursos, livros e autógrafos Além dos palcos o Festival de Teatro de Curitiba contará com eventos paralelos. Terá workshop, oficinas, lançamento de filme, feira de negócios, sessões de autógrafos, debates e master class. Uma experiência interessante ficará a cargo de um grupo curitibano, que apresentará na Boca Maldita Aquariofobia.
A diretora Bia Lessa fará pré-lançamento na cidade de seu filme Crede-mi. no Cine Luz, à meia-noite do dia 21 de março. Deborah Colker, a autora dos grandes projetos da dança moderna no País trará o workshop Expressão e Movimento, entre os dias 21 e 23 no Memorial da Cidade. São 30 vagas. Inscrições pelo fone (041) 342-1812.
Cristina Mutarelli, que no segundo semestre estréia Impulsiva, com direção de Marcia Abujamra, dará uma Oficina de Comédia, de 19 a 23 de março no Memorial da Cidade. São 20 vagas. Inscrições pelo (041) 342-1812. No domingo 16, às 10h30, uma manhã de autógrafos vai reunir os escritores Clara Góes, Nelson de Sá, Ziraldo, Gianni Ratto e Neyde Veneziano. Os atores Joana Fomm e Leon Góes farão a leitura do texto O Cão e o Cavalo, de Clara Góes.
Também no Memorial haverá a série Encontros de 15 a 19 de março, às 16 horas, com artistas consagrados que participarão de um ciclo de encontros, tendo o jornalista e dramaturgo Oswaldo Mendes como entrevistador. Haverá participação da platéia. Os convidados são Eva Wilma (dia 15), Gianni Ratto (dia 16), Gianfrancesco Guarnieri (dia 17), Lala Schneider (dia 18) e Orlando Miranda (dia 19).
O ato da criação será tema da master class, com personalidades do teatro brasileiro, entre os dias 20 e 23 no Memorial. Os profissionais darão conferências abertas para falar de suas experiências e da construção de seus trabalhos. Maria Adelaide Amaral (dramaturgia), Paulo Betti e Walderez de Barros (criação do personagem) , Eduardo Tolentino (encenação), Kalma Murtinho (figurino), José Anchieta (cenografia) e Jorge Tacla (iluminação).
Família no aquárioNas atividades paralelas do festival a peça Aquariofobia poderá se transformar na vedete da Boca Maldita. Os artistas plásticos definiriam o trabalho como instalação, mas como são atores que estarão nesse projeto, é o teatro interferindo diretamente na rua. Durante todos os dias do festival um grupo deles estará morando numa casa transparente em pleno calçadão.
São os personagens de uma família que ao acordar numa certa manhã descobrem que as paredes da casa ficaram transparentes. Pior ainda - eles transformaram-se em prisioneiros e terão de conviver uns com os outros eternamente. A impossibilidade da liberdade altera aos poucos o comportamento, e o que há de melhor e de pior na personalidade de cada um flui naturalmente, conforme os movimentos e os acontecimentos do dia-a-dia.
Aquariofobia é aquilo que o título diz: a casa seria como um aquário, a prisão de vidro que encerra seus habitantes na solidão transparente. A mesma coisa que o homem faz com os peixes e todos os animais - há sempre o gosto da ruptura da liberdade pela prisão. Aqui a situação metafórica desnuda a condição do homem moderno que ao se ver cercado de fax, telefone, computador, televisão e outras geringonças tecnológicas, protege-se das ruas e ele próprio fecha-se no seu cárcere.