Você pode viver dez anos ou cem. Você pode dizer que já viu de tudo na vida. Engano!
Para ver tudo é preciso um coração, e uma boa parcela da população carrega no peito um arremedo de coração.
Aprendi a duras penas que você pode se doar anos e anos para determinadas pessoas, mas a maioria delas, no fim, vai lhe virar as costas. Principalmente quando você deixar de ser importante pra elas.
Até hoje tentei plantar bons frutos, mas semeei em solo infértil. A terra era podre. Muito pouca coisa boa brotou.
Desta terra colhi humilhações, injúrias, indiferença, rancores e mágoas. Dei o melhor adubo, fertilizei, tirei as ervas daninhas. Porém a terra não tinha o que retribuir. Solo arenoso.
O tempo passou, e como boa agricultora, parti pra novas terras. Agora estou começando uma nova semeadura. Procurei terras melhores. Ando à procura de ajudantes. Quero que neste novo campo, eu não tenha que colher as mesmas ervas colhidas outrora...
Que nasçam flores, árvores frutíferas, capim de cheiro... Que nesta terra nova eu possa finalmente repousar meu corpo cansado e contemplar a Paz, a Bondade e o Amor.
Que nesta terra nova meus filhos venham ver e participar dos frutos do meu trabalho, que meus amigos tenham sempre um pouso certo. Que os meus netos possam aprender as coisas virtuosas da vida e tornando-se Gente.
Não quero mais me enganar na hora de plantar. Vou procurar as melhores lojas. As que frequentei até hoje, vendiam falsas sementes.
Sei que não será um caminho fácil, mas vou em frente.
Ainda não vivi cem anos... Mas os que me restam vou ser o melhor agricultor!

Deyse Chagas é estudante de Radiologia em Maringá

Crônica é a coluna da FOLHA2 publicada todas as quartas-feiras. A cada semana o leitor será brindado com diferentes autores. Os textos, com no máximo 30 linhas, devem ser encaminhados com telefone de contato para [email protected].