São Paulo - A Livraria Cultura fechou três de suas unidades na última semana, em meio a uma crescente crise financeira que levou a rede a encerrar suas atividades em quatro cidades brasileiras nos últimos meses. A empresa encerrou suas atividades nos shoppings Villa-Lobos e Bourbon, um de seus principais cartões de visita em São Paulo, e no shopping Curitiba, a única na capital do Paraná.

Em São Paulo, isso significa o fechamento de metade das unidades que a rede ainda tinha dentro de shoppings. Continuam ativas as lojas do Iguatemi e do Market Place, que está em reformas, e a instalada no Conjunto Nacional.

"Desde março de 2020, devido a todas as restrições impostas pela crise da Covid-19, iniciamos negociações com todos os nossos locadores para que tivéssemos condições comerciais adequadas à nova realidade e pudéssemos manter nossas lojas de maneira sustentável", informou a empresa em nota. "Apesar dos esforços de todos os lados, o prolongamento da crise e a falta de previsibilidade nos fez tomar a decisão."

A empresa vem enfrentando uma série de crises desde 2016, quando começou a preocupar parte do mercado editorial com indícios de problemas financeiros. Em 2018, após atrasos de pagamento a editores, a livraria entrou com um pedido de recuperação judicial.

No ano passado, com a chegada da pandemia, a crise da Cultura só aumentou. Em setembro, parte dos credores rejeitaram mudanças no plano de recuperação judicial da empresa, com anuência do juiz responsável pelo caso, o que criou um impasse judicial. Atualmente, as dívidas da Cultura totalizam cerca de R$ 292,5 milhões, segundo o último balanço divulgado e o risco de falência segue à espreita.

Além dessas unidades fechadas na última semana, a rede encerrou recentemente sua operação em três cidades - Brasília, Ribeirão Preto e Campinas, as duas últimas no interior paulista.

A nota da Cultura afirma que o coronavírus e as vendas online "trazem desafios adicionais para o modelo tradicional das livrarias a médio e longo prazo". "Parte importante do faturamento das lojas vinha de eventos, noites de autógrafos, atividades culturais, gastronômicas e obviamente de contato social. Infelizmente, não acreditamos que tais atividades voltarão com força ainda em 2021."

A nota afirma ainda que o plano da Livraria Cultura é voltar a ter lucro ainda neste ano para conseguir sair do processo de recuperação judicial e, por isso, revisa o funcionamento das lojas e serviços físicos, priorizando aqueles que trazem retorno a curto prazo. Segundo a nota, a rede promete lançar novos projetos em março e aumentar a integração dos meios digitais.

Com a pandemia, várias livrarias tradicionais do País estão dificuldades: faturamento também vinha de eventos, noites de autógrafos e contato social
Com a pandemia, várias livrarias tradicionais do País estão dificuldades: faturamento também vinha de eventos, noites de autógrafos e contato social | Foto: iStock

Assim como a Cultura, a Saraiva é outra livraria que há anos enfrenta uma série de crises e tenta sair de um processo de recuperação judicial. Só entre janeiro e novembro do ano passado, a rede fechou 36 de suas lojas e teve um prejuízo de R$4,9 milhões em novembro, como mostrou um balanço da consultoria RV3, divulgado no início deste ano.