“A cultura brasileira perde, com a morte da Nitis, uma pessoa referência, uma pessoa desbravadora, uma grande fomentadora das culturas todas que o teatro toca. Ela foi uma pioneira para todos nós. Ela criou aquele festival [FILO] como uma espécie de resistência àquele momento político que todos nós passamos dentro daquele ambiente universitário. A revolta que todos nós tínhamos contra aquele sistema político, ela transformou num movimento de expressão não somente artística, mas através de um movimento de expressão artística ela colocava posições políticas que eram muito combatidas pelos militares. Era um teatro de luta contra a repressão. Londrina é uma cidade muito privilegiada pela obstinada ação da Nitis Jacon. Eu louvo, agradeço e parabenizo a sorte de Londrina de ter tido uma mulher como essa”.

Cacá Carvalho, ator e diretor teatral

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"Uma grande mulher, uma grande artista, uma grande diretora à frente dos grupos Gruta e Proteu, uma grande liderança na área da cultura em Londrina e no Paraná. Aluna brilhante do curso de medicina da UEL, médica atuante, depois vice-reitora da UEL, criadora do curso de Artes Cênicas, diretora do Teatro Guaíra e ainda quase se elegeu senadora. Desde que se retirou por motivo de saúde, o meio cultural de Londrina sentiu fortemente sua ausência nos debates e nas suas ações culturais para a comunidade.

Jamais esquecerei a noite de estreia da peça “Salto Alto” que ela dirigiu na década de 80: os aplausos em cena aberta e as palavras do autor Mario Prata, afirmando que Londrina era “a capital cultural do Paraná” naquele momento – obviamente graças à potência fulgurante de Nitis Jacon e do elenco do Proteu. Entre tantos feitos memoráveis, destacam-se suas obras-primas teatrais como “Bodas de Café” e “ZYdrina”, que levaram ao palco a história de Londrina de maneira contundente e irreverente, como era seu estilo. De Nitis ainda recordo a inteligência agudíssima e a delicadeza em pequenos gestos. Deixa muitas saudades. A comunidade londrinense tem agora a obrigação de construir o Teatro Municipal Nitis Jacon e imortalizar seu nome."

Maurício Arruda Mendonça, dramaturgo

“Eu não consigo desassociar a minha vida, seja pessoal ou profissional, da Nitis. A Nitis, de certa forma, me lapidou, me moldou com muito rigor, mas com um tanto igual de amor. Ela era uma mulher muito exigente, muito forte, exigia muito de todos nós que trabalhávamos com ela, mas ao mesmo tempo ela era uma mulher muito leal, muito fiel, então se a gente tinha nossas rusgas internas, ai de quem de fora viesse se intrometer nisso, ela virava uma leoa para proteger os seus filhotes. [Com o FILO], a Nitis foi responsável por colocar Londrina no mapa mundial das artes cênicas e ela foi e é uma pessoa ímpar e insubstituível. E a Nitis não parte, pessoas como ela não vão embora, elas ficam, seja dentro de mim, seja na minha tentativa de honrar a minha formação, os conhecimentos que eu recebi dela ou seja na vida de tantas pessoas que ela influenciou. Ela rompeu essa coisa de interior e posso dizer que o mundo fica mais pobre agora”.

Maria Fernanda Coelho, atriz, diretora teatral e produtora cultural

"Cheguei em Londrina em 2001, quando a Mestra Nitis Jacon já era uma referência internacional, bem como o FILO, festival por ela encorpado. Duas imagens de Nitis são presentes em mim, igualmente poderosas e inspiradoras: uma palestra no Teatro Guaíra e os bastidores de uma montagem que ela dirigiu para o curso de artes cênicas da UEL, quando ainda era professora. No centro do grandioso teatro, ela era a voz eloquente que propunha rumos para a arte como ensino e coisa pública, ressaltava a importância de o artista saber se posicionar e se impor, para o bem coletivo e para as coisas realmente de importância. Noutra via, durante uma apresentação, no antigo espaço Núcleo 1, um ator caiu das pernas-de-pau durante uma cena, e nesse dia ela era a “pequena senhora”, professora diretora, calçando chinelos havaianas que, a pequenos passos apressados, adentrou o palco e levantou o garoto! Essa prontidão, humildade e força descomunal que surge da alma/corpo diante da urgência revela-me Nitis Jacon tanto quanto ou mais que a figura pública e política que ela esteve."

Aguinaldo de Souza, chefe da Divisão de Artes Cênicas - UEL

Nitis Jacon é lembrada por várias gerações de artistas e produtores culturais pelo trabalho que redimensionou a cultura do Paraná
Nitis Jacon é lembrada por várias gerações de artistas e produtores culturais pelo trabalho que redimensionou a cultura do Paraná | Foto: Acervo FILO - Festival Internacional de Londrina

"Conheci Nitis assim que cheguei em Londrina para cursar jornalismo na UEL, no final dos anos 1980. Um de meus primeiros textos no curso, datilografado nas antigas laudas de papel, foi sobre teatro em Londrina, os grupos, o Festival. E tinha aquela mulher inspiradora que vi no palco do Ouro Verde ao final da inesquecível apresentação de Kazuo Ohno, que ajoelhou para receber flores da anfitriã. Era Nitis Jacon - figura marcante na minha trajetória como repórter de Cultura da Folha de Londrina e atriz moldada pelo teatro de grupo londrinense."

Jackeline Seglin, atriz, jornalista, coordenadora de comunicação do FILO

"O fim de tarde de terça-feira (19) trouxe a tristeza e muitas lembranças quando soube da morte de Nitis Jacon, atriz, diretora teatral e criadora do FILO (Festival Internacional de Londrina). Foi dia de, literalmente, parar as máquinas na Folha de Londrina para refazer a edição da Folha 2, no início da noite, e homenagear aquela que conectou a cidade aos palcos do mundo. Nitis redimensinou nossa cultura, ligando a cidade ao teatro de vanguarda da Europa, da América Latina e até do Japão. Quem não se lembra da sua ousadia ao trazer aos nossos palcos o bailarino de butoh Kazuo Ohno ou o mestre Eugenio Barba? Além de inúmeras companhias nacionais que deram a Londrina a real dimensão da arte teatral, sem contar aquele "universo paralelo" que foi o Cabaré do Filo. Viva Nitis Jacon! Sua influência sempre estará presente nas memórias dos teatros e seus espetáculos, como um abrir de cortinas e mundos"

Célia Musilli, cronista, poeta, editora de cultura da FOLHA

"A importância de Nitis Jacon para o teatro paranaense e brasileiro é inquestionável e notório, mas existe um outro lado igualmente importante, ou mais, que é a capacidade que ela sempre teve de unir pessoas ao seu redor e compartilhar seus saberes. Sempre pensava no coletivo, trabalhava em grupo. Formou pessoas, criou obras e deixa um legado imenso para nossa cidade. Para além da mulher guerreira, da atriz, da gestora e professora Nitis sempre será lembrada pela singularidade e pela pluralidade. Uma pessoa em muitas. Uma mulher admirável e eterna."

Luiz Bertipaglia , curador e membro da comissão organizadora do FILO

“Era ela maravilhosa, mas exigente também. Ela foi uma segunda mãe para mim porque a diferença de idade da minha mãe para ela era de três anos. A gente brigava, discutia, aprontava, mas eu sempre a vi com admiração e apego com as coisas que fazia, principalmente com a família. Ela conseguiu colocar Londrina no eixo internacional, isso Londrina deve a ela, se não fosse isso, a cidade nunca teria um festival internacional com tantas peças de fora. Ela podia ser brava, mas era uma mulher dinâmica, fazia as coisas, enfrentava. Londrina ficou reconhecida internacionalmente em cultura e teatro. Ela transformou o FILO de Todas as Artes, ela trouxe música, balé e teatro. Eu espero que um dia o ‘elefante branco’ receba o nome de Teatro Municipal Nitis Jacon”.

Darwin Rodrigues, responsável pelo setor de logística do FILO

“É inegável que Nitis Jacon é a peça fundamental para as pessoas da minha geração, que teve a oportunidade de viver e conviver com ela, a influência sobre a nossa forma de fazer teatro. Ela se declarava como uma operária da arte, como uma operária do teatro. Eu cresci e entendi isso e é assim que me sinto também por causa da forma com que eu a via trabalhando, dirigindo e lutando pela arte, lutando pelo teatro londrinense. A Escola Municipal de Teatro tem muito a agradecer por tudo o que a gente conseguiu aprender graças ao esforço e trabalho da Nitis. Com muita tristeza a gente se despede da Nitis hoje, mas é com muita alegria que a gente revive tudo o que conseguiu aprender com ela, com tudo o que ela pôde proporcionar para a gente em termos de FILO, dos espetáculos que ela lutou para trazer para Londrina e das oficinas, que era a forma que a gente tinha de aprender e viver o teatro”.

Sílvio Ribeiro, coordenador da Escola Municipal de Teatro de Londrina