Um dos mais completos bancos de dados sobre a economia criativa no país acaba de lançar uma plataforma de consulta inédita, que chegou, porém, ao público com uma função inesperada.

Os últimos dados lançados pelo Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural, com informações disponibilizadas por diversas instituições no ano passado, poderiam retratar um setor que movimentava mais receitas do que, por exemplo, o comércio de peças automotivas no país.

No final das contas, o painel acabou dando informações sobre um mercado atingido em cheio pelo impacto da pandemia da Covid-19.

Segundo o levantamento, o setor empregava cerca de 4,9 milhões de pessoas. "A pesquisa se torna ainda mais importante agora, porque podemos saber qual é o potencial de um setor específico e entender o que está sendo posto em risco", afirma Leandro Valiati, pesquisador do departamento de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que liderou a realização do projeto recém-lançado.

No retrato, São Paulo aparece como o estado mais pujante dentro deste mercado, com 1,4 milhão de trabalhadores no setor, seguido por Minas Gerais, com 510 mil, e Rio de Janeiro, com 428 mil.

São Paulo aparece como o estado mais pujante no setor de cultura,, com 1,4 milhão de trabalhadores no setor
São Paulo aparece como o estado mais pujante no setor de cultura,, com 1,4 milhão de trabalhadores no setor | Foto: iStock

O Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural analisou também o número de empresas da economia criativa existentes no país. Em 2017, segundo os últimos dados reunidos, o país contava com 147,3 mil organizações atuando no segmento.

As fontes usadas são diversas -entre elas estão o IBGE, a Secretaria Especial da Cultura e a Ancine, a Agência Nacional de Cinema.

Compõem o mosaico da produção nacional relativa à economia criativa desde empresas da indústria da moda (que eram 59,2 mil naquele ano) até a publicidade e serviços empresariais (15,8 mil), passando por criações no cinema, na música, na fotografia, no rádio e na televisão (12,4 mil empresas). O painel também deu lugar a atividades artesanais e à indústria editorial.

Em 2016, segundo o último dado oficial disponível, o conjunto de empresas dedicadas à economia criativa gerou receita bruta da ordem de R$ 335,7 bilhões e lucro bruto próximo a R$ 200 bilhões para as empresas envolvidas nas atividades desse segmento.

O Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural permite investigar também as taxas de surgimento e extinção das empresas do setor criativo. Entre 2016 e 2017, o volume de encerramento de negócios do setor foi de -3%. A taxa negativa significa que mais empresas foram fechadas do que abertas.

Valiati afirma que ainda não existe uma avaliação sobre o impacto das medidas de prevenção à pandemia da Covid-19 no setor da cultura, mas diz que a tendência é de forte queda de empregos e receitas, a exemplo do que houve nos Estados Unidos. "Certamente vamos assistir à eliminação de postos de trabalho e de empresas neste ano", afirma o pesquisador.

"Mais do que nunca, vamos precisar de políticas públicas estruturantes para a cultura e setores criativos, assim que a pandemia passar", diz Eduardo Saron, diretor do diretor do instituto Itaú Cultural.

Ele diz que uma das atividades que se preservaram foram os canais de streaming. "Porém boa parte da receita gerada pelo vídeo sob demanda acaba saindo do país", afirma.