"Sustentabilidade e a Cultura da Paz: pazear é possível", é o tema da palestra que o escritor, filósofo e professor londrinense Mário Sergio Cortella apresenta na sexta-feira (23), no Teatro Marista, às 19 horas. O evento tem o apoio da ACIL - Associação Comercial e Industrial de Londrina, Colégio Marista, Folha de Londrina, Rádio CBN e 100,9 FM. A palestra integra as ações da 22ª Semana Municipal de Cultura de Paz de Londrina e tem como gestor administrativo Luis Claudio Galhardi.

Diante do tema que permite reflexões, Cortella concedeu entrevista à radio CBN e à FOLHA, abordando o assunto com explicações, situações do cotidiano e perspectivas de como manter a paz em atividades, decisões políticas, relações familiares, corporativas e pessoais para comportamentos mais pacíficos e harmônicos.

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Movimentos como o Londrina Pazeando contribuem para a pacificação das relações humanas. Na sua opinião, qual a necessidade ou importância desses movimentos?

Uma das coisas mais perigosas na nossa convivência é a letargia, é quando a gente se conforma, quando a gente se apequena, quando a gente se acovarda e usa uma expressão que é muito negativa "o que eu posso fazer..." Que é uma forma entregue, desalentada com reticências ao final. Um movimento como o Londrina Pazeando e outros também, fazem com que as reticências, ou seja, os três pontinhos, que são sinal desânimo, sejam substituídos por um ponto de interrogação e no lugar de dizer o que é que eu posso fazer com três pontinhos, estabelece um compromisso porque aí a frase se torna: "O que é que eu posso fazer?" E essa não é a pergunta da insolência, é a pergunta de eu me colocar disponível. Se eu desejo que todas as pessoas sigam juntas para esse lugar que é o da harmonia, da paz, da dignidade coletiva, eu tenho que me colocar em movimento e não em paralisia.

Estamos vivendo um momento diferente, com ânimos acirrados, como o senhor avalia esses casos de violência em que as pessoas parece que estão usando a eleição como uma válvula de escape?

A gente tem uma coincidência de fatores que são múltiplos e que, sem dúvida, coincidência sendo, estão acontecendo ao mesmo tempo. Isto é, estamos vivenciando um momento de disputa política , o que numa democracia pode trazer uma alteração da temperatura para mais alto, mas ela vem junto com uma divisão profunda das discussões que remontam aos dez anos mais recentes no campo das ideologias e tudo isso se soma a um momento econômico muito mais complexo que advém de uma pandemia que ainda não cessou. Isso significa que aquelas forças de pressão que estavam amarradas no dia dia a dia, elas estão vindo à tona e nós não estamos conseguindo ainda compreender com toda clareza que não existe vitória. Insisto não haverá sucesso se nós persistirmos com essa rota. Afinal, conflito é diferente de confronto. Conflito é divergência de postura, de concepção e faz parte do nosso cotidiano. Confronto é algo que ameaça a própria convivência. Por isso, este é um tempo em que a gente precisa ficar mais atento ao que está a nossa volta para não cairmos nessa mesma armadilha, afinal como lembrou Mahatma Gandhi "Olho por olho e uma hora acabamos todos cegos".

Mário Sergio Cortella: "Se eu desejo que todas as pessoas sigam juntas para esse lugar que é o da harmonia, da paz, da dignidade coletiva, eu tenho que me colocar em movimento e não em paralisia"
Mário Sergio Cortella: "Se eu desejo que todas as pessoas sigam juntas para esse lugar que é o da harmonia, da paz, da dignidade coletiva, eu tenho que me colocar em movimento e não em paralisia" | Foto: Anderson Coelho/ Arquivo Folha 30-11-2018

Independentemente de quem vença as eleições, o senhor acredita que seja possível encontrar um caminho mais pacífico?

Nós temos de fazê-lo, temos de encontrar. Ser pacífico não significa ser passivo. Uma pessoa pacífica é aquela que tem como horizonte a convivência harmoniosa, a possibilidade de conseguirmos lidar com as nossas diferenças de maneira que elas componham um momento de ir adiante, cada um com a sua autonomia, sem que isso implique em rupturas.

No entanto, o momento é tão tenso que o tempo eleitoral, passada a fase de decisão, não será suficiente, no meu entender, para que haja um acalmamento, um serenamento dessas questões. É preciso que as instituições públicas, aquilo que nos pertence numa república, tenham uma força de ação que não necessariamente é aquela marcada pela brutalidade e isso jamais deve vir à tona, mas que seja marcada necessariamente por uma atenção à nossa Constituição, ao respeito recíproco, às regras de um jogo que foi colocado há mais tempo. Portanto, esse jogo colocado há mais tempo é um jogo do bem, que é a possibilidade das escolhas que uma nação tem de fazer e precisa fazê-la.

Eu gostaria muito que o momento eleitoral, quando for ao ponto de conclusão, seja também o encerramento daquilo que é ameaçador da nossa paz coletiva. No entanto, o nosso esforço terá que ser muito grande. Democracia não é ausência de regras, democracia é a construção coletiva das regras. Democracia não é ausência de ordem. Democracia é a ausência de opressão e qualquer circunstância que respeite aquilo que for colocado dentro da lei.

Em que medida a cultura contribui para a manifestação da violência, nas redes sociais, jogos, filmes e no próprio noticiário?

A cultura é o que nos cerca, é onde nós estamos e está em nós. E se essa cultura a nossa volta é uma cultura que em vários momentos apresenta rupturas, ela apresenta confrontos negativos, apresenta caminhos de desordem, evidentemente que isso favorece qualquer atitude nessa direção. Uma cultura da paz sempre fará com que haja uma intenção e uma inclinação maior no sentido da paz. É só observar famílias. Quando você tem pai e mãe que falam de modo moderado, que não aterrorizam, que não gritam, que respeitam sem se submeterem à posição alheia, mas respeitam, você tem um modo mais calmo naquela convivência. Muita gente que é submetida a uma cultura de espancamento no cotidiano - inclusive dentro de casa - acaba entendendo aquilo como sendo um modo de presença.

Hoje, o mundo digital favorece sim que a gente possa trazer à tona aquilo que em nós não é bom que seja trazido, mas não é o mundo digital que cria isso. Ele apenas é uma plataforma que dá ocasião para que isso aconteça. A questão central não é retirarmos toda a tecnologia e redes sociais, mas saber usá-las de maneira que promovam a convivência, a capacidade harmônica, a integração da vida - e elas são capazes de fazê-lo.

Quando eu estou me aproximando de alguém com uma faca na mão e você está com uma maçã na mão, eu posso usar essa faca para dividir a maçã e nós dois a aproveitamos ou posso usar a faca para tomar a maçã de você. Obviamente, que o problema não está na faca, né? Não é a faca em si, é o uso que se faz. Nesse sentido, a cultura é muito marcante quando a gente tem a exposição contínua da violência, da brutalidade. A gente pode fazer isso como notícia para que as pessoas não entrem numa adesão àquilo, mas podemos fazer também como entretenimento, como modo negativamente divertido de ocupar o tempo das pessoas. Evidentemente que, por exemplo, o jornalismo tem de apresentar aquilo que está a nossa volta. Quando apresenta como informação, como formação, como alerta, é algo que tem uma positividade. Já quando se apresenta o horror como mero entretenimento como distração, vai se formando uma normalização do bruto ao ponto de nós acharmos que assim é. Por isso, é necessária a capacidade seletiva para que a gente entenda que informar é muito diverso de deformar.

Serviço:

"Sustentabilidade e a Cultura da Paz: pazear é possível",

Palestra com Mario Sergio Cortella

Quando: sexta-feira (23), às 19 horas.

Onde: Teatro Marista - Rua Cristiano Machado, 240

Ingressos: Inteira R$ 180,00 + taxa da plataforma / Meia/Solidário R$ 90,00 + taxa da plataforma

Na compra do ingresso tipo Solidário, todos terão direito ao desconto de 50% do valor, sendo obrigatória a doação de 1kg de alimento não perecível, entregue na portaria do evento ou o pagamento da taxa de R$ 10,00, cobrada também na portaria do evento. Para cada ingresso adquirido é obrigatório 1 kg de alimento, não sendo cumulativo o desconto e nem o alimento válido para mais de 1 ingresso.

Para realizar a compra é necessário se cadastrar na plataforma de compra Ingressim

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