No debate sobre a revitalização do centro histórico de Londrina, aquecido desde o aumento no número de moradores de rua, a consolidação de um corredor cultural que envolva de forma contínua a população em torno dos equipamentos de cultura do centro e ajude a movimentar os setores do turismo, comércio, entretenimento e gastronomia foi trazida como de vital importância para o desenvolvimento local.

O assunto chegou a ser tratado em uma audiência pública, no último dia 6, na Câmara Municipal por moradores do centro, no entanto depende de planejamento, vontade política e sensibilidade do Poder Público em adotar soluções modernas trabalhando em conjunto com atores e conceitos da economia criativa.

Todo o entorno da Concha Acústica precisa de revitalização para configurar um centro histórico ativo, isso inclui melhorias no Bosque e no Teatro Zaqueu de Mello
Todo o entorno da Concha Acústica precisa de revitalização para configurar um centro histórico ativo, isso inclui melhorias no Bosque e no Teatro Zaqueu de Mello | Foto: Gustavo Carneiro

Na ocasião, o presidente do Ippul (Instituo de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina), Roberto Alves de Lima, lembrou que o projeto de lei que estabelece as diretrizes gerais do Plano Diretor para os próximos dez anos traz pontos importantes que podem fomentar a implantação do corredor cultural no centro da cidade. “Prevê tanto a recuperação dos espaços públicos quanto a criação de atividades para dar vitalidade ao espaço, com atividades à noite para combater o esvaziamento do centro”, garante.

Agora, este ponto depende apenas da Câmara Municipal. Por enquanto o PL aguarda pareceres técnicos de entidades de classe e deve ser debatido ao longo de todo o ano. Em seguida, as medidas aprovadas poderão ser incluídas na lei de Uso e Ocupação do Solo e no Código de Posturas do Município. Alves também lembra que aspectos urbanísticos, como a sinalização adequada para orientar os turistas também são medidas que podem prosperar.

Não há como negar que o potencial econômico do setor reforça a urgência de uma discussão mais aprofundada. Segundo informações do Londrina Visitors e Convention Bureau, 2,5% do PIB (Produto Interno Bruto) regional vêm do turismo, o que representa R$ 400 milhões por ano. Já de acordo com dados da Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) apresentados pela Codel, cada turista gasta, em média, R$ 360 por dia quando visita uma cidade brasileira para participar de um evento sendo o período médio de permanência no município de três dias.

A diretora de turismo da Codel, Maitê Uhlmann, até brinca que este é um processo lento, “uma vez que depende do Poder Público”. Entretanto comemora que a pauta tem sido amplamente debatida pelo Executivo no bojo das discussões sobre o Master Plan, um planejamento estratégico que mira o 100º aniversário de Londrina.

Recém-reeleita presidente do Comtur (Conselho Municipal de Turismo de Londrina), Uhlmann aponta quais diretrizes ficaram definidas na última Conferência Municipal do Turismo e que vão ao encontro de tendências mundiais de urbanização nas grandes cidades. “Proposta da rua inteligente em todas as regiões da cidade com parcerias com outros órgãos a partir de um planejamento, implementando tecnologias como semáforos inteligentes, wifi, iluminação inteligente, ventilação inteligente”, destaca.

O que depende previamente da estruturação da Governança do Turismo, aliando esforços do poder público, sociedade civil organizada e o terceiro setor, além de um planejamento para a formação da cadeia de valor do Turismo. O Comtur também estabeleceu a implementação de um hub para centralizar projetos e informações sobre o setor e sugeriu o Sesc Cadeião como alternativa.

Teatro Ouro Verde e  Biblioteca Pública: prédios históricos que merecem um entorno vivo e criativo formando o "corredor cultural"
Teatro Ouro Verde e Biblioteca Pública: prédios históricos que merecem um entorno vivo e criativo formando o "corredor cultural" | Foto: Gustavo Carneiro
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Questionado, o prefeito Marcelo Belinati (PP) garantiu que a Prefeitura está promovendo melhorias no setor cultural, o que deve começar pela revitalização da fachada da Biblioteca Municipal. Belinati adiantou à FOLHA que vai assinar a ordem de serviço para uma reforma de R$ 1,3 milhão no prédio projetado pelos arquitetos Vilanova Artigas Carlos Cascaldi em 1952 para comportar a segunda rodoviária de Londrina e que hoje divide espaço com o Teatro Zaqueu de Melo. Fora de cena há cerca de dois anos por conta de problemas estruturais e não possuir saídas de emergência, as perspectivas para uma reinauguração são boas já que qualquer mudança na estrutura precisa estar em acordo com as normas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Enquanto isso, resta aos produtores culturais continuarem apostando na Concha Acústica e espaços como a Associação Médica para circularem com seus espetáculos. Apoio por parte dos moradores não faltará, garante a Presidente da Associação Concha dos Amigos e Moradores do Centro Histórico de Londrina, Solange Gaya.

“Nós defendemos que sejam inseridas mais atividades culturais, o que faz parte da efetivação da política pública (Promic), que estas atividades sejam bem diversas em razão de termos várias faixas etárias mas duas faixas mais vulneráveis, que são as crianças e idosos. De repente, mais espetáculos de teatro, cinema, biblioteca infantil, contação de histórias, música e jogos”, exemplifica.