Curiosamente, desde 2012, na Câmara de Vereadores de Guimarães, uma cidade do Maranhão, uma foto homenageava e representava a primeira romancista brasileira, autora de Úrsula (1859), como uma mulher branca, quando na verdade, Maria Firmina dos Reis era uma mulher negra. A explicação é de que a escritora pioneira na literatura brasileira teria sido confundida com um escritora gaúcha, Maria Benedita Câmara.

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Além de primeira romancista brasileira, Maria Firmina, em seus 92 anos de vida foi autora de diversas publicações como "A Escrava", livro abolicionista e antiescravagista. Maria Firmina também defendia a luta pela educação e igualdade de gênero, além da igualdade racial. Foi a fundadora da primeira escola mista e gratuita do Maranhão.

O mal entendido só durou todo esse tempo, porque autores e autoras negras, quando não são invisibilizados, são embranquecidos, caso de autores famosos e aclamados como Machado de Assis e Lima Barreto, por exemplo, importantes nomes da literatura brasileira e muitas vezes retratados como pessoas brancas, como aconteceu com Maria Firmina.

Outras autoras negras do Brasil

Carolina Maria de Jesus (1914 –1977) - “Esquentei o arroz e os peixes e dei para os filhos. Depois fui catar lenha. Parece que vim ao mundo predestinada a catar. Só não cato felicidade” (p. 72 - Quarto de Despejo)

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Seu título mais conhecido é “Quarto de Despejo”, livro possível após o jornalismo Audálio Dantas visitando a Favela do Canindé, onde Maria Carolina morava, a conhece por acaso e promover sua publicação. A obra é uma espécie de diário com os registros do dia a dia da autora, por isso o subtítulo “Diário de uma favelada”. Maria Carolina também tem publicado “Casa de Alvenaria”, “Pedaços de fome e Provérbios” e o trabalho póstumo mais recente, de 2014 “Onde Estaes Felicidade”.

Conceição Evaristo - “A cor dos olhos de minha mãe era cor de olhos d’água. Águas de Mamãe Oxum! Rios calmos, mas profundos e enganosos para quem contempla a vida apenas pela superfície. Sim, águas de Mamãe Oxum.” (p. 19 - Olhos d'água)

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O primeiro poema da mineira nascida em Belo Horizonte foi publicado em 1990 no 13º volume dos Cadernos Negros, desde então a autora que é doutora em literatura é um dos nomes mais expressivos dentro e fora da academia. Entre seus títulos publicados estão o livro mais recente, Olhos d’Água, de 2014, o romance Ponciá Vicêncio, de 2003, Becos da Memória, 2006, Poemas da Recordação e Outros Movimentos, de 2008.

Geni Guimarães - "A salmoura tem a mesma cor da garapa. Só a sede descobre a diferença dos sabores."

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A escritora do interior de São Paulo deu início a carreira publicando poemas em jornais da cidade de Barra Bonita. Assim como Conceição Evaristo teve seus escritos publicados nas edições dos Cadernos Negros. Seu primeiro livro de poemas, Terceiro Filho, foi publicado em 1979, em seguida teve seu volume de contos, Leite do Peito, publicado pela Fundação Nestlé. Mas foi com seu trabalho A cor da Ternura, de 1991, que recebeu os prêmios Jabuti e Adolfo Aisen.

Ryane Leão - “Quando perguntarem de mim / diga que fez o possível / mas não conseguiu me estragar.” (Tudo Nela Brilha e Queima).

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Ryane Leão mora em São Paulo e faz parte de uma nova geração da literatura e da poesia, começou sua carreira divulgando seus poemas na internet com seu instagram @ondejazzmeucoração, onde atualmente tem mais de 500 mil seguidores, e através de arte de rua. Tem publicados dois livros, o primeiro, Tudo Nela Brilha e Queima, de 2017 e o segundo Não peço desculpas por me derramar, de 2019.

Mel Duarte - “Agora te carrego no peito / não mais em vagos pensamentos / assim, tenho você sempre por perto / sempre por dentro / de mim e da minha carne.” (Negra, Nua e Crua)

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Ativista e produtora cultural, Mel Duarte, tem publicados os livros Fragmentos Dispersos, de 2013, Negra Nua Crua, de 2016, que também ganhou uma edição em espanhol e Querem nos calar: Poemas para serem lidos em voz alta, de 2019. Mel é um dos nomes contemporâneos mais populares da literatura e poesia brasileira. Além dos títulos publicados, a autora integra o coletivo Slam Voz das Minas e em 2019 lançou um disco de poesia falada - Mormaço - Entre Outras Formas de Calor.