Como você vê Londrina sem o Carnaval de rua?
Pessoas que curtiram ou fizeram o Carnaval de rua na cidade falam da ausência do samba este ano
PUBLICAÇÃO
sábado, 10 de fevereiro de 2024
Pessoas que curtiram ou fizeram o Carnaval de rua na cidade falam da ausência do samba este ano
Walkiria Vieira
"Coordenamos o projeto “Carnaval de Rua de Londrina – Bloco Bafo Quente”, realização da APD (Associação dos Profissionais de Dança de Londrina e Região Norte do Paraná – também realizadora do Festival de Dança de Londrina) de 2014 até 2020 sempre com o patrocínio do Promic por meio da Secretaria Municipal de Cultura. Foi um período de efervescência de iniciativas de novos projetos para garantir à comunidade londrinense o direito da realização do Carnaval – festa que é um dos símbolos máximos da cultura do nosso país.
Começamos com shows em praças públicas nas mais diversas regiões da cidade, e no ano de 2019, foi a primeira vez que colocamos um trio elétrico modesto nas ruas de Londrina. Nesse primeiro momento tivemos um público de 15.000 pessoas.
Em 2020 o evento já estava sendo aguardado e chamava também a atenção do público de outras cidades da região. Foram aproximadamente 50.000 pessoas entre o cortejo que desceu a avenida Higienópolis e terminou na Aterro do Lago Igapó. À exceção de questões técnicas com a sonorização, tendo em vista que o projeto previa uma média de 25.000 pessoas, foram sanados problemas importantes como a limpeza do espaço e demais vias públicas.
Londrina é reconhecida pela potência artística dos seus Festivais, e o Carnaval pode e deve fazer parte deste planejamento que é artístico-cultural, turístico e que movimenta e agrega muito valor à economia do município. É urgente que haja um diálogo efetivo e maduro entre o poder público junto ao Conselho Municipal de Política Cultural, no qual sejam ouvidas propostas, possibilidades de novos caminhos ou a retomada organizada das iniciativas já existentes, críticas e demais apontamentos para que o Carnaval tenha em Londrina seu devido espaço de reconhecimento."
Danieli Pereira (produtora cultural) e Renato Forin Jr (jornalista)
"Ninguém pode descartar que o Carnaval é uma festa popular muito bem estabelecida na cidade e uma tradição cultural que deve ser preservada. Infelizmente, há pessoas que se excedem nas festas e acabam causando alguns problemas. Entretanto, o cancelamento é ruim. Pessoalmente, eu era contra a festa ser realizada no CSU porque trata-se de um espaço esportivo com campo, quadras e após qualquer festa ali há um dano muito grande pra população.
Na prática, uma semana antes o local começa a ser preparado para o evento e as atividades físicas que são desenvolvidas pela população sofrem com isso. Na semana seguinte também porque a sujeira deixada é muito grande e demanda tempo que impede que o espaço seja utilizado normalmente.
Além desses problemas, trata -se de uma área de ampla natureza e que acaba sendo prejudicada também. Entre outras opções, temos o estacionamento do Estádio do Café, que é muito grande, todo asfaltado, onde a festa poderia ser realizada sem causar nenhum prejuízo. Dentro do Autódromo tem aquele oval que poderia ser aproveitado de uma forma muito bacana também, pois é um lugar adaptado, fechado, cercado e com menos impacto de perturbação às pessoas, porque uma das queixas é o barulho.
Então eu penso que faltou um planejamento sobre os espaços existentes em Londrina e saber qual deles poderia ser realmente utilizado ou não para o Carnaval. É lamentável que cancele o Carnaval. Mas, por outro lado, eu fico até satisfeito que não será no CSU porque realmente ia perturbar muito a vizinhança ali e ia deixar um estrago muito grande naquelas praças esportivas."
Mestre Fernando Madureira - vereador PP
"Existe uma má vontade e preconceito de alguns setores da cidade sobre o Carnaval. Infelizmente, pois com incentivo o Carnaval acontece e poderia ser explorado pela sua tradição cultural, pela sua popularidade e também do ponto de vista econômico.
Não faz sentido acabar com isso. O Bloco Bafo Quente tem um baita trabalho de pesquisa musical e a quantidade de pessoas que o segue é uma referência de sua qualidade.
No passado, com inciativas como a do Bernardo Pelegrini em 2001, o Carnaval realizado no Autódromo na gestão do prefeito Nedson Michelleti foi crescendo em importância, organização, participação da comunidade e, graças à qualidade dos desfiles da escolas de samba, houve também um grande envolvimento da sociedade - com pessoas de toda a cidade de Londrina e região.
Foram oito anos de Carnaval popular de relevância na economia e no turismo da cidade e neste caso fica evidente o desprezo à potência que o Bloco Bafo Quente e outras referências culturais representam para cidade em razão de mentalidades tão tacanhas"
Luciano Bitencourt, jornalista e ex-secretário de Cultura de Londrina
"As festas carnavalescas acontecem em diversas partes do mundo e é uma das mais emblemáticas manifestações da cultura popular brasileira. Carnaval é alegria, é entretenimento, é cultura. E cultura é um direito dos cidadãos.
Londrina já foi referência na região norte do Paraná com os desfiles das escolas de samba, já teve os bailes nos clubes e também os blocos. É lamentável ver a cidade fora do calendário nacional dessa festa que é do povo e que acontece por todo o país
Em muitas cidades do Paraná o carnaval vem se fortalecendo. Curitiba mesmo tem mais de dez escolas de samba e tem um pré-carnaval de 5 semanas, com mais de 20 blocos que animam as ruas da capital há 25 anos. É triste ver Londrina na contramão desse movimento cultural.
Juliana Barbosa, professora da UFPR, pesquisadora de samba e carnaval e jurada do Estandarte de Ouro do Rio de Janeiro