Crianças necessitam de previsibilidade, a falta de um cronograma pode gerar ansiedade e irritação
Crianças necessitam de previsibilidade, a falta de um cronograma pode gerar ansiedade e irritação | Foto: iStock

O isolamento social trouxe um novo desafio para pais e mães. Administrar o tempo livre das crianças, tirá-las da frente da TV e do videogame e manter a atividades físicas e as tarefas escolas em dia fazem parte da rotina diária imposta pela pandemia de covid-19. Junta-se a isso a impossibilidade de realizar passeios, a proibição de visitas a shoppings e cinemas, além de outras restrições necessárias para garantir a saúde durante a quarentena, mas que acabam comprometendo a diversão dos filhos e, consequentemente, a tranquilidade de seus cuidadores.

Diante desta realidade, muitos pais começaram a ceder a alguns caprichos dos filhos. “É difícil dizer não o tempo todo. Não pode sair pra brincar com as amigas, não pode passear, não pode fazer nada. Para evitar birras e reclamações, acabo permitindo que minhas filhas fiquem um tempo maior vendo TV ou jogando videogame”, relata a dona de casa Adriana Souza, mãe de duas meninas, uma de 12 anos e outra de 3. “É uma luta na hora de manter a rotina de acordar cedo e fazer as tarefas da escola pelo celular. Para compensar o estresse, tenho deixado minha filha comer mais doces e ver mais desenhos na televisão”, diz a vendedora Luciana dos Santos, mãe de uma menina de 9 anos.

A psicóloga Liziane Leite Fernandes, coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Pitágoras, em Londrina, aconselha os pais a buscarem um equilíbrio entre as restrições e as permissões durante a quarentena. “É importante estabelecer uma nova rotina, pois as crianças precisam da previsibilidade e a falta de ter um cronograma definido pode acabar gerando ansiedade, irritabilidade e birras. É necessário também explicar a elas todas as atividades que podem e devem ser feitas em cada período do dia: pela manhã, à tarde e à noite. Deve-se ainda delimitar bem o tempo em que podem ficar vendo TV ou brincando e da liberdade de escolha do que fazer neste período livre”, orienta.

Apesar da necessidade de impor uma rotina às crianças, Liziane ressalta que é preciso flexibilizar algumas atividades durante a quarentena. “Não dá pra ser tão rígido e nem pode deixar virar um oba-oba. Para garantir esse meio-termo, os pais podem negociar com os filhos combinando, por exemplo, que eles não podem ficar o tempo todo na frente da tela da TV. É claro que isso vai gerar o tédio, pois a maioria das crianças só sabe se divertir com brinquedos eletrônicos. Nesse momento, os pais precisam ter consciência de que apesar de ser considerado uma emoção desagradável por gerar tristeza e raiva, o tédio deve ser visto como um trampolim importante para estimular a criatividade das crianças e uma oportunidade de estimulá-las a buscar novas brincadeiras”, aconselha.

ATIVIDADES FÍSICAS

A psicóloga aconselha os pais a investirem em atividades que ajudem no desenvolvimento físico-motor e também auxiliem no gasto energético das crianças. “Tudo vai depender da idade dos filhos. Entre as brincadeiras sugeridas estão a criação de circuitos dentro de casa com obstáculos criados com almofadas e copos plásticos, os quais as crianças devem percorrê-los engatinhando. Também é legal ensiná-las a criar seus próprios quebra-cabeças ou jogos de tabuleiro. Pode-se ainda pedir que tentem pintar num papel a reprodução do cenário de game que elas gostem ou simplesmente encher o balde de água e brinquedos e deixá-las se divertir no box do banheiro, no caso das crianças menores”, esclarece.

Liziane chama a atenção para a importância de durante as brincadeiras criar uma conexão com os filhos e de mantê-los informados sobre o momento crítico que o mundo está enfrentando por causa da pandemia. “As crianças ficam orgulhosas em poder mostrar aos pais o que conseguem fazer. A melhor forma de estimulá-las é retribuir a iniciativa delas com elogios e abraços de incentivo. A comunicação com os filhos é outro ponto que deve ser priorizado. Uma vez por semana, os pais devem comentar sobre o que está acontecendo em relação ao coronavírus. Isso deve ser feito sem assustá-las. Mas é necessário tomar cuidado na maneira como se fala, pois muitas vezes as crianças pequenas não absorvem a informação, mas sim o impacto emocional transmitidos pelos pais. Uma boa dica que pode ensiná-las a se proteger é pegar orégano ou outro tempero e espalhar pelas mãos delas mostrando na prática a importância de lavar bem as mãos para evitar a transmissão de vírus e bactérias e como eles podem agir no organismo”, conclui a psicóloga.

É importante estimular a criança a ter contato nas redes sociais com parentes e amigos
É importante estimular a criança a ter contato nas redes sociais com parentes e amigos | Foto: iStock

Confira dicas do Laboratório Inteligência de Vida para o isolamento

- Descanso: Crie hiatos entre as atividades, para não fazer nada por um breve instante. Lidar com o tédio é um aprendizado importante no auto-conhecimento, gestão das emoções e o desenvolvimento do potencial criativo.

- Autonomia: estimule atividades e depois deixe a criança brincar sozinha. Identifique junto com ela quais são as ações que são possíveis de serem realizadas sem a ajuda de um adulto (se vestir, escovar os dentes).

- Tarefas domésticas: Inclua as crianças na realização das atividades. Além de ajudar a desenvolver a autonomia, isso aumentará o senso de responsabilidade e favorece a manutenção dos vínculos familiares.

- Uso de telas: Nesse momento flexibilizar o uso das telas é algo necessário, mas é preciso estar atento ao tempo adequado de acordo com a idade da criança e evitar uso sobretudo nas horas que antecedem o sono.

- Sono: assegurando sonecas ao longo do dia (se forem bebês ou crianças pequenas), estabeleça rituais de sono pouca luminosidade, aparelhos eletrônicos fora do ambiente ou desligados.

- Rede social: Estimule que a criança mantenha algum tipo de contato com as crianças e adultos que faziam parte da sua vida antes da pandemia.

- Humanize-se: Mostrar que você também fica preocupado em alguns momentos, que sente saudade das pessoas que não pode ver e que experiência tristeza e alegria, assim como ela, fará com que ela não se sinta só e entenda que as oscilações são naturais nesse momento.