Antigamente menina brincava de boneca, menino brincava de carrinho. Da mesma maneira, os garotos gostavam de ler determinados livros, as garotas preferiam outros.
Os meninos, por exemplo, entravam de cabeça em ‘‘As Aventuras de Tom Sawyer’’ de Mark Twain (1835-1910) . As meninas, por outro lado, se divertiam com ‘‘Mulherzinhas’’ de Louisa May Alcott (1832-1888). É claro que sempre havia algum tipo de troca, um brinquedo por outro, um livro por outro.
A preferências das meninas por ‘‘Mulherzinhas’’ não era sem motivo. Numa época em que não havia televisão, o livro contava a história de quatro irmãs – Jo, Meg, Beth e Amy – na intimidade do lar. Com idades entre 8 e 15 anos, cada uma com personalidade diferente, vivem as dúvidas e dificuldades do crescimento: o processo de transformação de menina em moça (ou em mulher).
Clássico da literatura norte-americana, ‘‘Mulherzinhas’’ foi publicado originalmente 130 anos atrás, em 1868. De lá para cá, recebeu infinitas edições e quatro adaptações para o cinema. Embora o mundo tenha mudado bastante nesse decorrer de tempo, o romance ainda preserva elementos que se comunicam com o coração de jovens leitores.
Uma prova disso está numa nova edição de ‘‘Mulherzinhas’’ que acaba de ser publicada pela Editora Melhoramentos voltada ao público infanto-juvenil. Além de ilustrações e iconografia de época, a obra oferece informações sobre os hábitos e costumes da época e do local em que a história se passa.
Louisa May Alcott conta a história das quatro irmãs vivendo com a mãe numa união ideal. Vivem um difícil período, além do pai ausente combatendo na guerra, sofrem com as dificuldades econômicas. Mesmo assim, a relação familiar pautada em sólidos princípios morais se revela maior que qualquer adversidade.
Jo, Meg, Beth e Amy passam o tempo bordando e jogando conversa fora. Todo noite se reúnem para conversaram sobre os acontecimentos do dia e lerem histórias em voz alta. Cada uma vive sua experiência individual, da qual sempre chegará a um aprendizado que será dividido de maneira confessional com a família. A intimidade feminina é apresentada de modo esclarecedor.
‘‘Mulherzinhas’’ é uma espécie de novela de uma época sem televisão. Revela que o processo de transformação de meninas em moças sofreu grandes alterações nos últimos 130 anos, mas a essência continua a mesma.
Mulherzinhas – De Louise May Alcott, Editora Melhoramentos (telefone 11 3874-0900), ilustrações de Jame’s Prunier, comentários de Adrien Lherm, tradução de Marcos Bagno e Maria Alice Araripe de Sampaio Doria, 290 páginas, R$ 46,40.