Você pode assistir “CODA – No Ritmo do Coração” e instantaneamente reconhecer todos os truques a ponto de quase adivinhar muito do que vai acontecer no filme inteiro.

É fórmula comprovada que, com alterações específicas, funciona há décadas. Talvez mais. Uma "maioridade" que coloca a adolescente diante de desejos pessoais e obrigações familiares, aquele momento em que tornar-se independente dos pais e irmãos pode ser mais complicado do que deveria.

Pode-se estar atento à boa parte da movimentação em cada um dos 111 minutos que dura o segundo filme da diretora Siân Heder, mas o que não se pode evitar é se emocionar e deixar a pequena mas importante odisséia pessoal da protagonista comovê-lo... até as lágrimas.

Remake da comédia francesa “A Familia Bellier” (2014), este filme, primeiramente celebrado no Sundance Film Festival de 2021 (Prêmio do Público, Grande Prêmio do Júri e Prêmio de Melhor Diretor, além de ter sido vendido para o streaming AppleTV+ pelo valor recorde de 25 milhões de dólares), conta a história da família Rossi, formada por mãe, pai e dois filhos adolescentes (Leo, o mais velho, e Ruby, 17) que moram em uma pequena cidade litorânea de Massachusetts e se dedicam ao pescado que depois é vendido no mercado local.

A peculiaridade dos Rossi é que, com exceção de Ruby, os outros três são surdos. E ela, de alguma forma, é a unica conexão deles com grande parte do mundo exterior, especialmente no local de trabalho. Mas ela tem outros planos.

Os Rossis são uma família muito particular também por outras razões. Não só eles se dão muito bem e se divertem – os pais, Jackie (Marlee Matlin) e Frank (Troy Kotsur), não param de fazer sexo o tempo todo, deixando Ruby (Emilia Jones, que faz mágica com a linguagem de sinais) desconfortável. A casa, apesar de caótica, é uma inspiradora cabana onde, por trás do aparente silêncio da linguagem de sinais (40% do filme é falado assim, e legendado), há um mix quase permanente de afeto e humor, além de um bom número de piadas às vezes aparentemente grosseiras, como as expressadas com a linguagem de sinais pelo pai, Frank – merecido o Oscar de coadjuvante a Troy Kotzur, lembrando muito na aparência o roqueiro Frank Zappa.

Possíveis exageros são compensados pela afinação e graça do elenco, o que muito contribui para dosar na medida certa as diferentes arestas failiares, comerciais, românticas e artísticas de trama. Como se alguém abrisse o cofre de segredos da melhor fórmula e soubesse como aplicar os diferentes elementos nas doses corretas.

Como fez a roteirista e diretoras Siân Heder.

Mas com certeza este Oscar deve muito à jovem atriz britânica Emilia Jones, coração e alma de uma comédia que, embora não entre para a galeria da imortalidade cinematográfica, é parte importante do espectro daquela vertente “feel good”, aquelas histórias que dosam na medida o entretenimento e a emoção. Não esquecendo o aspecto social da inclusão.

O filme exibido em salas de Londrina no final de setembro de 2021, ficando em exibição apenas uma semana. Agora está somente disponivel na Amazon Prime.

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