Brasília - O Dia do Cinema Brasileiro é comemorado nesta quinta-feira (19), data que marca o primeiro registro cinematográfico em território nacional. Em 2025, o dia ganhou ainda mais destaque com a conquista do primeiro Oscar pelo Brasil, graças ao longa-metragem Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles. Mas, enquanto o país celebra sua visibilidade internacional, a CNM (Confederação Nacional de Municípios) alerta para uma realidade incômoda: a distribuição desigual das salas de cinema em território nacional.

Isso porque, o cinema, uma das formas mais populares de expressão artística, ainda é inacessível para milhões de brasileiros. Dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine) mostram que a concentração é evidente: os complexos, isto é, estabelecimentos com duas ou mais salas de cinema, se acumulam nas regiões Sudeste e Sul, deixando vastas áreas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste com cobertura mínima ou inexistente.

O Brasil conta com mais de 870 complexos de cinema, totalizando 3.500 salas e 623 mil assentos. No entanto, a distribuição dessas estruturas revela uma geografia marcada por profundas desigualdades. O Sudeste representa quase 50% da oferta nacional. Em contrapartida, o Norte possui apenas 54. São Paulo, sozinho, soma 1.053 salas, sendo 386 só na capital. Já o Acre, por exemplo, conta com apenas seis salas, todas em Rio Branco, para mais de 830 mil habitantes.

Em 11 dos 26 Estados, há mais salas concentradas nas capitais do que no restante do território estadual. O Ceará, por exemplo, tem 54 das 102 salas em sua capital Fortaleza; no Mato Grosso do Sul, 23 das 34 estão em Campo Grande. A realidade se repete em diversas outras localidades, evidenciando o abismo entre grandes centros urbanos e o interior. Municípios com perfis semelhantes apresentam contrastes alarmantes. Enquanto Uberaba (MG) tem 12 salas, Belford Roxo (RJ), com população e arrecadação comparáveis, não possui nenhuma. São Caetano do Sul (SP) tem sete salas para cerca de 165 mil habitantes e Abaetetuba (PA), com população similar, não tem nenhuma. Maracanaú (CE), com 235 mil moradores, tem apenas seis salas, ao passo que São José (SC), com população semelhante, possui 22.

Essa desigualdade vai além do acesso físico: impõe barreiras econômicas, sociais e simbólicas. O custo do deslocamento até centros urbanos, a ausência de representatividade cultural local e a exclusão do direito à fruição artística afetam diretamente a cidadania cultural de milhões de pessoas.

Outro desafio está na programação. Mesmo onde há salas, predominam os grandes lançamentos internacionais, especialmente blockbusters hollywoodianos. Produções independentes, regionais ou com temáticas sociais enfrentam dificuldades para encontrar espaço. A exibição em sua maioria atrelada a shopping centers também limita o alcance social do cinema. Desde 2001, a “cota de tela” exige que exibidores destinem um número mínimo de sessões a filmes nacionais. Essa política tem sido crucial para garantir visibilidade à produção brasileira e promover a diversidade cultural. Contudo, onde não há cinemas, essa política simplesmente não surte efeito.

Política Nacional Aldir Blanc

A melhoria desse quadro exige ações articuladas. Uma possibilidade real é a utilização dos recursos da Política Nacional Aldir Blanc, que prevê repasses continuados até 2029, somando R$ 7,5 bilhões que podem ser utilizados não apenas para a modernização, mas para a construção de cinemas municipais. Alternativas como cinemas itinerantes, uso de espaços culturais multifuncionais, como cineteatros, e parcerias com escolas e bibliotecas são caminhos viáveis para levar sessões a pequenos Municípios. O incentivo à criação de salas regionais, com preços acessíveis e programação diversa, também é fundamental.

A CNM reforça seu papel na orientação aos Municípios, atuando de forma estratégica na defesa da descentralização do acesso à cultura e no fortalecimento das políticas públicas voltadas ao audiovisual. Por meio de apoio técnico aos gestores municipais, articulação com o Congresso Nacional e da interlocução com o Ministério da Cultura, a Entidade busca garantir que todos os brasileiros, independentemente de onde vivam, possam ter acesso a produções cinematográficas internacionais e, principalmente, nacionais. Para a CNM, a cultura é um direito fundamental e o cinema, como ferramenta de identidade, memória e inclusão, deve estar ao alcance de todos. Democratizar o acesso à sétima arte significa promover a justiça cultural, fortalecendo vínculos comunitários e construir um Brasil mais plural e representativo. (Com informações da Confederação Nacional dos Municípios)

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