Deixando de rodeios e preâmbulos, e direto ao que mais interessa aqui: a narrativa de ''A Lenda do Tesouro Perdido'' (veja a programação de cinema nesta página) não oferece um segundo sequer de plausibilidade. Portanto, este filme de aventuras, dirigido por Jon Turteltaub se revela apenas um divertimento de férias, desde que, bem entendido, o espectador se abandone ao jogo proposto.
Jogo. Esta é uma idéia recorrente ao longo dos 131 minutos. Preste atenção na proposta que o roteiro utiliza para envolver a platéia. É como se você pegasse um desses muitos jogos que as crianças ainda (?) costumam ganhar no Natal, desses com tabuleiro, de caça ao tesouro com obstáculos, perigos, detalhes fantásticos, para até seis participantes, dados, etc. Ou uma dessas vídeo-engenhocas de última geração. Ou quem sabe um RPG. Enfim, coisa de cinema mesmo. E é isso. Mas não apenas isso.
Nicolas Cage, após encarar dois roteiros mais complexos (''Adaptação'', ''Os Vigaristas''), reencontra o produtor Jerry Bruckheimer, o ''senhor adrenalina'' que o transformou em astro de filmes de ação, um novo duro de matar como foi visto em ''The Rock'' e ''Con Air''. Cage é um homem que consagra sua vida a procurar um determinado tesouro. Como fizeram todos os homens de sua família ao longo de seis gerações, Benjamin Franklin (sim, o próprio) Gates pensa a esta altura que já recolheu indícios suficientes para descobrir o tesouro dos Cavaleiros Templários, uma fortuna tão mítica como de valor inestimável e que estaria em algum lugar da América do Norte.
Como as pistas estão todas inscritas no verso da Declaração de Independência dos EUA (muito providencialmente...), Benjamin usa de muita astúcia para burlar a vigilância da jovem e charmosa Abigail Chase (Diane Kruger, a Helena de ''Tróia''), que cuida dos arquivos nacionais. As coisas ficam mais complicadas - e mais aceleradas - quando o herói enfrenta o tempo que corre e uma organização liderada pelo ex-parceiro e agora traidor Ian
Howe (Sean Bean). Ainda no rastro de Benjamin está o FBI (Harvey Keitel). Jon Voight é o pai desiludido, e Christopher Plummer é o avô enrugado e sábio que transmite ao caçador de tesouros a paixão pela História e pela Justiça.
Entre uma e outra pipoca, pensa-se com frequência em outro ídolo de matinês dos anos 1980, o intrépido Indiana Jones. A diferença é que neste ''A Lenda do Tesouro Perdido'' o argumento é pretexto para desfraldar alguns símbolos da história dos Estados Unidos. Neste sentido, assim como quem não quer nada, o filme é evidentemente pós 11 de setembro, tributário do ''esforço ideológico'' a que tão didaticamente se referiu Michael Moore.