Cinema brasileiro marca presença nos grandes festivais
A premiada estreia mundial do longa “Ainda Estou Aqui” em Veneza é prova da permanente presença de nosso cinema no circuito europeu
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sábado, 14 de setembro de 2024
A premiada estreia mundial do longa “Ainda Estou Aqui” em Veneza é prova da permanente presença de nosso cinema no circuito europeu
Carlos Eduardo Lourenço Jorge/ Especial para a FOLHA
Somos assíduos fregueses das mais famosas mostras internacionais de cinema do mundo desde meados do século passado, nenhuma dúvida. Cannes, Veneza, Berlim. A santíssima trindade das imagens. Locarno, Sundance, todas as seleções mais tentadoras e respeitáveis do universo cinema já abriram as portas para abrigar nossos realizadores.
E não é de hoje: em 1962, Cannes garantiu nossa única e dourada Palma de Ouro naquele concurso que é a olimpíada do cinema: “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte. E depois houve a seleção honrosa de outros filmes, dirigidos por notáveis como Glauber Rocha, Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos, Arnaldo Jabor, Hector Babenco, Ruy Guerra.
Mais recentemente, em 2019, os prêmios em Cannes a “Bacurau”, de Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (Prêmio Especial do Juri), e “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, de Karim Aïnouz (melhor filme da mostra Un Certain Regard), são a prova mais visível da presença marcante do cinema brasileiro nos principais festivais do mundo naquele ano: Munique, Locarno, Roterdã, Berlim, Sundance e vários outros.
Em termos de reconhecimento internacional, 2019 já pode ser considerado o melhor ano da produção brasileira desde os tempos do Cinema Novo na década de sessenta, contrastando com a realidade interna do País – a extinção do Ministério da Cultura, a crise fabricada na Ancine, a censura aberta e recorrente em diversas instituições públicas e a cruzada pessoal do ex-presidente Bolsonaro contra o cinema nacional, gerando uma situação de paralisia e incerteza que pretendia matar à mingua um circuito de formação, produção, distribuição e diálogo que foi gradualmente construído e que então começava a produzir seus primeiros frutos notáveis. Mas os bons ventos politicos voltaram a soprar, afastando o risco de aniquilação que ameaçava a frágil vitalidade. de aniquilação.
'AINDA ESTOU AQUI'
Agora foi a vez de Veneza avalizar mais um produto brasileiro desta safra 2024. E com um tema e um título com tudo a ver: o prêmio de migliore sceneggiatura/melhor roteiro foi para “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles. Os premiadosr roteiristas Murilo Hauser e Heitor Lorega agradeceram ao diretor no discurso e dedicaram o prêmio aos personagens e às figuras emblemáticas que eles representam: "Não é só a história de uma família, mas do Brasil. Viva o cinema brasileiro!" destacou Lorega.
Interpretado por Fernanda Torres e Selton Mello, a produção foi muito aplaudida após a exibição oficial em Veneza.
Baseada na biografia de Marcelo Rubens Paiva, a história se passa no Rio de Janeiro, na década de 1970, em plena ditadura militar.
O enredo foca na família Paiva, composta por Rubens (Selton Mello), Eunice (Fernanda Torres) e seus cinco filhos, que vivem em uma casa alugada no bairro carioca do Leblon à praia.
Quando o marido é preso e desaparece, Eunice se vê obrigada a reinventar o rumo e o destino de sua família.
O filme, que acaba de ser bem recebido também no Festival de Toronto, ainda não tem data oficial de lançamento no Brasil; vai estar na mostra de São Paulo e no Festival do Rio, antes do fim do ano.
A mídia especializada da Itália e dos Estados Unidos dedicou amplos espaços favoráveis ao filme de Walter Salles. E tem boas chances de ser o indicado brasileiro no Oscar no dia 2 de março de 2025.