Com a singeleza multicolorida de uma bolha de sabão, somos levados pelo encantamento e dignidade da história dos ''Doutores da Alegria o Filme'' que passa a ser exibida em Londrina, a partir de hoje, no Cine Com-Tour. Em um trabalho premiado no último Festival de Gramado Prêmio Especial do Júri e Melhor Documentário, além de ganhar prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinema Brasileiro de Nova York , a cineasta Mara Mourão nos transporta para o dia-a-dia de um trabalho corajoso e ousado que tem a nobre tarefa de resgatar o sorriso de crianças internadas em hospitais.
Sem perder o foco e sem abusar das situações dramáticas, Mara consegue causar emoção no espectador pelo valor de celebrar a vida e a essência boa que está dentro de cada ser humano. É inevitável não se emocionar e desejar que todos os profissionais de saúde possam assistir ao filme para o desenvolvimento de uma medicina mais humanizada. Também vale ressaltar a trilha sonora de Arrigo Barnabé, especialmente criada para o filme. Com marcas indeléveis de Nino Rota, a música é mágica e contribui para imergir ainda mais o espectador nesse universo tão delicado.
Tendo como narrador principal Wellington Nogueira fundador da organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua desde de 1991 , o documentário traz também depoimentos originais de alguns dos 37 palhaços que atualmente compõem a trupe que atende, ao todo, 12 hospitais de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife. São cerca de 50 mil visitas por ano. Para gravar o filme, câmeras foram cobertas por bichos de pelúcia e os operadores vestidos como palhaços.
Com um ritmo ágil, o filme mostra diversas visitas realizadas pelo grupo intercaladas pelos depoimentos dos palhaços, familiares das crianças e médicos. O riso é contagiante e as palhaçadas são de muita qualidade. E quem pensa que vida de palhaço é fácil está realmente mal informado. Assistindo ao filme, percebemos o quanto o trabalho é exigente e requer um alto nível de profissionalismo para conseguir uma boa comunicação com as crianças fragilizadas pela situação em que se encontram.
Como explica um dos integrantes do grupo, o objetivo não é usar o riso como subterfúgio para fingir que a dor não existe. Pelo contrário. A idéia é tornar possível o reconhecimento dos diversos sentimentos que os seres humanos enfrentam e integrar à vida mesmo os mais dolorosos. E se a essência está intacta, apesar do sofrimento físico, a criança responde às brincadeiras com brilho no olhar e um sorriso iluminado e cheio de esperança.
A idéia de criar os Doutores da Alegria surgiu depois que Nogueira tomou contato, em 1988, com o trabalho desenvolvido em hospitais pelo palhaço americano Michael Christensen, dois anos antes, que era diretor da Big Apple Circus de Nova York e que mais tarde fundaria a Clown Care Unit grupo de artistas especialmente treinados para levar alegria a crianças internadas em hospitais de Nova York. Na época, Nogueira sonhava em ser uma estrela da Broadway e não imaginava iria brilhar em salas de hospitais.
Indicado para traumas ligados à hospitalização infantil como perda de controle sobre o corpo e a vida; atitudes negativas em relação às doenças e à recuperação, o trabalho dos ''especialistas em besteirol'', como gostam de se autodenominar, não tem contra-indicação. Como eles mesmos reforçam: ''A besteirologia deve ser aplicada diariamente até que o paciente não saiba mais como ficar triste. É remédio para a vida toda'', salientam.

Serviço:
- Exibição do documentário ''Doutores da Alegria'', de Mara Mourão. Cine Com-Tour (Shopping Com-Tour), às 20h30, diariamente. Ingressos: R$ 8,00 (calouro da UEL acompanhado de um veterano paga meia-entrada). Classificação livre.