Cineasta ucraniano exibe em Cannes a falta de sentido da guerra
Documentário "A Invasão" é uma crônica da violência em uma Ucrânia mergulhada no conflito à mais de dois anos
PUBLICAÇÃO
domingo, 19 de maio de 2024
Documentário "A Invasão" é uma crônica da violência em uma Ucrânia mergulhada no conflito à mais de dois anos
Daphné Rousseau Agência France Presse
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Ukrainian director Sergei Loznitsa (R) and Russian producer Maria Choustova pose during a photocall for the film "L'Invasion" (The Invasion) at the 77th edition of the Cannes Film Festival in Cannes, southern France, on May 16, 2024.
Sameer Al-Doumy / AFP](https://www.folhadelondrina.com.br/img/Artigo-Destaque/3250000/400x0/Cineasta-ucraniano-exibe-em-Cannes-a-falta-de-sent0325081000202405191941-14.webp?fallback=https%3A%2F%2Fwww.folhadelondrina.com.br%2Fimg%2FArtigo-Destaque%2F3250000%2FCineasta-ucraniano-exibe-em-Cannes-a-falta-de-sent0325081000202405191941.jpg%3Fxid%3D6071546&xid=6071546)
Cannes, França - A guerra tem apenas uma definição, "uma doença psiquiátrica", diz o diretor ucraniano Sergei Loznitsa à AFP, que apresenta seu documentário "A Invasão" no Festival de Cinema de Cannes.
Apresentado fora de competição, o filme é uma crônica "compassiva" da violência em uma Ucrânia mergulhada no conflito há mais de dois anos. Essa anomalia, que substitui a vida cotidiana até se confundir com ela, é dissecada por Loznitsa através de uma dezena de cenas, cada uma concebida como um filme ou uma reportagem "em si mesma".
Em um supermercado, a câmera captura durante 15 minutos a conversa de dois soldados que comparam seus salários, como qualquer conversa entre colegas junto à máquina de café. Na prefeitura, os casais de noivos se alinham com vestidos brancos e uniformes cor de cáqui, na esperança de derramar apenas lágrimas de "alegria" e não por temer uma futura tragédia.
Em Dnipro, uma grande cidade do centro-leste da Ucrânia, um pedaço de dormitório pendura no vazio, onde um míssil russo havia matado 39 pessoas algumas horas antes.
Este filme de dimensão panorâmica é uma "ode à Ucrânia", destaca o cineasta, que explica tê-lo iniciado em fevereiro de 2022 "por um sentimento de dever".
Mas o cinema de Loznitsa, longe de ser propaganda e se distinguindo notavelmente do resto da produção cultural ucraniana, recusa-se a cair no patriotismo cego. Pelo contrário, até mesmo zomba dele.
O diretor foi expulso da Academia de Cinema Ucraniana em 2022 por se posicionar contra um boicote generalizado aos cineastas russos. Neste ponto, ele não mudou de opinião.
TRÍPTICO
Um episódio particularmente "doloroso" para o diretor mostra o processo de destruição de livros em russo levados pelos habitantes de Kiev a uma livraria local. Montanhas de obras de Dostoiévski, Tolstói passam em primeiro plano pela fita de uma trituradora, antes de acabarem em sacos de confete.
"A ação de destruir é insuportável. Sou bibliófilo. Cada livro é uma ideia. Um livro destruído é uma ideia destruída", afirma Loznitsa. "Mas isso é o que está acontecendo", acrescenta.
O diretor filmou cada episódio com uma equipe reduzida, espalhada por todo o país com a instrução de deixar a câmera ligada até passar despercebida, sem qualquer interação com os personagens, apenas deixando-os evoluir diante da lente. "Não gosto de interferir no meu material, não quero corromper nada", explica.
Loznitsa usou o mesmo formato para filmar "Maidan" em 2014, que agora considera a primeira parte de um "tríptico" sobre seu país. O filme não tem narração, nem entrevistas, nem música.
O cineasta de 59 anos, com raízes bielorrussas e residente na Europa Ocidental desde 2001, é um rosto comum em Cannes. Seu longa-metragem "Minha Felicidade" foi o primeiro filme ucraniano a ser apresentado no festival francês em 2010. Seguiram-se, entre outros, "Donbass" (2018), "Babi Yar. Contexto" (2021) e "Sobre a História Natural da Destruição" (2022).
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