Em 12 de agosto, celebra-se o Dia Nacional das Artes. Ironicamente, nesta mesma data os londrinenses estão perdendo o único espaço de exibição de filmes de arte na cidade. Após 15 anos oferecendo um menu variado de produções cinematográficas alternativas ao circuito comercial de blockbusters que domina a programação das salas convencionais de cinema o Cine Com-Tour UEL encerra suas atividades nesta quarta-feira. O motivo do fechamento foi o alto custo de aluguel e condomínio do espaço e a crise financeira gerada pela pandemia.

Depois de 15 anos de atividades, o Cine Com-Tour fecha as portas, mais uma perda cultural para a cidade
Depois de 15 anos de atividades, o Cine Com-Tour fecha as portas, mais uma perda cultural para a cidade | Foto: Isaac Fontana/ Frame Photo/ Folhapress

Segundo o vice-reitor da UEL, Décio Sabbatini, o contrato de aluguel do imóvel localizado no shopping Com-Tour, onde funciona o cinema, foi encerrado devido à queda de receita da instituição. “A UEL [Universidade Estadual de Londrina] vive uma crise financeira que acabou se agravando com a pandemia. Tivemos uma redução de 40% no volume de receitas geradas pelo Hospital Veterinário, Laboratório de Línguas e pelo Restaurante Universitário. Por conta disso, recebemos uma orientação do Governo do Estado para negociarmos o valor de todos os alugueis pagos pela universidade. Apesar de conseguimos baixar o valor do aluguel da sala não tivemos êxito no pedido de redução do condomínio. Então, infelizmente, tivemos que optar pela entrega do imóvel”, afirmou ao destacar que a intenção da UEL é manter o projeto de exibição de filmes alternativos na cidade futuramente.

Após a entrega da sala, os equipamentos do Cine Com-Tour UEL serão levados para o Teatro Ouro Verde, onde devem permanecer até que seja encontrado um novo espaço para a exibição de filmes de arte. “Vamos tentar encontrar um novo espaço que possa abrigar esse projeto, pois no Teatro Ouro Verde não será possível devido à agenda intensa que abriga festivais e vários outros eventos. Esperamos resolver isso tudo durante a pandemia para que assim que for liberado o acesso ao cinema os londrinenses possam continuar assistindo o melhor do cinema mundial”, enfatizou Maria Helena Ribeiro Bueno, diretora da Casa de Cultura da UEL.

PRIMEIRA SALA INSTALADA EM SHOPPING

O Cine Com-Tour fica na memória da cidade como o espaço que ofereceu uma programação alternativa de excelente qualidade
O Cine Com-Tour fica na memória da cidade como o espaço que ofereceu uma programação alternativa de excelente qualidade | Foto: Isaac Fontana/ Frame Photo/ Folhapress

Chefe da Divisão de Cinema e Vídeo da instituição, Carlos Eduardo Lourenço Jorge lamentou o fechamento do Cine Com-Tour UEL. “Esta foi a primeira sala de cinema do Brasil instalada em um shopping. Durante os 15 anos em que a UEL administrou a sala, conquistamos um público pequeno, mas muito fiel. Neste período exibimos filmes europeus, asiáticos, australianos e de vários outros idiomas, todos trazendo um diferencial reflexivo em relação aos filmes do circuito comercial pautado apenas no entretenimento. É uma grande perda para o público londrinense”, destacou.

Inaugurado em 1974, o Cine Com-Tour exibiu filmes do circuito comercial até meados dos anos 1980, período em que foi administrado por uma empresa de cinema de Botucatu (SP). Após ficar fechado por algum tempo, voltou a funcionar atendendo a eventos sociais. Em 2005, passou a ser administrado pela UEL. “Nestes 15 anos o tivemos uma média semanal de público em torno de cem pessoas. O filme mais concorrido que exibimos foi “Parasita”, que atraiu mais de mil pessoas em duas semanas de exibição. Outro grande sucesso foi o documentário “Uma Verdade Inconveniente”, que chegou a lotar três sessões diárias 2006”, revelou Erasmo Cambuí, servidor responsável pela administração do espaço.

Fechado para o público desde início da quarentena, no mês de março deste ano, o Cine Com-Tour UEL exibirá sua última sessão na noite desta quarta-feira (12). “Exibiremos o filme 'Aqueles que Ficaram' para três casais convidados que frequentaram a sala assiduamente nestes últimos 15 anos. Eles representarão o público fiel que o cinema conquistou”, ressalta Cambuí.