Cidade com tradição em abrigar grandes festivais, Londrina ganha neste ano mais um evento que promete agitar o cenário artístico local. Trata-se do Ciclo – Circuito de Artes e Conceitos de Londrina, que tem o apoio do Grupo Folha de Comunicação e surge em meio à pandemia unindo teatro, dança, música e o audiovisual. A programação de estreia conta com encontros virtuais de coletivos artísticos londrinenses com grupos de outros países, mostra de espetáculos teatrais nacionais e internacionais e a produção de um longa-metragem e várias outras atrações.

“A ideia é que o Ciclo promova o diálogo entre várias linguagens artística o tempo todo”, afirma Maria Fernanda Coelho, uma das idealizadoras do projeto criado em parceria com Patricia Braga Alves. Ela explica que na primeira etapa, que acontece entre agosto e novembro, serão realizados encontros virtuais da companhia italiana Teatro Potlach com grupos artísticos de Londrina. “Eles trocarão experiências com integrantes de coletivos formados por indígenas, moradores de rua e comunidade negra”, detalha.

Imagem em instalação do Teatro Potlach: edifícios do centro de Londrina também terão projeções mostrando a história da primeira edição do festival
Imagem em instalação do Teatro Potlach: edifícios do centro de Londrina também terão projeções mostrando a história da primeira edição do festival | Foto: Divulgação

Maria Fernanda informa que, em novembro, será realizado o projeto “Vitrine”, que transformará paredes de edifícios da cidade em grandes telas, onde serão projetadas diariamente imagens de artistas e grupos que ao longo dos anos contribuíram com a produção cultural londrinense. A agenda do festival tem continuidade em dezembro, quando acontecerão mostra de espetáculos teatrais e uma feira cultural e gastronômica.

“Nossa intenção é realizar uma grande programação para celebrar os 85 anos de Londrina. Para isso, vamos reunir na semana do aniversário da cidade quatro grupos de teatro da região, além de quatro companhias nacionais e outras quatro latino-americanas", revela Maria Fernanda ao destacar que caso pandemia já esteja sob controle, as apresentações serão realizadas na Concha Acústica. “Se ainda estivermos em quarentena, os espetáculos serão transmitidos virtualmente”, esclarece.

Idealizado antes da pandemia, o festival passou por algumas adaptações para que possa ser realizado mesmo a quarentena se prolongue até o final deste ano. “O Ciclo começou a ser gestado no final do ano passado. Inscrevemos o projeto na Lei Rouanet e conseguimos aprová-lo na íntegra. A ideia era realizar todas as atividades de forma presencial, mas daí surgiu a pandemia e com ela a reinvenção do projeto. Percebemos que o festival tem uma ligação muito forte com o audiovisual. Então resolvemos documentar todas as atividades que acontecerão durante o Ciclo neste ano e as filmagens darão origem a um longa-metragem que será lançado em 2021”, explica Maria Fernanda.

'TERRA VERMELHA' NO PALCO E NA TELA

Obra de Domingos Pellegrini que conta a história do nascimento de Londrina, o livro “Terra Vermelha” ganhará uma adaptação teatral dirigida por Pino Di Buduo, diretor italiano do Teatro Potlach. A obra também servirá de fio condutor ou pano de fundo para um filme documental que contará a história da primeira edição do festival Ciclo por meio de imagens registradas durante todas as atividades que integram a programação do evento. O longa-metragem que tem lançamento previsto para 2021 será roteirizado e dirigido pela cineasta londrinense Alessandra Pajola.

Pino Di Buduo: “Estou interessado em criar um projeto onde a cidade se representa, mostrando o relacionamento do artista com o lugar onde nasceu”
Pino Di Buduo: “Estou interessado em criar um projeto onde a cidade se representa, mostrando o relacionamento do artista com o lugar onde nasceu” | Foto: Divulgação

A montagem teatral de “Terra Vermelha” será encenada por artistas e coletivos de Londrina ocupando espaços urbanos históricos do centro da cidade. “O projeto das Cidades Invisíveis, no qual se inspira esse que vamos criar, significa encontrar os artistas da cidade; aqueles mais conhecidos, aqueles menos e aqueles não reconhecidos. Por isso estou muito interessado, me permite descobrir a cidade e os artistas que a habitam e com eles, criar um projeto onde a cidade se representa e o relacionamento do artista com o lugar onde nasceu, onde mora”, afirma o diretor italiano Pino Di Buduo.

Domingos Pellegrini:"Temas hoje focados intensamente, como as etnias, em 'Terra Vermelha' são focados evolutivamente"
Domingos Pellegrini:"Temas hoje focados intensamente, como as etnias, em 'Terra Vermelha' são focados evolutivamente" | Foto: Gustavo Carneiro/ Arquivo Folha 13-12-2018

Em relação ao filme que será produzido, o escritor Domingos Pellegrini espera que o longa-metragem resulte num trabalho digno e bonito, como "Terra Vermelha" merece. “Esse romance evidencia a especialidade de nossa colonização e a variedade de nossa civilização. Temas hoje focados intensamente, como as etnias, em 'Terra Vermelha' são focados evolutivamente, mostrando a convivência étnica de que Londrina foi e é exemplo”, ressalta.

“Espero que contribua para valorizar mais e se explorar mais, cultural e economicamente, o patrimônio histórico de Londrina, com sua colonização, a cafeicultura e a transformação urbana tão rara senão única no mundo, passando de povoado a metrópole em meio século. E que também realce a importância de nossa formação democrática e multi-racial", salienta o escritor sobre as expectativas em torno do filme.

Uma releitura das tradicionais festas das nações também integra a programação do festival Ciclo. “Em dezembro, se o isolamento social já tiver acabado, promoveremos o “Gran Bazar”, que será um verdadeiro palco a céu para mostrar as tradições culturais e gastronômicas de várias etnias que ajudaram a construir Londrina e outras que chegaram mais recentemente, como é o caso dos indianos, e os recém-chegados bolivianos, haitianos e senegaleses”, detalha Maria Fernanda.

Maria Fernanda Coelho e Patricia Braga Alves são as idealizadoras do CICLO, festival que pretende promover o diálogo entre várias linguagens
Maria Fernanda Coelho e Patricia Braga Alves são as idealizadoras do CICLO, festival que pretende promover o diálogo entre várias linguagens | Foto: Divulgação