Depois de atrair a atenção de centenas de londrinenses com a projeção “Rever a Volta”, que coloriu a fachada do edifício Julio Fuganti, há quase um mês, o festival CICLO - Circuito de Artes e Conceitos de Londrina - chega ao seu momento mais importante. A programação, entre os dias 4 e 13 de dezembro, prevê um link entre espetáculos de tradicionais companhias de teatro da Europa e América Latina e produções de Londrina, além de promover entrevistas com produtores e artistas em um grande reencontro com a arte ancestral, completamente impactada pela pandemia da Covid-19. Todos os espetáculos serão transmitidos em um canal no Youtube e a abertura ficará por conta da atriz Julia Varley, com "O Sonho de Andersen" (2008), às 21h15 desta sexta-feira (4). Mais cedo, às 19h30, ela e Luciana Martuchelli, da Cia. YinsPiração, abordarão direto de Brasília (DF) os treze anos de residência de "A Arte Secreta do Ator", em entrevista com Eugenio Barba, diretor de uma companhia já conhecida na terra da dama do teatro brasileiro, Nitis Jacon, a Odin Teatret (Dinamarca).

Definido por suas idealizadoras como um “movimento”, uma “tribuna aberta à discussão, à alegria, à beleza e ao pensamento”, o CICLO é o resultado de um trabalho coletivo, porém protagonizado pela Palipalan Arte e Cultura. Nascido para os palcos em um formato multicultural, conforme o projeto aprovado no Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura), teve que se adaptar para não sair de cena, como fizeram milhões de artistas em 2020. De acordo com a equipe, as apresentações ficarão disponíveis por até 24 horas gratuitamente neste canal .

A cena visceral do Odin Teatret também está presente na mostra
A cena visceral do Odin Teatret também está presente na mostra | Foto: Thomas Bay/ Odin Teatret Archives

"Efeito mágico" do teatro, a quebra da quarta parede, quando o elenco abandona o palco e contracena com a plateia, desta vez, não estará à disposição dos diretores, por razões óbvias. Por outro lado, atores e atrizes não estão proibidos de "falar" diretamente com os espectadores, como fazia o personagem de Brad Pitt em "Clube da Luta" (1999). Apenas o que se pode prever nesta nova realidade é que as câmeras e os microfones, como em uma produção cinematográfica, serão os olhos e os ouvidos do público em casa.

Para a atriz e uma das idealizadoras do Festival, Maria Fernanda Coelho, a incorporação de novos elementos ao teatro representam o triunfo de artistas e produtores sobre a situação adversa. "Como é do caráter do artista ele se reinventa, ocupa os espaços que existem. O teatro não morre na pandemia, ele se fortalece de alguma maneira e quebra barreiras. Com o CICLO, vai ser possível todo mundo assistir ao Odin, o Workcenter, e o mundo todo vai poder assistir à produção local e nacional”, comemorou.

E que assim seja. Primeiros londrinenses a entrarem em cena, a Cia Funcart de Teatro apresentará "Um Norte Tão Velho" nesta segunda-feira, às 18h30. Em seguida, às 19h30, é a vez do grupo Clowns de Shakespeare (RN) com "Abrazos", espetáculo que antecede o destaque internacional da noite, o grupo guatemalteco Sotz`Il. Londrina voltará ao palco-plataforma digital nesta terça, às 18h30, com "O Homem de Costas", da cia Dramátika.

“A produção de Londrina é uma das coisas que justifica a existência do CICLO, porque sem essa produção não haveria sentido fazer um festival que apresenta espetáculos nacionais e internacionais”, lembrou Coelho.

O primeiro final de semana ainda contará com o espetáculo "Itsi Bitsi", com Ibem Nagel Rasmussen, marcado para as 20h30 deste sábado, e "Judith", com Roberta Carreri, às 21h45. Julia Varley retorna ao CICLO às 16h30 deste domingo, com "O Castelo de Holstebro", e o espetáculo "Orô de Otelo" fará uma homenagem ao ator e bailarino Augusto Omolù, morto no ano passado, às 17h10.

A programação completa, que inclui uma reunião entre a Workcenter of Jerzy Grotowski and Thomas Richards (Itália) e a Plenária de Mulheres Negras do Norte do Paraná, e a exibição de uma projeção fruto da parceria entre a FOLHA e o Ballet de Londrina, pode se acessada no site www.facebook.com/circuitoarteconceitolondrina.

Para a também idealizadora, Patrícia Braga Alves, o projeto propõe uma forma positiva de contágio pela arte, "abrindo janelas e possibilidades para quando essa tempestade passar". Resta saber o que o roteiro de 2021 reserva à segunda edição do CICLO e às grandes produções teatrais de Londrina depois de um ano longe dos palcos, mas dentro de casa.