Chico Santos e os 50 anos do curso de Artes Visuais da UEL
Exposição "Docficcionalidades" reúne obras do artista londrinense que realiza pesquisas de imersão poética
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 21 de janeiro de 2025
Exposição "Docficcionalidades" reúne obras do artista londrinense que realiza pesquisas de imersão poética
Walkiria Vieira

Como parte das comemorações dos 50 anos do curso de Artes Visuais – Licenciatura da Universidade Estadual de Londrina (UEL), o artista visual Chico Santos - www.chicosantos.org - foi convidado para a estreia das celebrações, ocupando um lugar de destaque.
A abertura da exposição será nesta quarta-feira (22), às 19h, na Galeria do Departamento de Artes Visuais - CECA - UEL e seguirá aberta até 28 de fevereiro.
Entre 2001 e 2007, Chico foi aluno do curso de Educação Artistica da UEL, atual curso de Artes Visuais - Licenciatura, e retorna, agora, com a exposição "Docficcionalidades" que reúne parte de sua investigação poética acerca das relações entre o urbano e o ambiental - e como melhor explica "entre nós e os espíritos da floresta".
"Era madrugada. O ar estava frio e úmido, resultado da proximidade com o resquício da Mata Atlântica ao redor da casa de madeira. Um lugar isolado, onde, por meses, eu era o único humano presente [...]". Este é o registro de um sonho de 2012, enquanto o artista morava isolado em um remanescente da Mata Atlântica por meses.
A imersão do artista e sua sensibilidade apurada trazem reflexões sobre a experiência. São poucas as palavras de Chico Santos, sua expressão é por meio das criações e o criador. "Selecionei trabalhos feitos desde 2016. São obras que interagem com a realidade, buscando sempre criar uma 'realidade mágica', a exemplo das máscaras que espalhei na Mata dos Godoys para criar o mito de um tribo protetora do local", explica.
Integram a exposição também fantasias que foram utilizadas em performances e um vídeo docuficcional de um dos trabalhos. Em relação ao cuidado com essas obras, o acondicionamento e todo o planejamento em torno de materias e conservação, Santos considera que essa tarefa esteja totalmente ligada ao trabalho. "Tenho a impressão que tudo é efêmero, então as obras tem marcas do tempo e do uso real. E isso para mim é parte da poesia do trabalho. A gente tenta conservar em sacos de vácuo e bem guardadas, mas as performances muitas vezes são em mata fechada e úmida. Assim, elas sempre voltam com marcas das ação", detalha.
Entre os trabalhos que estarão na galeria, há criações de 'Grilo da Caixa', 'Quando os dentes caem', 'Mitos' e 'Invasão, galho', que compõem o portifólio do artista.
Na página de Santos é possível ver um trecho de um vídeo sobre 'Grilo da Caixa', apresentado em 2023. Conforme as informações, a referência é um movimento social dos anos 1970 que, em plena ditadura militar, foi organizado para as pessoas manterem suas casas.
Junto com o coletivo Ciranda da Paz , foram criadas oficinas de máscaras e performances. Além disso, em parceria com a comunidade, foi criado o cortejo do "Equinócio", realizado nas ruas da favela que ocupa o mesmo local. As fantasias foram produzidas com fibras naturais e materiais etnobotânicos, ervas daninhas e flores.
LENDAS DO TIBAGI
Já 'Quando os Dentes Caem' de 2020, que integra a exposição e pode ser vista na íntegra no site, apresenta uma pesquisa na bacia do Rio Tibagi com as comunidades ribeirinhas afetadas pelo crescimento urbano, criando lendas a partir de histórias reais. A partir da pesquisa, foi produzido um pseudo documentário narrado em Kaingang por Tiago Pyn Tanh com depoimentos reais de antigos moradores locais. As intervenções e performances artísticas aconteceram em Primeiro de Maio, Ortigueira, Londrina, Telêmaco Borba e Guaraqueçaba, no litoral do Paraná.
Também foi seleciada a obra 'Mitos', de 2018, que aborda mitos paranaenses. Um deles é 'A Casa que Andou', história originária de Guaraqueçaba que aborda ocas que se moviam próximas à praia durante as marés cheias.
Segundo o trabalho do artífice, a situação foi registrada pelo botânico austríaco Alfons Staden em seus diários de viagem ao território colonial do Brasil. "Não está claro nenhum detalhe da história, uma vez que, preocupados com a catequização dos indígenas, os portugueses fizeram com que sua cultura caísse em ostracismo e a história se tornasse lenda", descreve.
"Contam que uma delas, justamente aquela que ficava mais próxima da água, teria se afastado da margem antes do início das obras no canal. Em decorrência disso a casa não precisou ser demolida, contudo, ninguém mais voltou a morar ali", completa o texto.
SERVIÇO:
50 Anos do Curso de Artes Visuais da UEL
Exposição "Docficcionalidades", de Chico Santos
Local: Galeria do Departamento de Artes Visuais - CECA - UEL
Quando: a partir desta quarta-feira (22) até 28 de fevereiro
Horário: das 9h ao meio dia e das 14 às 18h
Aberta ao público
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Organização
Professoras: Vanessa Tavares da Silva e Carla Juliana Galvão
Professor: Edson Vieira
Colaboradores externos: Fabio Alcover e Isabella Maria Píccolo.

